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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Comentários de 007 Quantum of Solace

O sucesso financeiro (e porque não dizer de crítica) da nova fase do James Bond interpretado por Daniel Craig é inquestionável, mas para quem cresceu acompanhando as aventuras de 007 com os clássicos de Sean Connery, Roger Moore e cia, ou os mais recentes com Pierce Brosnan, fica sempre um sentimento de estranheza no ar. O Bond de hoje é mais humano, denso e coerente com a realidade que vivemos (Quantum of Solace faz até uma sutil referência à crise econômica). Além disso, ele reflete com maestria o estilo dos filmes de ação que vem conquistando o público desde a chegada de Jason Bourne às telas em 2002. Somando esses fatores, é mais do que justo dizer que essa revitalização/reinvenção iniciada dois anos atrás no ótimo Cassino Royale fez bem à franquia, mas não deixa de ser curioso que justamente no momento em que o personagem criado por Ian Fleming em 1953 mais ganha atenção de uma forma positiva, seja também aquele em que ele mais se distancia da raíz que o tornou tão famoso.

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    Quantum of Solace, o 22º filme da franquia oficial - há outros dois feitos fora dela -, é o mais curto de toda série e também de forma inédita, a primeira sequência. A trama começa literalmente poucos minutos depois daquela cena que encerrou CR, quando Bond localiza o Sr. White, o elo que poderia explicar os motivos da traição de Vesper Lynd. Enquanto CR dedicara boa parte de sua trama para apresentar e desenvolver o personagem que ganhou uma dimensão e uma complexidade que nenhum outro intérprete jamais teve chance de explorar, QoS parte direto para a ação desenfreada com diversas cenas de tirar o fôlego. Tem de tudo: perseguição de carros, a pé, de moto, avião... e tem sobretudo um James Bond sedento por vingança e quase sem controle, que elimina todos que se coloquem no seu caminho sem piedade ou sutileza. Nessa segunda aventura de Daniel Craig - ainda mais à vontade no papel -, 007 sequer tem tempo para dizer sua famosa frase de apresentação "Meu nome é Bond, James Bond" e embora muito do charme do personagem tenha sido colocado num segundo plano, dá para perceber que o caminho para equilibrar aspectos clássicos com os de hoje foi construído de forma convicente e eficaz.

    Dirigido por Marc Foster (Em Busca da Terra do Nunca, O Caçador de Pipas), Quantum of Solace é uma aventura redondinha com história simples e personagens que de uma maneira geral são bem rasos (as exceções ficam por conta de Bond, M e Felix Leiter). E se a trama não chega a ser uma grande novidade, apresenta pelo menos um fator que pode ter grande importância para os próximos filmes: o surgimento da QUANTUM, uma grande organização criminosa com braços espalhados pelo mundo com influência nos mais diversos setores e governos e que lembra muito a SPECTRE que marcou presença nos filmes de Sean Connery, George Lazemby e Roger Moore e que sempre conferia uma graça a mais às aventuras. Porém, diferente da Spectre, a Quantum não parece ser tomada apenas por motivações megalomaníacas, já que a julgar pelas dicas dadas no filme, ela seria 'simplesmente' uma organização interessada em criar cenários de conflito que lhe gerem lucro, o que não deixa de ser um aspecto interessante.

    Em Quantum of Solace ainda não há espaço para os famosos gadgets de Q, uma aparição da apaixonada secretária Moneypenny ou mesmo para que Bond peça um martini batido e não mexido. Apesar disso, não falta uma ótima vinheta de abertura conduzida pela música tema 'Another Way to Die', de Jack White e Alicia Keys, e ótimas cenas entre M (a sempre competente Judi Dench) e Bond. Em cada diálogo dos dois há sempre um clima que transcende a relação hierárquica e que confere um tom quase maternal na dinâmica dos dois (Bond até brinca com isso em dado momento). Além disso, com a gun barrel sendo deslocada para o fim do filme, reforçando a idéia de que o ciclo para o estabelecimento do Bond terminou, foi muito bacana ver o filme homenageando produções anteriores em pelo menos três cenas: (1) a que a bondgirl feita por Gemma Arterton aparece morta na cama totalmente coberta por petróleo, repetindo quase com exatidão aquela em que Jill Masterson aparece morta com o corpo coberto com tinta de ouro em Goldfinger, de 1964. (2) aquela em que Bond derruba um homem com quem lutara num terraço de um prédio, da mesma forma que ocorrera em uma sequência do início de O Espião que me Amava de 1977 e, (3) a que Bond e Camille (a belíssima Olga Kurylenko) caminham pelo deserto usando trajes de gala, lembrando a cena em que Roger Moore e Barbara Bach caminhavam pelo deserto do Egito também em O Espião que me Amava.

    Quantum of Solace pode não ser - pelo menos para mim - o filme que marca a volta do velho e bom 007 como aprendi a gostar, mas é sem qualquer dúvida uma produção caprichada, divertida e que arma o cenário perfeito para muitas novas aventuras do agente mais famoso do MI6, o que claro, é motivo mais que suficiente para uma ida ao cinema.

