Revolucionar é mudar, transformar uma coisa já existente em algo novo ou pelo menos diferente. O cinema em seus mais de 100 anos de história já viveu algumas boas revoluções desde a criação do cinematógrafo pelos Irmãos Lumière, e agora no finzinho de 2009 com a estreia de
Avatar, dá o primeiro passo rumo a uma nova era. A afirmação pode soar exagerada é verdade, mas basta entrar numa sala de projeção 3-D para assistir o filme e constatar o óbvio: a mais nova produção de James Cameron é mesmo O filme do ano e provocará reflexos positivamente irreversíveis na indústria ao longo dos próximos.
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Escrito e dirigido por Cameron (que andava de ‘férias’ depois dos 11 Oscars de Titanic), não é nenhum absurdo dizer que Avatar seja uma produção diretamente influenciada por trabalhos de ficção científica escritos por gente como Arthur C. Clarke (2001 – Uma Odisséia no Espaço). Futurista, fantasioso, mas absolutamente ligado a temas comuns à nossa história e realidade, o filme fala sobre relações entre povos e culturas distintas e sobretudo sobre a relação destes de respeito ou a falta dele com o meio em que habitam.
Pelos olhos, e principalmente pela mente do ex-fuzileiro paralítico Jake Sully (Sam Worthington de O Exterminador do Futuro 4), Avatar nos leva à descoberta de um mundo totalmente novo na distante Pandora onde os nativos chamados Na’vi entendem, e literalmente se conectam com a natureza que os cerca ao mesmo tempo em que tentam resistir à opressão de humanos exploradores em busca de uma rica e abundante fonte de energia que poderia representar a salvação de uma Terra então devastada. Ou seja, qualquer semelhança com o período de colonização da América Latina por exemplo não é mera coinscidência.
Em Avatar, os humanos são os grandes vilões de uma trama que se amplifica no romance nascido do encontro de uma guerreira nativa com um improvável (anti?) herói que se volta contra os seus. Só por isso, claro, não dá para dizer que o filme represente aquela revolução à qual me referi lá no início do texto. Contudo, é justamente a partir dessa premissa simples e longe de ser original que o filme ganha força, significado e beleza, graças à evolução da computação gráfica e da tecnologia de captura de movimento, que aliada ao 3-D, proporciona uma experiência inigualável, inesquecível e emocionante dentro da sala de cinema.
Alardeado como o grande trunfo de Avatar, o salto técnico tão comentado ao longo dos anos que antecederam a chegada do filme aos cinemas, de fato cumpre a promessa e sinaliza o óbvio: efeitos visuais de última geração não podem mais ser elementos acessórios ou de mera distração em grandes blockbusters, mas devem sim atuar como facilitadores para que nossa conexão com a história contada na tela soe mais envolvente e crível.
O mundo de Pandora e sua gama de magníficos personagens criados por James Cameron e sua equipe traz uma riqueza de detalhes absurda que aliada ao efeito 3-D, nos tira da posição de espectadores para nos colocar na de testemunhas das ações que evoluem na tela. Assim, quando vemos Jake Sully redescobrindo o prazer de poder correr com as ‘próprias’ pernas e mais tarde acompanhamos sua curiosidade com a fauna e flora da floresta local, a sensação é de estar lá, quase como um avatar invisível, mas totalmente integrado àquele belíssimo ambiente.
O que Avatar fez agora pelo Cinema talvez ainda leve mais alguns anos para ser totalmente entendido por executivos de estúdios, estudiosos e fãs em geral, mas uma coisa já me parece certa: a revolução começou e o modo como iremos assistir filmes daqui para frente mudou para sempre e para muito melhor. Duvida?
Outras observações:
- Não comentei especificamente sobre os personagens, mas vale destacar pelo menos dois excelentes trabalhos no filme. Um deles é o da veterana Sigourney Weaver (a eterna Ellen Ripley de Alien), que transforma sua Dra. Grace numa figura complexa, cheia de contradições e por isso mesmo humana, e o da jovem Zoe Saldana (a Uhura do mais recente Star Trek), que na pele da guerreira Na’vi, Neytiri, multiplica por dez o impacto visual e emocional causado pelo Gollum de O Senhor dos Anéis, o primeiro personagem feito 100% em CGI a partir da captura de movimentos.
- Não que premiações devam ser consideradas como validação da importância de uma produção, mas bem que eu adoraria ver Avatar disputando alguns Oscars como os de melhor filme, diretor, montagem, trilha sonora e, claro, efeitos visuais.