É cedo para dizer se o mistério do ‘Quem matou Rosie Larsen?’ terá desdobramentos tão marcantes e surpreendentes quanto os da clássica, e sempre lembrada, Twin Peaks, mas considerando o que o movimentado episódio duplo de estreia de The Killing faz, a possibilidade existe e não deve ser ignorada.
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Com trama ambientada na soturna Seattle (que com sua chuva aparentemente incessante e tempo fechado funciona como um elemento naturalmente sombrio para a história), The Killing gira em torno do misterioso assassinato de uma garota chamada Rosie Larsen e do impacto que sua morte lança sobre todos que se veem envolvidos nos mais diversos níveis.
Da detetive que vê seus planos de mudança serem postergados, passando pelos pais da moça que precisam lidar com uma perda brutal e inesperada, ao político que revisita uma experiência parecida (e indiretamente vira alvo da investigação), o roteiro privilegia a perspectiva de cada um frente o ocorrido, apresentando-os com todas as suas dúvidas, dores e até mesmo eventuais dissimulações, sem que nada pareça fora do lugar ou exagerado, como evidencia, por exemplo, a cena (dos pais descobrindo o destino da filha) que encerra a primeira parte do episódio.
Além disso, é curioso notar que a Rosie que conhecemos através da investigação inicial, surge tanto como uma filha amorosa e apegada à família (notem os detalhes no mural de seu quarto), quanto uma jovem aparentemente ligada a pessoas e situações perigosas que poderiam ou não estar diretamente ligadas à sua morte. Considerando isso, há portanto uma clara contradição entre a garota que seus pais julgavam conhecer e aquela que sua melhor amiga tenta em vão encobrir. Uma curiosidade que, a meu ver, não deve ser vista como irrelevante.
Como thriller que antes mesmo da estreia já prometia mostrar pessoas sendo obrigadas a encarar fantasmas e segredos, não é exagero considerar quase todos os personagens como suspeitos com uma miríade de motivações. Sendo assim, a chave para que a série se confirme como uma novidade relevante, passa necessariamente pela forma como as hitórias das três frentes envolvidas (investigadores, família e suspeitos) se desenvolverão e se chocarão.
Apresentando um quebra-cabeças que à princípio instiga pelas perguntas que produz, The Killing inegavelmente surge com a ideia de um thriller envolvente e inteligente. Resta saber se a história da série se sustentará mais pela surpresa de revelações plausíveis ou por reviravoltas exageradas que surpreendem, mas que posteriormente se desmontam pela falta de lógica.
Por enquanto, The Killing é só mesmo o que o título desse post resume: promessa de um bom thriller. E que pode se tornar ótimo.
Outras observações:
- Como apontei, à essa altura quase tudo e todos podem ser suspeitos, mas uma coisa em particular chamou minha atenção: por que o gerente da campanha de Darren se antecipou sugerindo um posicionamento deste frente o ocorrido antes mesmo da revelação da polícia de que Rosie fora encontrada dentro de um carro de seu comitê?
- Se a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) ainda não chama muito atenção, o mesmo não se pode dizer dos pais de Rosie (destaque para Michelle Forbes como a mãe transtornada) e do político Darren que, em escalas distintas, parecem carregar sentimentos de culpa que se catalisam a partir do caso.
- A pergunta: a morte de Rosie estaria relacionada a crime passional ou teria mais a ver com queima de arquivo encoberta pela tentativa de incriminar alguém? Palpites?