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domingo, 31 de agosto de 2008

Trovão Tropical - Comentário

Embora admita que estivesse curioso, não dava muito crédito para o burburinho em torno da comédia Trovão Tropical antes de vê-la. E talvez seja justamente por isso que tenha me divertido tanto no cinema. Como é bom ser surpreeendido de vez em quando, não? Assim que os créditos finais do filme começaram, ficou fácil entender porque esta produção estrelada pelo trio Ben Stiller (que também escreveu e dirigiu), Jack Black e Robert Downey Jr. continua liderando as bilheterias americanas mesmo depois de ter estreado três semanas atrás nos EUA. Inusitado, ousado, criativo e sobretudo engraçado, são adjetivos justos para Trovão Tropical, mas a verdade é que o maior mérito do filme se concentra no tom politicamente incorreto que domina a trama e que de forma muito incisiva faz uma crítica bem ácida ao mundinho das estrelas e ao padrão industrial frio estabelecido de Hollywood.

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    A comédia conta a história do que seriam as gravações de uma superprodução baseada nas memórias de um ex-combatente da guerra do Vietnã chamado Four Leafs. As filmagens porém se complicam quando os egos inflados dos astros começam a aflorar e o diretor do filme, então pressionado pelo dono do estúdio que financia a produção, decide tentar conferir uma maior realidade ao filme levando seus atores para o meio da selva onde ficção e realidade se misturam obrigando os excêntricos Kirk Lazarus (Robert Downey Jr.), Jeff Portnoy (Jack Black) e Tugg Speedman (Ben Stiller) mais o rapper/ator Alpa Chino (sim, o nome faz uma brincadeira com o do ator famoso) e o inseguro Kevin a enfrentarem uma verdadeira guerra que inicialmente eles imaginam ser de mentira.

    Detalhar demais o que acontece na trama estragaria as surpresas do filme para quem ainda não viu, mas o que não posso deixar de dizer é que através da dinâmica estabelecida entre Speedman (Stiler) e Kirk (Downey Jr.) se catalisa boa parte da crítica que o filme faz a Hollywood e suas estrelas. Speedman é um ator de filmes de ação que vinha perdendo apelo mas que encontra um relativo reconhecimento depois de fazer um personagem retardado, o que aliás vem levantando pesadas críticas por parte dos mais conservadores. Kirk por sua vez, é um ator já laureado com Oscar mas cujo bizarro método de trabalho constantemente acaba confundindo sua personalidade, e um exemplo disso é sua dificuldade de se separar de seu personagem do filme dentro do filme (o afro-americano Osiris).

    O tom crítico do filme contudo, certamente passará despercebido para a maioria já que o que realmente chama a atenção é o escracho desenfreado que Trovão Tropical usa para colocar aqueles personagens em situações absolutamente absurdas. É difícil destacar um personagem em especial, e embora Jack Black e Stiller mantenham a média de outros filmes, é impossível ignorar a curta, porém bizarríssima e contundente participação de Tom Cruise como o chefão mal humorado do estúdio por trás do filme, e claro Downey Jr. que de fato parece estar voltando à boa forma do início da carreira.

    Em suma Trovão Tropical é daquele tipo de produção que diz muito mais do que parece e que diverte sem ter medo de chocar e surpreender, o que para mim é sempre um ótimo motivo para assitir um filme.

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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O Grande Dave (Comentário)

Dando um tempo nos filmes em que usava quilos de maquiagem e apelava para a escatologia na tentativa de fazer rir (vide Norbit), o já veterano Eddie Murphy tenta recuperar o prestígio há muito perdido, com O Grande Dave (Meet Dave no original), comédia bobinha sobre um grupo de alienígenas minúsculos e com formas humanas que chega à Terra atrás da chave para livrar seu mundo da destruição.

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    Dá para perceber que há boas intenções no filme que tem até sutis mensagens educativas para crianças e tal, mas ao mesmo tempo fica a impressão de que Eddie Murphy está fora de sintonia e tentando fazer algo que não lhe é muito peculiar: caretas a la Jim Carrey. No filme, Murphy faz o capitão do grupo alienígena que controla uma nave em forma de ser humano(!) e cuja aparência obviamente, é igual à do protagonista. Investindo em uma história simplória e bem rasteira, O Grande Dave oferece alguns risos fáceis apesar das piadas recicladas mas não convence com um roteiro que tenta de tudo para tornar os personagens periféricos engraçadinhos, mas cujo resultado quase sempre soa artificial demais.

    Não me entenda mal, o filme está longe de ser péssimo, mas como comédia usa um tom tão datado quanto o terno do protagonista, e talvez por conta disso, em várias passagens da trama, a sensação é a de estar sentado no sofá numa tarde qualquer vendo uma sessão da tarde despretensiosa, mas rapidamente esquecível o que me leva à pergunta: será que Eddie Murphy ainda volta a ser Eddie Murphy um dia?

