Comentários de DEXTER 3x06 'Si Se Puede'

Exibido no dia 02 de novembro nos EUA

"Nós só enxergamos duas coisas nas pessoas; o que nós queremos ver e o que elas querem nos mostrar." (Harry Morgan)

Solitário e contido em suas ações, Dexter sempre seguiu à risca o código regido por Harry tendo aprendido com o passar dos anos a esconder ou fingir seus sentimentos, já que essa seria (talvez) a única forma de manter seguro seu segredo. Tendo isso em mente, uma das grandes questões que a 3ª temporada vem gradativamente construindo com a dinâmica criada entre Dexter e Miguel Prado, é se o modus operandi do protagonista pode mudar para o bem ou para o mal. O código já vem sendo alterado há tempos, mas será que há um limite?

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Não dá para negar que ao ser aceito por Prado, Dexter passou a nutrir um grande respeito e admiração pelo promotor. Esse homem que agora propõe abertamente ser seu cúmplice na missão de fazer justiça à margem da lei, desperta nele um estranho fascínio. Dexter se sente quase aliviado por saber que alguém não rejeita o que ele faz incentivando-o a continuar. Porém, ao mesmo tempo a consciência manifestada nas conversas com Harry, evidenciam uma certa dúvida de poder confiar totalmente no amigo ou não. Dessa forma, ao testar os limites de Miguel, Dexter acaba descobrindo que ele próprio tem os seus. É possível que ele trabalhe em cooperação? Sim, é possível, já responde o título do episódio, contudo, é inegável que ele ainda não está pronto para revelar a Prado sua real natureza. Como e se isso vai acontecer eu não sei, mas se tivesse que apostar, diria que esse será o grande mote da segunda metade da temporada.

Miguel aparentemente 'só' deseja eliminar pessoas que a justiça não condenou adequadamente a seus olhos, mas ao mesmo tempo fica no ar uma ponta de mistério em torno da possibilidade de existirem alguns podres em seu passado. O roteiro escrito por Charles Eglee planta essa dúvida no ar de uma forma muito consistente. A cena em que Miguel entrega a chave e fala para o nazista Clemson que as ameaças à sua família tinham que acabar ali, pode tanto significar uma tentativa coerente de convencimento por parte do promotor para que a futura vítima de Dexter acreditasse que ele o estava ajudando, tanto para apontar que há algo mais além do que podemos ver, uma vez que Miguel poderia muito bem ter manipulado Dexter incitando-o a eliminar uma possível ameaça.

E por falar em dúvida, seguimos juntando peças para tentar solucionar o mistério em torno da identidade do assassino apelidado de Skinner. A vítima da vez foi o garoto Wendell, o mesmo que colaborara com Deb no episódio anterior. Sua morte aliás, acaba provocando nela um grande remorso por achar que tinha uma parcela de culpa pelo terrível destino do jovem. E se no comentário do episódio 3x03 levantei a hipótese do Quinn estar ligado de alguma forma aos crimes - o que de certa forma faz sentido se levarmos em consideração que a Deb tem uma certa tendência em atrair assassinos -, poderia agora sugerir que pela primeira vez na série veríamos uma história envolvendo não um, mas dois serial killers. No entanto, a coisa me soa um pouco óbvia demais, o que geralmente não ocorre no universo de Dexter. De qualquer forma, acredito que seja válido deixar essa possibilidade em aberto, ainda que pelo menos no que se refere ao Quinn, deposite algumas fichas no lance da vingança passional (que eu havia apontado anteriormente) com a corregedora Yuki, aquela que nào sai do pé de Deb.

Sobre as demais sub-tramas apresentadas no episódio, não posso deixar de destacar a do retorno da simpática Camilla, que em estágio de câncer terminal de pulmão, reaparece a meu ver, para pedir a Dexter que lhe devolva a dignidade tomada pela doença (o que significa dizer que ela pode pedir a ele que a ajude a por fim àquele sofrimento), ou então que lhe revele mais algum grande segredo do passado de Harry antes de partir. Além dessa história, vimos ainda a de Angel começando o que pode ser um novo relacionamento. Resta saber para onde a história dele com a oficial pode caminhar. Será que ela vai se tornar vítima do Skinner?

Em suma, mais um excepcional episódio de Dexter e que serviu para me fazer gostar ainda mais de Miguel Prado. A evolução do personagem nesse curto período o tornou uma figura bem interessante, já que suas atitudes bastante inusitadas acabam dando a ele uma perspectiva bem singular. E se sua reação irada frente à perseguição da defensora Ellen Wolf não chegou a ser tão assustadora quanto as de Dexter quando deixa o 'Dark Passenger' assumir o controle, fica pelo menos a clara sensação de que há alguma coisa muito errada com ele, o que inevitavelmente pode ser sua salvação ou ruína nas mãos de Dexter.