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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Meu Malvado Favorito (Despicable Me)

Se a primeira impressão é a que fica, a Universal Pictures entrou bem no disputado mundo da animação através da Illumination Entertainment, empresa responsável pelo surpreendente e divertidíssimo Meu Malvado Favorito (Despicable Me), que encanta pela originalidade de sua história e sobretudo pela ousadia com que constrói várias e boas piadas de riso fácil amparadas na medida certa por um tom inocente, mas que nunca abre mão do politicamente incorreto para desenvolver a trama e seus personagens.

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    Dirigido pela dupla Pierre Coffin e Chris Renaud (este do curta indicado ao Oscar 2006, No Time for Nuts estrelado pelo esquilo Scrat) com roteiro de Ken Daurio e Cinco Paul (de Horton e o Mundo dos Quem) a partir da história do animador Sergio Pablos, o filme conta a história de Gru, um vilão no melhor estilo Dick Vigarista, que ao ver seu reinado de maldades ameaçado por um novato, põe em prática o plano definitivo: roubar a lua! O que Gru não sabe, é que ao envolver três meninas orfãs em seu plano, sentimentos que ele não conhecia tais como afeto, carinho e amor passam a fazer parte de sua rotina e um dilema se apresenta.

    Expandindo o conceito de Shrek de subverter a figura do protagonista padrão, Meu Malvado Favorito começa deixando claro que Gru faz jus ao status de vilão quando não pensa duas vezes na hora de sacanear um garotinho de forma divertidamente cruel. O que vamos descobrindo com o passar da história no entanto, é que Gru teve uma criação reprimida e foi constantemente rejeitado pela mãe, uma mulher que jamais demonstrou carinho pelo filho, algo que os rápidos e não menos hilariantes flashbacks deixam evidente (a cena em que ela desdenha o desejo do pequeno Gru de ir à lua é o cartão de visitas do humor ácido que o filme utiliza, diga-se).

    A grande força do filme no entanto reside mesmo na interação que se desenvolve entre Gru e as três garotinhas (Margô, Edite e Agnes) que ele adota como parte de seu plano. De diferentes idades e comportamentos, são elas que catalisam os melhores momentos do filme, já que ao agirem sempre com a curiosidade e a ingenuidade comum dos pequenos, protagonizam sequências muito engraçadas (e por vezes emocionantes) ao tentarem se aproximar de Gru e seu exército de minions, criaturas responsáveis por outros tantos momentos hilariantes do filme.

    Inteligente pela forma com que constrói a ligação que se estabelece entre seus personagens (a cena em que Gru se vê ‘obrigado’ a ler um livro para as meninas dormirem traduz esse sentimento), Meu Malvado Favorito surge como um desses raros casos de boa ideia que resulta num projeto bem executado e que consegue dar sua mensagem (para crianças e adultos) de forma divertida e emocional sem apelar para obviedades ou pieguismos baratos e rasteiros, qualidade que parece ter sido roubada pelo vilão do ostracismo criativo que geralmente impera em Hollywood.

    Cotação:

    Notas:

    - O filme estreia legendado e dublado com cópias tradicionais e em 3D a partir da sexta-feira, 6 de agosto.
    - Há uma cena do filme que faz menção direta ao O Poderoso Chefão, uma piada que as crianças não vão entender, mas que adultos fãs da trilogia de Coppola identificarão facilmente.
    - No original, Gru é dublado por Steve Carell de The Office e seu antagonista, Vetor, tem voz de Jason Segel de How I Met Your Mother. Já na versão dublada em português, coube à dupla de humoristas da Globo, Leandro Hassum e Marcius Melhem, fazer Gru e Vetor respectivamente.
    - A exemplo do que aconteceu com os pinguins de Madagascar, os minions também devem ganhar projeto próprio.
    - Ainda que não exista data de início da produção ou previsão de estreia, uma continuação já é dada como certa pelo presidente da Illumination Entertainment.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Toy Story 3

Não sei se como empresa a Pixar tem uma missão formal, mas se for algo como ‘Surpreender crianças e adultos a cada novo filme’, dá para dizer que eles a cumprem com louvor renovando produção após produção a magia de divertir e emocionar como poucas produções conseguem. Quinze anos depois do longa que revelou o estúdio, Toy Story 3 surje não só como uma bela aventura carregada de risos fáceis, mas sobretudo como uma experiência sensorial capaz de nos conectar a sensações e lembranças de um período de transição agridoce para cada um de nós: a passagem da fase infatil e lúdica para a de adolescente/adulto.