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sábado, 2 de agosto de 2008

A Múmia: Tumba do Imperador Dragão (Comentário)

A Múmia: Tumba do Imperador Dragão, pode até ser o mais fraco dos 3 filmes estrelados por Brendan Fraser, mas nem por isso deixa de ser uma aventura agradavelmente divertida, isso claro, se você tiver consciência desde a primeira cena de que a história que verá na telona é cheia de absurdos (tem até homem das neves na brincadeira!) mas que servem bem ao propósito do filme.

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    A trama desse A Múmia 3 segue o mesmo padrão dos dois anteriores. A descoberta de grande sítio arqueológico acaba libertando uma grande maldição que ameaça todos ao redor. A diferença agora, é que quem descobre a múmia da vez (que na verdade não seria uma no significado original da palavra) é Alex O'Connell, o filho já crescido de Rick (Brendan) e Evelyn O'Connell (Maria Bello substituindo Rachel Weisz que não quis fazer o filme). A outra grande diferença é que a história deixa de lado o misticismo egípcio apostando suas fichas no impioedoso imperador chinês Han (Jet Li) que depois de ser acordado deseja despertar seu exército para expandir seus domínios, e é aqui claro, que os O'Connell mais o atrapalhado Jonathan entram na brincadeira que envolve ainda uma feiticeira imortal (Michelle Yeoh) e sua filha.

    A trama em si - com argumento da dupla Alfred Gough e Miles Millar, criadores de Smalville - é pouco criativa e bem rasteira, mas graças aos ótimos efeitos especiais (a cena de batalha entre dois exércitos é ótima) e às piadinhas disparadas por Rick e Jonathan, o filme consegue prender a atenção do início ao fim. E se certos deslizes como o da implausibilidade da diferença de idade entre Rick e seu filho Alex ou os exageros de Maria Bello, poderiam ter sido evitados, ainda assim quando colocamos tudo na balança, o saldo ainda acaba sendo mais positivo do que negativo.

    É bem improvável que A Múmia: Tumba do Imperador Dragão vá despertar paixões, mas tampouco duvido que provoque a ira. Quando o filme chega ao fim, a sensação inevitável é a de que tudo é absurdo e mentiroso demais, mas como você provavelmente vai ter se divertido não vai nem ligar para isso. Ou vai?

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sábado, 26 de julho de 2008

ARQUIVO X - Eu Quero Acreditar (Comentário)

Mesmo perdendo parte de sua força e essência depois da 6ª temporada (sobretudo por conta da saída temporária de David Duchovny), Arquivo X sempre conseguiu manter-se, pelo menos para mim, como uma das maiores referências televisivas e fonte de inspiração para séries de sucesso de hoje como Lost e quem sabe de amanhã com Fringe. Foi com Arquivo X que descobri a paixão de acompanhar aquelas histórias repletas de mistério, suspense, e claro, dos dramas pessoais de Mulder e Scully, que no fundo - e muito mais do que as conspirações e etc.- eram o verdadeiro núcleo da série. Por isso e infelizmente, só por isso, Arquivo X - Eu Quero Acreditar se salva de um fiasco maior.

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    O clima dos chamados episódios 'monstro da semana' dá o tom no filme que usa elementos sobrenaturais bem dignos aos bons momentos da série. Contudo, a falta de um refinamento maior no roteiro de Chris Carter e Frank Spotnitz (criador e produtor da série respectivamente) é notório, comprometendo de forma definitiva qualquer chance de nos envolvermos a fundo com a história da vez, sobre o desaparecimento de uma agente do FBI e um padre com passado de pedófilo que se diz vidente. É estranho, mas a coisa toda não parece Arquivo X. É como se Chris Carter ao tentar se afastar ao máximo da mitologia da série para tentar atrair um público novo, que não conhecia a série, acabasse não fazendo nem uma coisa nem outra, já que como disse antes, o filme falha em estabelecer uma conexão mais forte com a história que estava contando.

    É não me entendam mal, é ótimo ver Mulder e Scully de volta. Há um claro respeito às características dos personagen e somos prontamente situados ao que aconteceu desde a despedida dos dois da telinha em 2002, porém ao optar por simplesmente nos relebrar quem eles são e como agem (Mulder o crente, Scully a cética), o filme perde a oportunidade de mostrar um maior desenvolvimento e evolução do que aconteceu na vida dos dois durante esses seis anos. Sim, dá para saber que os dois passaram a viver juntos depois da saída do FBI (os shippers não terão do que reclamar) e que Mulder optou pela clausura isolando-se do mundo enquanto Scully dedicou-se a praticar a medicina. E se é interessante ver que os dois ainda seguiam assombrados por fantasmas do passado - ele por Samantha e ela por Emily e claro, William - e encontravam neles motivações para seguirem fazendo de uma forma diferente o que mais sabiam, é uma pena que o roteiro não explore as nuances que esses aspectos trouxeram à relação dos dois.

