Sério, o que leva um executivo de tv a torrar milhões de dólares em uma série que vende a idéia de ser baseada num clássico da literatura, mas que no fundo não passa de uma grande colcha de retalhos mal feita e muito exagerada de outras idéias, e que do material original só tem mesmo os nomes dos personagens e olhe lá? Eu sinceramente não sei a resposta para essa pergunta, mas acredito que Ben Silverman, atual presidente da divisão de entretenimento da rede NBC tenha alguma explicação razoável para justificar os cerca de US$30 milhões gastos na produção dos 13 episódios de Crusoe, série que estreou lá fora no último dia 17 de outubro e que se diz inspirada na obra de Daniel Defoe.
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Estrelada pelo desconhecido Philip Winchester, Crusoe não é nada mais que uma aventura tola que passa longe da profundidade do material original já tantas vezes explorado nas telas. Talvez isso até tenha sido intencional (ou quem sabe os realizadores da série sequer leram o livro?), mas não espere ver qualquer referência ao simbolismo da experiência de um homem que precisa se adaptar à solidão e à natureza selvagem que o rodeia.
Quando a série começa, Robinson Crusoé já está totalmente adaptado à ilha onde seu navio naufragou tendo inclusive a companhia de Sexta-Feira (o igualmente desconhecido Tongayi Chirisa) que aqui tem poucos resquícios daquela figura do 'selvagem' do livro chegando até mesmo a já entender e falar inglês quase que perfeitamente. Eu até entenderia essa pressa em partir direto para o tom aventuresco que a série propõe, se o roteiro dedicasse pelo menos alguns minutos em desenvolver os dois personagens a ponto de que pudessemos nos importar com eles. E nem adianta dizer que os flashbacks que surgem cumprem essa função, porque não passam de arremedos frágeis de uma história pregressa que não rende o apelo que deveria, nem mesmo expõe o que Crusoé perdeu (ou está perdendo) ao permanecer isolado na ilha.
No longo (e cansativo) episódio duplo que serviu como piloto da série, fica clara a tentativa de emular o clima de Piratas do Caribe, e sobretudo a idéia de copiar a ambientação característica da 1ª temporada de Lost quando víamos John Locke explorando a floresta e principalmente o uso dos já mencionados flashbacks (que contam com os renomados Sam Neill e Sean Bean provavelmente trabalhando para pagar algumas contas). Pena que nada disso renda algo genuinamente interessante e criativo, e que só evidencie ainda mais os muitos equívocos e exageros da história.
Capaz de construir praticamente sozinho os mais diversos e inventivos sistemas de defesa na floresta, além de uma verdadeira casa nas árvores (com direito a elevador! e até um sistema semi-automático de abastecimento de água doce), Crusoé sem dúvida faria inveja a MacGyver. E é aí que surge uma grande contradição, já que ao enxergarmos nele um cara com tantos talentos para planejamento e engenharia, é um tanto surpreendente que ele não tenha conseguido construir um barquinho que pudesse levá-lo para fora da ilha e consequentemente devolvê-lo à civilização.
Contudo, o que mais chateia em Crusoe, é que dá para imaginar que uma série bacana poderia ter surgido se a realização não fosse tão preguiçosa e sem imaginação. Não fossem as tramas bestas que pontuaram esse início, eu até daria um voto de confiança à ela, mas quando a base das aventuras giram em torno de uma disputa entre piratas para encontrar um tesouro (que original, não?) e a luta do protagonista para achar sua aliança perdida, não dá para esperar que algo interessante possa realmente surgir. Além disso, quando uma série que pretende se basear na aventura não provoca nada mais do que sono, fica claro que há algo muito errado.
Nota: Se quiser ver como é a "casa" do Robinson Crusoé da série, navegue pela galeria de imagens disponibilizada pela EW clicando aqui.