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    Dirigido por Lee Unkrich a partir de argumento de John Lasseter (chefe de criação da Pixar e diretor dos dois primeiros filmes) e Andrew Stanton (roteirista dos filmes anteriores), Toy Story 3 tem como um de seus grandes méritos, a capacidade de saber equilibrar com muita competência as piadas ora sutis, ora explícitas (as que envolvem o boneco Ken e a de Buzz em versão espanhola são excepcionais) com os momentos singelos que remetem a valores da essência do espírito humano de forma brilhante e inpiradora, como uma das cenas finais, por exemplo, deixa evidenciada.

    Com uma história que se passa dez anos depois do 2º filme, Toy Story 3 narra as aventuras dos brinquedos liderados por Woody e Buzz pouco antes da ida do outrora garoto Andy para a faculdade. Lidando com questões como rejeição e perda e a importância de conceitos de companheirismo e amizade, o filme roteirizado por Michael Arndt (de Pequena Miss Sunshine) coloca os brinquedos numa creche que a princípio é encarada por toda turma como um paraíso, mas que logo se revela mais dura que a realidade de uma caixa no sótão da casa de Andy parecia .

    E é naquele ambiente dominado por ‘vilões’ liderados por um urso de pelúcia e até por um brinquedo bebê (o que não deixa de ser uma subversão curiosa para as duas figuras) que o filme mergulha em momentos de absoluta graça e que mesclados aos de um suspense crescente, bem construído e envolvente, transformam a produção numa das experiências mais ricas e, como apontei lá no início, emocionais do ano. A Pixar fez de novo e nós só temos a agradecer.

    Cotação:

    Nota: O curta Dia & Noite que abre Toy Story 3 e faz uma celebração às diferenças, é sem qualquer dúvida o melhor e mais inspirado já feito pelo estúdio. Pode ser precipitado afirmar, mas duvido que o Oscar 2011 da categoria possa ter outro dono.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sessão 3 em 1: This is It, Sempre ao Seu Lado e Um Olhar do Paraíso



Lançado pouco mais de quatro meses depois da morte do inesquecível rei da música pop, This is It, documentário que registra boa parte dos ensaios e da preparação do que seria a última série de shows de Michael Jackson, encanta muito pela noção de grandiosidade do espetáculo que nunca aconteceu (as novas vinhetas de Thriller e Smooth Criminal, esta mesclando cenas de filmes clássicos, feitas especialmente para o show são excepcionais), mas perde força ao abrir mão de explorar um pouco mais a fundo a personalidade genial e perfeccionista do cantor e sua relação com a fama. O que This is It também faz, é evitar por completo tentar traçar qualquer conclusão sobre as circunstâncias que levaram o cantor à morte no dia 25 de junho de 2009 (18 dias antes do 1º show em Londres), funcionando assim ‘apenas’ como um último tributo a Jackson e como um registro óbvio para todos que admiravam (e ainda admiram) sua música: dificilmente voltaremos a ver um artista tão completo e tão controverso quanto ele.

This is It foi exibido na noite domingo pela Globo e vai ao ar na 4ª feira, 30 de junho, às 21h no Warner Channel

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    Sempre ao Seu Lado (Hachi: A Dog’s Tale)

    Inspirado na incrível história verídica da fidelidade de um cão da raça Akita a seu dono, Sempre ao Seu Lado está longe de ser uma obra prima, mas conseguindo ser emocionante sem ser piegas (algo que Marley & Eu já havia feito com muita propriedade), é um filme que contribui decisivamente para dar um sentido ainda mais forte à frase ‘o cão é o melhor amigo do homem’. Objetiva em sua mensagem, a produção que conta com Richard Gere no elenco, explora com tomadas criativas e eficientes (algumas sob o ponto de vista do próprio animal inclusive) a curiosa relação que se estabelece entre o cão e seu dono antes e principalmente depois que esse falece. A partir desse ponto, o foco do filme volta-se totalmente para o animal que inexplicavelmente mantém a rotina então já estabelecida de esperar pelo dono todos os dias em frente a uma estação de trem por impressionantes 10 anos(!), algo que fica explicitado numa elegante elipse, diga-se. Em suma, se você já viu o filme, sabe qual é a sensação que ele traz, mas se ainda não viu o desafio é um só: resistir às lágrimas se puder.