    No fundo eu não me importo que o filme tenha dispensado conspirações governamentais e alienígenas ou mesmo que tenha usado uma história fraca para reposicionar a dupla nos dias de hoje, mas o que realmente não dá para perdoar é o excesso de personagens coadjuvantes ruins e o desperdício da oportunidade de consolidar a marca Arquivo X como um franquia sólida no cinema, onde Mulder e Scully poderiam ter vida longa. Por isso, apesar da cena final que rola depois dos créditos indicar que a história chegou mesmo ao fim, eu torço para que a coisa não acabe assim de uma forma tão decepcionante, afinal a verdade continua lá fora e merece histórias melhores.

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    Easter Eggs:

    - Note as diversas imagens e recortes de jornal presentes no escritório de Mulder fazendo referência a casos antigos da série, e claro, o famoso cartaz "I Want to Believe".

    - Hábitos antigos realmente não morrem e mesmo depois de seis anos, Mulder segue comendo suas sementes de girassol.

    - Preste atenção em uma rápida aparição de Chris Carter em uma cena do hospital onde Scully trabalha.

    Por Davi Garcia

sábado, 19 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas (Comentário)

Santa unanimidade Batman, não é que O Cavaleiro das Trevas é simplesmente sensacional mesmo como estavam dizendo? O novo filme do justiceiro de Gotham City é um espetáculo visual com muita tensão e suspense em uma aventura repleta de adrenalina mas que nunca esquece o básico: contar uma história que envolva, emocione e sobretudo provoque reflexões. Pois é, pode acreditar. Esse filme faz tudo isso e muito mais.

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    Depois de reestabelecer as raízes do personagem título em Batman Begins, o diretor e também roteirista Christopher Nolan (que aqui escreveu em parceria com o irmão Jonathan) apoiado pela recepção positiva de sua visão para uma das criações mais icônicas do mundo dos quadrinhos, fez o que parecia improvável para um filme do gênero: subverteu totalmente a fórmula criando algo que transcende qualquer definição mais limitada, ampliando a base do universo do Batman para um complexo e brilhante estudo psicológico e antropológico que expõe de forma crua e chocante, a natureza moral que define o certo e o errado, o bem e o mal. O Cavaleiro das Trevas não é um filme sobre mocinhos e vilões, mas sim sobre a tênue linha que separa a racionalidade da loucura e que expõe com muita eloquência os limites que definem quando um homem bom abre mão de tudo e cede à subverssão total de seus valores.

    O filme deixa bem claro que Batman e Coringa são dois lados da mesma moeda ainda que ajam por motivações distintas. No meio dos dois está Harvey Dent, o homem zeloso e aparentemente incorruptível que sem temer os riscos oriundos de seu trabalho - limpar Gotham do crime única e exclusivamente através da lei -, cai na armadilha pessoal e emocional da guerra psicológica a que pouco a pouco se submete, e que enfim o levam à negação de tudo aquilo em que acreditava, embarcando em uma jornada descendente que acaba por condená-lo à danação total. O Harvey Dent feito pelo ótimo Aaron Eckhart (Obrigado por Fumar) nos remete à dimensão trágica do Anakin Skywalker de Star Wars, um homem bom e de valores sólidos, mas que ao sofrer um grande trauma pessoal, perde totalmente a fé no sistema de regras e valores e parte em busca de uma vingança que termina por aproximá-lo exatamente de tudo aquilo que mais abomina.

    Não diria que o Coringa de Heath Ledger (em atuação realmente marcante como muitos antecipavam) seja O personagem do filme (esse título fica para Harvey Dent), mas reconheço que ele é inegavelmente a força motriz e catalisadora de todas as ações da trama, além de ser o ponto de ligação que estabelece em maior ou menor grau, os destinos da maioria dos personagens. Ao evitar mostrar suas origens e concentrar o foco sobre sua natureza perversa e psicótica, o filme permite que nos afastemos de uma visão condescendente e mergulhemos fundo na tentativa de entender porque o Coringa se auto intitula o agente do caos e busca com tanto afinco e prazer, provocar a anarquia em sua forma mais vil e devastadora. E nisso, há de se destacar que o roteiro dos irmãos Nolan deu todos os ingredientes perfeitos para que Ledger sumisse por trás da maquiagem do personagem, criando um vilão que foge da armadilha simplória da caricatura e que ao mesmo tempo convence, assusta, e porque não dizer, cativa. Sua motivação, como ele deixa bem evidente à certa altura do filme, não é a chance de ganhar dinheiro ou dominar o submundo do crime de Gotham, mas sim evidenciar de forma decisiva que todos são de uma forma ou de outra suscetíveis à corrupção moral.

