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quarta-feira, 23 de junho de 2010

‘Na Forma da Lei’, a nova série da Globo



Para quem tem costume de assistir séries, é de se comemorar a tentativa da Globo de expandir e popularizar esse segmento em sua grade. Por outro lado, para quem é fã do formato, é de se lamentar que a quantidade ainda esteja longe de ser traduzida em qualidade, algo que a novata ‘Na Forma da Lei’ infelizmente comprova logo de cara.

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    Salvo raras exceções (caso da já veteraníssima A Grande Família e de Força Tarefa, que depois de uma irregular temporada de estreia voltou muito mais madura em seu 2º ano), fato é que parte dos consagrados realizadores por trás dessas novas séries nacionais ainda continuam presos aos piores vícios das novelas, quer seja pela superficialidade dos textos ou simplesmente pelos fracos roteiros.

    Na Forma da Lei, série (ou seria mais apropriado chamá-la de minissérie?) da Globo que já teve dois episódios exibidos (vai ao ar toda 3ª feira às 22:50), é o resumo (im) perfeito de como uma boa ideia pode ser transformada num rascunho mal acabado de história, situações e principalmente atuações terríveis fruto de uma direção preguiçosa.

    Escrita por Antônio Calmon (que tem no currículo a excelente Armação Ilimitada) e com direção geral de Wolf Maia, a produção gira em torno de um grupo de amigos que se lançam numa cruzada por justiça, depois de testemunharem um assassinato covarde cometido pelo filho de um poderoso e corrupto senador. E se a premissa parece interessante, sobretudo pelo potencial de se tornar um thriller carregado de drama e suspense com direito a cenas de tribunal e etc, a verdade é que o resultado na tela se revela decepcionante.


    A promotora Ana Beatriz e a delegada Gabriela


    O juiz Célio, o advogado Edgard e o jornalista Ademir

    Carregada de referências pop e frases de efeito (o que está longe de ser um demérito quando usado com parcimônia), Na Forma da Lei comete no entanto um pecado imperdoável: praticamente todos os seus personagens são figuras desinteressantes e caricatas. Assim, se de um lado estão os destemidos, porém não menos ingênuos paladinos da justiça (imagens acima), do outro aparecem os‘vilões’ dignos de um filme B muito ruim (só falta a risadinha diabólica em determinadas situações).


    Maurício e José Carlos Viegas: os vilões da trama

    Em maior ou menor grau, a questão é que o elenco parece fora do tom na série. Nisso, destaque negativo para as caracterizações que Marcio Garcia e Luana Piovani dão a seus personagens porque enquanto o outrora galã transforma seu Maurício Viegas (o assassino que catalisa a trama) num arremedo de sociopata que adora fazer cara de olhacomosoumau, Piovani simplesmente não convence como uma delegada federal, já que tudo o que fala soa forçado e artificial (o que de certa forma é culpa do texto, claro).

    E se episódio de estreia já fora pontuado por sequências fracas como a da formatura (que podia ser emocional, mas no fim ficou apenas piegas) ou aquela do finalzinho que mostrava o grupo de amigos (todos jovens e muito bem sucedidos em suas carreiras) se reunindo no túmulo de Eduardo (vítima de Maurício) para celebrar a 1ª vitória da batalha deles contra os Viegas (pai e filho), o 2º episódio confirmou que o jogo de gato e rato que sustentará a série não tem força para instigar como thriller ainda que reserve algumas raríssimas surpresas.

    Focando-se na história que traz o competente Osmar Prado na pele de um deputado corrupto que poderia expor o esquema de desvio de verbas assistenciais perpetrado pelo senador José Carlos Viegas, o episódio evidencia de forma curiosa a personalidade do personagem feito por Luís Melo (aparentemente fadado a só fazer vilões). Nesse contexto, quando Viegas tenta demover o incontrolável filho Maurício de agir de forma radical, isto é, mandar matar para salvar tudo o que a família ‘conquistara’, o senador chega a dizer, “Posso fazer coisas erradas, mas ainda tenho meus valores”, uma definição acertada para um homem tomado pela contradição e pelo mau-caratismo.

    Por falar em contradição, impossível não comentar sobre a relação entre o advogado Edgard (Henri Castelli) e seu pai, o também advogado criminalista, Dr. Mourão (José Wilker), que muito ligado aos Viegas, se frusta ao ver o filho (que ele diz ser talentoso) se bandear para o lado da ética e da moral, evento que alimenta o conflito entre os dois e gera frases de efeito do tipo, “O melhor cliente quase sempre é culpado... e rico.”

    E se as situações destacadas nos dois parágrafos anteriores não comprometem de forma decisiva, o mesmo não dá para dizer do protagonismo dado às figuras de Maurício e de Ana Beatriz (Ana Paula Arósio), porque enquanto o primeiro não convence na imagem do psicopata que o personagem tenta vender, afinal, ele não parece inteligente e frio, e é apenas passional e sem limites, a segunda (que no passado teve um envolvimento amoroso com o vilão) tem reações infantis e desproporcionais à figura de uma promotora pública de respeito como é descrita pelos colegas. E isso, acredite, pesa muito numa trama que gira justamente em torno dessas duas figuras.

    Como fã de séries, sinceramente torço para que a iniciativa de expansão das produções nacionais não perca o gás. Dito isso, para quem se acostumou a ver séries do nível de uma Law & Order SVU ou mesmo da encerrada Damages, é muito difícil ignorar os equívocos cometidos nesse início de Na Forma da Lei em nome da diversão pura e simples.