    Um Olhar do Paraíso (Lovely Bones)

    Ainda que visualmente tenha momentos belíssimos, graças sobretudo à fotografia, o filme dirigido por Peter Jackson (da trilogia O Senhor dos Anéis) baseado no romance Lovely Bones de Alice Sebold (Uma Vida Interrompida no Brasil), falha clamorosamente no aspecto que lhe seria mais fundamental: comover com a história da adolescente assassinada que depois de morta passa a observar (de uma espécie de limbo) a vida de sua família e de seu algoz (Stanley Tucci, apenas mediano como o serial killer que lhe rendeu indicação ao Oscar 2010). Longo demais, Um Olhar do Paraíso derrapa ao não se definir nem como drama consistente no que tange expôr os conflitos que surgem na família da vítima (Mark Wahlberg é o pai obcecado por encontrar o assassino e Rachel Weisz e Susan Sarandon aparecem apagadas nos papéis de mãe e avó respectivamente), nem como a fantasia romântica que tenta ser nas sequências que mostram a jovem e delicada Susie Salmon (Saoirse Ronan, a melhor coisa do filme) angustiada por ter tido a vida tomada de forma covarde e por ainda não se sentir pronta para seguir adiante no plano em que estava.

terça-feira, 30 de março de 2010

Breves opiniões sobre os 10 Filmes indicados ao Oscar 2010

O Oscar já passou há quase um mês e os resultados da festa todo mundo já conhece, mas e o prêmio principal, foi justo? Obviamente não existe resposta definitiva porque cada um tem/tinha seu preferido naquela lista de 10 filmes. Dito isso, a pergunta é: será que todos realmente mereciam estar ali naquela disputa? Tentando responder, na sequência desse texto dou minhas brevíssimas opiniões sobre cada um deles.

Da heterogênea relação de produções indicadas ao Oscar de melhor filme, curioso notar que dois tem desfechos parecidos ainda que com abordagens distintas (Educação e Amor sem Escalas) e outros dois falem sobre a jornada de pessoas excluídas e rejeitadas que encontram na compaixão alheia uma chance de mudar de vida (Preciosa e Um Sonho Possível). Dos demais, Avatar e Distrito 9, são sci fi com mensagem política e social, Bastardos Inglórios é Tarantino dos pés à cabeça pro bem e pro mal, Up – Altas Aventuras é um emocionante e divertido conto de amizade e fantasia, enquanto Um Homem Sério e Guerra ao Terror tratam, em graus totalmente distintos, de dois homens tentando encontrar propósito para suas vidas distanciadas de zonas de conforto.

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    Amor sem Escalas (Up in the Air) – 6 indicações

    Não se engane com o título dado ao filme no Brasil, essa produção estrelada por George Clooney não é um romance. Dirigido por Jason Reitman (de Juno), o filme tem na atuação cínica e naturalmente bem humorada do protagonista, seu grande e talvez único trunfo genuíno. Na produção, Clooney faz Ryan Bingham, sujeito que vive viajando pelo país demitindo pessoas de várias empresas, e que encontra nessa (falta de) rotina, a justificativa perfeita para fugir de compromissos com a família ou com as mulheres. Tudo muda no entantro quando conhece uma executiva em viagem (a bela Vera Farmiga), e começa a trabalhar com uma jovem executiva (a novata Anna Kendrick) cheia de ideias, mas com pouca experiência que aparece na empresa que ele trabalha. Relevante em tempos de recessão por conta da abordagem do impacto das demissões retratadas, Up in the Air tem seus bons momentos e é divertido ao garantir na decepção experimentada pelo personagem de Cloney, uma surpresa à parte.

    Preciosa (Precious) – 6 indicações

    Pelo mote, Preciosa poderia ser mais um daqueles filmes de redenção que a Academia tanto gosta. Absolutamente chocante, mas infelizmente falho na tentativa de emocionar, o filme conta a história de Claireece Precious, uma jovem adolescente obesa que convive com o peso da exclusão e do intenso e constante abuso familiar e que encontra em pequenos devaneios e na ajuda de uma professora e de uma assistente social (Mariah Carey, irreconhecível), a fuga para suas dores existenciais e as frustrações de uma vida miserável. Filme apenas razoável que impressiona mais pela interpretação assustadoramente complexa da vencedora na categoria de atriz coadjuvante, Mo’nique, do que por qualquer outra qualidade.

    Um Homem Sério (A Serious Man) – 2 indicações

    Filme dos já premiados irmãos Cohen (Onde os fracos não tem vez) sobre um judeu com pinta de loser em busca de um novo sentido para vida após uma crise no casamento. Assim é Um Homem Sério, escolha menos óbvia da lista e também a mais incomum. Carregado no humor negro e refinado já tão caracterísito das obras dos Cohen, o filme se sustenta nas sutilezas de intepretações equlibradas e sobretudo nos diálogos e situações incomuns que discutem fé, relacionamentos em família e até mesmo choques culturais. Pela temática, não é um filme de fácil compreenssão e talvez justamente por isso tenha sido tão pouco badalado antes da entrega dos prêmios.