    E é essa mesma suscetibilidade à corrupção moral, que aumenta ainda mais o tormento de Bruce Wayne, um homem dividido entre o peso de representar a alternativa para o caos de Gotham e o desejo de inspirar outras pessoas a fazerem o que seria certo. E justamente por isso, sua visão até certo ponto romântica de tudo, não deixa de ser curiosa, já que é a partir dela que ele acaba condenado a assumir de vez o título de Cavaleiro das Trevas ao perceber que jamais poderia inspirar genuinamente as pessoas a enfrentarem aquilo que ele combatia se permitisse que essas mesmas pessoas aceitassem um vingador que age à margem da lei para combater figuras como o Coringa. Por isso, vale dizer que Christian Bale faz um trabalho que transmite com muita segurança e eficiência, as nuances que passo a passo culminarão em um desfecho sombrio, trágico mas não menos excelente.

    Batman - O Cavaleiro das Trevas é um presentaço para quem gosta de uma história bem contada e envolvente. A ótima trilha composta por Hans Zimmer e James Newton Howard, pontua com muita força os vários momentos de tensão que a trama apresenta, há muita diversão (as várias cenas de ação são de tirar o fôlego), subtramas que ganham atenção e nunca se mostram dispensáveis, personagens ricos e sempre interessantes como a destemida Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal substituindo com notável melhora a apagada Katie Holmes), os carismáticos Alfred (Michael Caine) e Lucius Fox (Morgan Freeman) e claro, o competente, mas solitário James Gordon (Gary Oldman), um homem que assim como Batman/Bruce Wayne, sente nas costas o peso de se tentar fazer a coisa certa. Tudo se conecta de uma forma tão perfeita no filme, que é praticamente impossível apontar qualquer falha estrutural que coloque em cheque a importância que esse filme sem dúvida ganhará na história ao longo dos anos que virão.

    Difícil dizer se há chances para prêmios ao Oscar, mas se a Academia de Hollywood deixar o preconceito de lado e analisar o filme na essência do que ele propõe, acredito ser muito provável que o vejamos disputando o prêmio máximo em 2009. Seja lá o que o futuro reserva para o filme em termos de premiações, posso dizer com muita satisfação que Batman - O Cavaleiro das Trevas credita-se desde já - pelo menos para mim - como sério candidato ao seleto rol das obras primas que o cinema produz de tempos em tempos.

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Fim dos Tempos

É uma pena ter que dizer isso, mas a verdade é que M. Night Shyamalan, o cara que já foi considerado gênio em Hollywood, parece ter esquecido a fórmula de talento e criatividade tão presente em seus primeiros filmes substituindo-a por uma mistura de pouca inspiração e que hoje incomoda pela falta de significados. Quem vê Fim dos Tempos esperando uma boa dose de mistério, suspense e reviravoltas, acaba como ocorreu comigo, se decepcionando pela inércia de um roteiro arrastado que tenta se sustentar apenas com uma situação bizarra e algumas cenas chocantes, mas que não escondem a superficialidade de uma história preguiçosa.

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    A ameaça que o filme explora - um evento misterioso que inicia uma onda de mortes/suicídios em Nova York - poderia até provocar um suspense interessante se fosse conduzida no sentido de nos confundir sobre a origem daquilo tudo. Porém, ao fazer claras referências à uma suposta resposta da natureza frente o descaso do homem com o planeta logo no início do filme, Shyamalan, que mais uma vez dirigiu e escreveu o roteiro, parece já reconhecer e antecipar a fragilidade da história avisando o público de que tudo que viria pela frente não traria nenhuma surpresa uma vez que a resposta estava sendo dada desde o início.

    Qual o propósito do filme então? Responder a pergunta é quase uma missão impossível quando os créditos finais surgem, mas as hipóteses que aparecem são as de que o diretor estaria tentando fazer um alerta contundente sobre a atual situação do planeta ou mesmo criando umpanorama que explora as reações do homem frente o desconhecido (tema recorrente em produções anteriores) ou ainda que o evento ocorre em função da falta de conexão do homem com a natureza e sua busca quase incessante pela tecnologia guiada pelo consumo. A verdade, no entanto, é que não deve haver uma resposta certa para essa pergunta, e usando uma frase dita pelo personagem de Mark Wahlberg à certa altura do filme, tudo o que se conclua sobre Fim dos Tempos será apenas uma teoria e nunca a explicação final para o mistério do porque ele foi cometido.

    E se o desenvolvimento da trama é ruim, algo muito diferente não pode ser dito sobre o elenco principal. Julgar o trabalho de Mark Whalberg e Zooey DesChanel aqui é fácil já que os personagens Elliot e Alma passam o filme sem desenvolver qualquer linha lógica ou emocional que lhes garanta interesse do público, o que por si só indica o que eles atingiram. O mesmo aliás pode ser dito do personagem de John LeGuizamo, cuja participação torna-se tão inócua quanto à da garotinha Jess que entra muda e sai calada servindo apenas como um lembrete ao público de que Elliot e Alma deveriam chegar vivos ao final do filme já que apesar das mortes horrendas mostradas, o roteiro não teria coragem suficiente de terminar a história deixando uma criança orfã em meio ao caos.

    Ao terminar, Fim dos Tempos nos deixa com uma única certeza, a de que Shyamalan precisa com urgência filtrar as críticas justas que vem recebendo depois de Dama na Água e recuperar os conceitos que um dia fizeram dele uma unanimidade e que hoje parecem se converter em um lamentável equívoco.