    Educação (An Education) – 3 indicações

    Convencendo como a adolescente inglesa dos anos 60 que enxerga numa aventura romântica com um homem mais velho a chance de se libertar das amarras do tradicionalismo de sua família e de sua edução formal, a novata Carey Mullingan dá conta do recado fazendo um misto equilibrado e bem dosado de ninfeta e mulher. Inteligente, sua personagem Jenny cativa pela ousadia e pelo espiríto de curiosidade com tudo que lhe é diferente. Assim, alimentad pela lábia de David, o homem mais velho com quem se envolve e que ganha inclusive a confiança de seu rígido pai (feito por Alfred Molina), Jenny encontra e conhece tudo com que sonhava só pra perceber num desfecho equivocado e preguiçoso, que para certas coisas não há como fugir da tradição.

    Distrito 9 (District 9) – 4 indicações

    Como responder a uma situação extrema que coloca a ignorância da exclusão e a luta por sobreviência em lados opostos? Depende da perspectiva, que é exatamente o que Distrito 9 explora num sci fi surpreendente e complexo, mas não menos carregado nas tintas de um bom filme B em vários momentos. Nascido a partir de um curta chamado ‘Alive in Joberg’ que retrata a chegada de alienígenas e seu isolamento numa área da capital da África do Sul, Distrito 9 foi dirigido pelo até então desconhecido Neil Blumkamp (também responsável pelo material de origem) e ganhou na produção executiva de Peter Jackson (trilogia Senhor dos Anéis) o empurrão perfeito para fazer barulho no cinema em 2009 vendendo-se como um sopro de originalidade (mas nem tanto, como exageram alguns) no gênero, o que certamente foi uma das grandes justificativas para sua coerente indicação ao Oscar.

    Um Sonho Possível (The Blind Side) – 2 indicações

    Sustentado basicamente pela forte personagem que rendeu o Oscar a Sandra Bullock, Um Sonho Possível talvez seja o filme que menos merecesse figurar na lista. Um dos 10 melhores de 2009? Não mesmo. Preguiçoso em explorar a história de preconceito e superação que moveu a história real do jovem Michael Oher (um garoto negro abandonado à própria sorte e que depois de ser adotado por uma família branca encontra o caminho que o alçaria a posição de jogador de futebol americano de destaque), o filme falha clamorosamente ao apresentar personagens superficiais e sem conflitos. Qual a motivação da família Tuohy em ajudar Big Mike? São bons samaritanos? Tem algum sentimento de culpa de branco? Sem jamais mergulhar nessas questões, o filme opta por saídas fáceis e que infelizmente nunca comovem, o que de certa forma é um ponto decisivo para que se esqueça daquela história tão logo os créditos terminem. Pena.

    Avatar (Idem) – 9 indicações

    Para uns obra prima, para outros um engodo maquiado com efeitos especiais de primeira. Seja lá qual for sua opinião sobre Avatar, fato é que raras vezes uma produção desta magnitude conseguiu gerar comentários e opiniões tão apaixonadas mundo afora. Apoiado numa aventura futurista que no 3D garante uma imersão absurdamente formidável, o filme de James Cameron realmente não conta nada de novo na história do choque de civilizações e culturas que explora, mas que justamente dão espaço para a construção de personagens complexos (com exceção dos vilões, que de fato são bem caricaturais) nas figuras de seus protagonistas, que fogem de caracterizações vazias, com destaque, claro, para o Jake Sully do novo astro de ação do cinema americano, Sam Worthington. Avatar saiu com as mãos praticamente vazias do Oscar é verdade, mas sua importância para o desenvolvimento do cinema espetáculo com conteúdo já está sacramentada, goste dele ou não.

    Guerra ao Terror (The Hurt Locker) – 9 indicações

    Descoberto tardiamente por cinéfilos depois de passar boa parte de 2009 pegando poeira nas prateleiras das locadoras do Brasil (onde foi lançado direto em vídeo), o grande vencedor do Oscar 2010, Guerra ao Terror, virou queridinho da crítica ao dar um enfoque mais psicológico à intervenção militar americana no Iraque através de um esquadrão anti bombas. Dirigido pela também vencedora do Oscar, Kathryn Bigelow (a 1ª mulher a ganhar nessa categoria), o filme apoia-se sobretudo no impacto que a tensão contínua do trabalho exerce sobre William James (Jeremy Renner em boa atuação), um sargento que especializado em desarmar bombas, vai pouco a pouco se envolvendo pelo vício da adrenalina que o faz se isolar completamente da rotina do mundo exterior (que incluia sua família), que para ele se tornara seu verdadeiro terror. Inegavelmente um bom filme em muitos aspectos (principalmente os técnicos), mas melhor do ano? Não para mim.