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terça-feira, 1 de julho de 2008

WALL•E

Definitivamente não há limites para a magia da Pixar. Com sua mais nova animação, o estúdio responsável por pérolas como Procurando Nemo, Os Incríveis e Ratatouille, prova mais uma vez que não tem para ninguém quando o assunto é encantar com histórias simples mas que ao mesmo tempo divertem crianças e adultos sem deixar de explorar uma mensagem repleta de significados, e que em menor ou maior grau, tocam fundo em corações e mentes. Desde Toy Story (1995) o time liderado por John Lasseter (diretor daquele filme e hoje chefão do estúdio) replica a fórmula criada por eles sem nunca acomodar-se e sempre melhorando-a e expandindo o conceito a níveis novos e cada vez mais ousados tanto na estética quanto na temática. E é nesse cenário que surge WALL•E, simplesmente o melhor filme já feito pela Pixar e disparado o melhor do ano até aqui.

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    A deliciosa e simpática história do solitário robozinho WALL•E (diminutivo para Waste Allocation Load Lifter•Earth) responsável por organizar e limpar a sujeira que devastou o planeta Terra no futuro e obrigou a humanidade a sair em um cruzeiro intergaláctico que já dura mais de 700 anos, vém repleta de camadas que nos levam à reflexões emocionais e analisam temas aparentemente banais para os dias de hoje como as consequências do consumismo descerebrado que ao mesmo tempo nos afasta e nos condena à solidão.

    Usando o artifício que é assinatura da Pixar - bichos ou objetos que ganham vida para contar a história - o diretor e roteirista Andrew Stanton (Procurando Nemo), reiventa o conceito dando ao protagonista uma complexidade emocional que comove principalmente depois de vermos seguidas demonstrações de interesse por algo que uma máquina jamais buscaria, a necessidade de entender o que significa a humanidade. Essa idéia é tão bem explorada por Stanton, que o simples fato de vermos WALL•E assistindo o vídeo do musical Alô, Dolly instantaneamente nos conecta ao anseios catalisados do pequeno robô sobretudo depois que ele conhece EVA, uma outra rôbo sonda enviada à Terra para averiguar se o planeta possuía alguma condição de vida para o retorno do homem.

    Nesse cenário WALL•E embarca em uma divertidíssima aventura cheia de personagens simpáticos prontinhos para fazerem a alegria da garotada, e que evidencia os desdobramentos do preço pago pelo homem acomadado à tecnologia do consumo nos levando através de uma jornada repleta de lirismo e beleza que culmina em uma mensagem rica, contundente e que isenta de pieguismo barato, torna este, como já disse antes, o filme mais importante da Pixar até então, e justo merecedor das críticas elogiosas que vém recebendo. Se ainda não viu essa pequena obra prima, não perca tempo e corra já para o cinema mais próximo e depois assista de camarote a chegada de 2009 quando WALL•E fatalmente deve faturar pelo menos o Oscar de melhor animação se não o de melhor filme.

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    Wall-E estreou nos cinemas no dia 27 de junho de 2008

domingo, 29 de junho de 2008

O Incrível Hulk

Depois do fracasso de público e crítica do Hulk dirigido por Ang Lee em 2003 para a Universal - que à época detinha os direitos sobre o gigante verde - a Marvel decidiu dar uma nova chance ao seu famoso anti-herói responsabilizando-se integralmente por reiniciar a história de Bruce Banner (agora feito por Edward Norton) nos cinemas. E embora O Incrível Hulk seja de fato um filme melhor que aquele de Ang Lee, o fato é que ainda não foi dessa vez que o personagem disse a que veio.

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    Antes das críticas, vale dizer que há pequenos méritos no roteiro escrito por Zak Penn (X-Men 2 e 3) que ao privilegiar a objetividade na história, permite que o filme perca pouco tempo explicando as origens do personagem (os créditos do filme cumprem esse papel) e se concentre em outros desenvolvimentos como a ênfase maior na psiquê de Banner e seu constante conflito entre livrar-se de Hulk ou tentar controlá-lo, decisão sobre a qual o personagem Emil Blonsky/Abominável (feito pelo sempre competente Tim Roth) terá grande influência no arco final do filme.

    Esse O Incrível Hulk dirigido pelo francês Louis Leterrier (Carga Explosiva) não deve nada em termos de ação entregando um filme que vem recheado de adrenalina e sequências arrebatadoras. A história começa na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, onde Banner vive escondido trabalhando em uma fábrica de refrigerantes tentando evitar à base de muito treinamento e auto-controle que seu alter ego ressurja. Tudo vai bem até o dia em que o general Ross (Willian Hurt) descobre seu paradeiro e inicia uma nova caçada que acaba provocando o ressurgimento de Hulk. Até aí tudo bem, porém, tal qual acontecia no filme de 2003, aqui de novo a representação de Hulk em computação gráfica soa falsa demais diminuindo o impacto que o personagem poderia trazer quando aparece na tela. Edward Norton faz o que pode com o personagem e para ser justo convence como o atormentado Bruce Banner conseguindo deixar explícitas as nuances que o personagem carrega quando a história permite. Porém, algumas de suas cenas e diálogos com a amada Betty Ross (a bela, mas por vezes inexpressiva Liv Tyler) chegam a constranger de tão ruins em certas sequências.

    Tivesse a Marvel evitado as piadinhas dispensáveis pautadas em gags envolvendo Bruce Banner (vide a sequência que abre o filme com a participação do lutador Rickson Gracie) e o próprio Hulk (quando este fica batendo a cabeça no teto de uma caverna apenas para irritar-se ainda mais) e decidido usar um ator de verdade para personificar o verdão (algo que a série de tv dos anos 70 fazia bem com o fortão Lou Ferrigno, aqui em curta participação especial) sem dúvida a história seria mais verossímil e o filme por tabela seria mais envolvente e instigante. E sim, eu sei que do universo de personagens da editora, Hulk é um dos mais complexos e dos que mais fogem da realidade, mas isso não pode ser desculpa para exageros descerebrados que nada acrescentam à história que se quer contar. E se elogiei parte do trabalho do roteirista Zak Penn antes, vale dizer que enquanto nos dois filmes dos X-Men escritos por ele dava para enxergar um subtexto interessante na trama, em O Incrível Hulk a mesma constatação inexiste quando os créditos finais surgem na tela, o que torna este trabalho um equívoco quando os prós e os contras são pesados na balança que começa a ficar desfavorável para Penn que já errara a mão com Elektra e O Quarteto Fantástico, outros personagens da Marvel. Críticas à parte, a indicação do destino de um personagem que trabalhava com Banner e uma aparição de outro famoso personagem da Marvel no final do filme não deixam dúvidas de que Hulk ainda vai retornar à telona em um filme que espero e torço, seja bem melhor que esse.

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sábado, 21 de junho de 2008

AGENTE 86

Por mais estranho que possa parecer, o cinema tem muito o que agradecer à guerra fria, afinal, foi justamente nesse período que autores inspirados e produtores criativos usaram a espionagem como mote central de suas histórias, criando as bases para personagens que se tornaram ícones que sobrevivem até hoje. E foi justamente no sucesso do mais famoso deles, o agente James Bond 007, que surgiu em 1965 na tv, a inteligente sátira Agente 86, série que trazia o atrapalhado Maxwell Smart ao lado da agente 99 da CONTROL combatendo as ações criminosas da KAOS comandada por Siegified.

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    Smart, inegavelmente era a essência da série que durou 5 temporadas e eternizou Dom Adams no papel. E mesmo para aqueles que, assim como eu, só o conheceram através das reprises da Bandeirantes, é impossível não ter lembranças agradáveis do programa que marcou época e até hoje é referência na tv. Levando tudo isso em consideração, a idéia de se fazer uma (nova) adaptação da série para o cinema era temerária já que uma tentativa semelhante nos anos 80 acabou frustrando boa parte dos fãs. A verdade no entanto, é que o Agente 86 do cinema agora estrelado por Steve Carell (o Michael Scott de The Office), não só mantém toda a aura do universo criado na série, como também faz uma transição equilibrada da trama para os dias atuais sem ignorar o elemento chave do sucesso da série, sua capacidade de fazer rir e muito com piadas por vezes ingênuas mas nem por isso óbvias.

    Assim como acontecia na série, também no filme o maior atrativo fica por conta do protagonista. O Maxwell Smart de agora lembra muito o de Adams, mas traz também a assinatura dos exageros de Carell que consegue no entanto evitar a imitação simples e pura sem esquecer de homenagear o original. Outro grande mérito do filme reside no resgate de personagens marcantes da série como o Chefe (Alan Arkin), os agentes 13 (aquele que sempre se escondia nos locais mais absurdos) e Larabee e na introdução de outros inéditos como a dupla de inventores nerds Bruce (Masi Oka, o Hiro de Heroes) e Lloyd e o agente 23 (Dwayne Johnson).

    A trama do filme segue o padrão dos episódios da série, mas em vez de mostrar Smart já experiente, coloca-o dando seus primeiros passos como agente de campo no combate à KAOS ao lado da agente 99 (a bela Anne Hathaway que prova ter um bom timing cômico). E é exatamente nas desventuras de Smart para impedir que códigos de armas nucleares sejam passadas a terroristas pela KAOS, que surgem as mais absurdas situações que dão a ele oportunidades perfeitas para piadas politicamente incorretas e engraçadíssimas e, claro, para usar todos os gadgets mais malucos que a série inventou como o cone do silêncio, o sapatofone e outros, o que por si só me permite dizer que o filme pode até não ser perfeito, mas tal qual Maxwell Smart, se erra é por um tantinho assim ;)

    Cotação:

    CURIOSIDADES:

    (1) Para quem assiste
    The Office é quase impossível ver o filme e não imaginar que o sem noção Michael Scott finalmente estaria realizando um sonho ao viver um agente secreto bem parecido com o agente Michael Scarn presente no roteiro escrito pelo gerente da Dunder Mifflin.

    (2) Como prova de que Agente 86 sempre satirizou os filmes de 007, há até uma sequência no ar bem parecida com a da abertura do filme Moonraker (007 Contra o Foguete da Morte) de 1979. Até mesmo o vilão feito pelo gigante Dalip Singh lembra muito o Dentes de Aço de Richard Kiel presente no mesmo filme citado do 007.

    (3) Os nerds Bruce e Lloyd vão ganhar um filme solo que será lançado diretamente em DVD nos EUA a partir do dia 1 de Julho.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal



Algo que sempre me surpreende nos meses que antecedem o lançamento de um grande filme, é a capacidade que o Cinema tem de me deixar mergulhado na ansiedade. É aquele misto de euforia que se transforma em adrenalina e faz da experiência de estar dentro de uma sala de projeção, um evento que pelo menos para mim, significa muito mais do simples 2 horas de diversão escapista. O que digo pode soar como exagero nostálgico de infância, mas é difícil esconder o êxtase de poder voltar a ver uma nova aventura do personagem mais icônico de Harrison Ford marcado pela excepcional trilha de John Willians.

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    Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal não é o melhor filme da série iniciada em 1981 (esse título continua sendo pelo menos para mim, de A Última Cruzada), mas sem qualquer sombra de dúvida corresponde às (minhas) expectativas. Todos os elementos que construíram o sucesso da série estão lá turbinados pelos novos tempos em que a computação gráfica aliada à batuta de Spielberg (eficiente como nos filmes anteriores) ajudam a inserir criatividade à uma história que transborda magia na tela sem que o personagem de Ford perca sua essência. E se hoje Indy já não é mais o sujeito por vezes intempestivo de outrora, ele continua sendo o aventureiro que agora demonstra uma sabedoria que só os 19 anos longe das telas poderiam lhe dar. E acreditem, Ford apesar da idade convence em todas as cenas de ação do personagem que evoluiu sem perder o charme esbanjando humor e inteligência. Seu contraponto nessa nova aventura é Mutt (Shia LaBeouf), um jovem com quem Indy estabelece uma dinâmica que lembra muito àquela com seu pai Henry (Sean Connery, que aparece em foto no filme ilustrando o destino de seu personagem). O retorno de Marion Ravenwood (Karen Allen) é outro ponto alto do filme e é fácil perceber porque. É ela que estabelece o ponto de conexão do público evidenciando que o passar dos anos daqueles personagens e da própria história da série os fez envelhecer mas não tirou sua capacidade de nos encantar.

    É curioso notar que ao voltarem a explorar um tema mítico de características sobrenaturais ( ou sobrehumanas, se preferir) George Lucas e Spielberg não só resgatam o clima de Caçadores da Arca Perdida, como fazem questão de homenagear o filme que deu origem a tudo. Exemplos disso são a abertura com o símbolo da Paramount (o estúdio por trás do filme) mesclando-se à introdução da sequência de créditos, uma cena também no início do filme na qual vemos o reflexo de Indy colocando seu chapéu repetindo a cena de entrada dele no bar de Marion, e claro, a rápida aparição da Arca da Aliança, a mesma do filme de 1981. Outras decisões cruciais que contribuiram muito para a construção do espírito de aventura que o filme propõe, foram a presença do ator Ray Winstone como Mac, uma mistura mais exagerada de Sallah com Marcus que serve em alguns momentos como alívio cômico e a utilização dos comunistas soviéticos como vilões através da personagem Irina (Cate Blanchett), que ajuda a trazer um senso de realidade importante à trama que envolve a busca pela caveira de cristal do título e evidencia aspectos da história documentada que apontam o interesse real de Stalin em artefatos que supostamente pudessem trazer poder à nação que os detivesse, mesma crença compartilha aliás pelos nazistas, vilões em dois dos filmes anteriores.

    É fato que muita gente vai reclamar dos desvios estéticos e do tom por vezes infantil levemente exagerado em algumas sequências (sobretudo naquelas que envolvem aparições de animais e na que mostra 3 quedas dos protagonistas em cachoeiras aparentemente mortais), mas para mim a certeza que fica é a de que tudo foi bem planejado no sentido de estabelecer conexão com o público antigo que tem garantida sua dose de nostalgia do personagem sem esquecer do novo e maior, que em função da idade ou do interesse recente, precisa encontrar no filme aspectos que não só expliquem com exatidão quem é aquele personagem de chicote na mão e chapéu na cabeça, mas que também vendam a idéia de um filme blockbuster que agrade não só pelos efeitos, mas sobretudo pela história, e isso amigos, eu garanto que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal faz com sobras provando mais uma vez que o bordão do personagem continua mais coerente do que nunca. Não é a idade [que define a qualidade], mas sim a quilometragem [do personagem]. Que venha o Indy 5.