    Up – Altas Aventuras (Up) – 5 indicações

    Divertido e ágil, Up dá continuidade à excelência da Pixar, e seguindo a tradição do estúdio, de novo consegue agradar em cheio crianças e adultos com seus carismáticos personagens, que em maior ou menor escala, representam as diversas mensagens que a história transmite. Contando com uma das aberturas mais impactantes em termos emocionais que a Pixar já produziu, Up foi premiado na categoria de animação, mas não seria exagero (pelo menos para mim) se tivesse tido melhor sorte também na principal. Investindo numa fantasia que coloca um velhinho ranzinza e solitário tentando cumprir o maior desejo de sua falecida esposa, o filme constrói na amizade incomum daquele senhor com um jovem escoteiro, a tabelinha perfeita que sustenta o espírito de aventura despretensiosa, mas que ao mesmo tempo defende (sem ser piegas) a importância de se lutar pela concretização de sonhos.

    Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) – 8 indicações

    Emulando praticamente todos os elementos da biografia que fez seu diretor famoso, Bastardos Inglórios funciona não apenas como uma homenagem ao gênero de guerra, mas também como salada de referências a tudo que Quentin Tarantino explorou em seus trabalhos anteriores. Estão lá os diálogos tensos repletos de frases de efeito, a personagem femina forte (representada por Shoshanna), os anti-heróis (que aqui são os próprios bastardos capitaneados por Brad Pitt em mais uma divertida atuação), o humor negro exagerado e um vilão marcante (o coronel nazista Hans Landa, que rendeu Oscar de coadjuvante para o austríaco Christoph Waltz), que caminhando pela tênue linha que separa a autenticidade da caricatura, rouba grande parte das cenas do filme. Dividido em arcos que se chocam no fim, o filme é de fato um trabalho que prova o talento de Tarantino em subverter gêneros, mas que se dessa vez não chega a provocar o mesmo impacto de um Pulp Fiction ou mesmo dos dois Kill Bill, torna-se interessante por uma razão bem específica: o prazer que proporciona (ainda que só na ficção) de ver o desprezível Hitler e seus asseclas nazistas sendo devidamente humilhados e literalmente explodidos.

domingo, 14 de março de 2010

Ilha do Medo (Shutter Island)

Inteligente, engenhoso, instigante e sensacional. Assim é Ilha do Medo (Shutter Island no original), o mais novo filme do fora de série, Martin Scorsese. Misturando elementos dos melhores thrillers, suspenses e noir, o diretor constrói uma história que prende não só por sua narrativa envolvente, mas sobretudo pelas ótimas viradas na trama, e que longe de serem gratuitas, garantem ao fim da projeção uma conclusão óbvia: Ilha do Medo, é fácilmente (pelo menos por enquanto, claro) o melhor filme do ano.

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    Em sua quarta colaboração com Scorsese, Leonardo DiCaprio (melhor e mais dedicado a cada novo papel) é o protagonista desse filme que narra a história de um agente federal chamado Teddy Daniels, que em 1954 é incumbido de investigar, com a ajuda de um novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), o misterioso desaparecimento de uma paciente internada/presa num hospital psiquiátrico da ilha que dá título ao filme no original, e que se dedica a tratar de pessoas ditas insanas que cometeram crimes.

    Apoiado num elenco talentoso que conta com coadjuvantes da estatura de Ben Kinsgley (o eterno Gandhi do cinema) no papel do Dr. Cawley, diretor da instituição, do veteraníssimo Max von Sydow (o padre Merrin de O Exorcista) no papel de outro psiquiatra e de Jackie Earle Haley (o Rorschack de Watchmen) num papel pequeno, mas não menos fundamental, Scorsese faz um filme que subverte as expectativas do espectador a cada nova sequência pontuada por uma ótima trilha ou por planos que traduzem bem a elegância e o talento do diretor em retratar medos, angústias e as mais distintas sensações/emoções.

    Lembrando em muitos aspectos obras como o Sexto Sentido de Shyamalan e até mesmo Identidade (filme de 2003 com John Cusack) pelas viradas inteligentes e engenhosas envolvendo seu protagonista, Ilha do Medo (que nasceu de um livro escrito em 2003 por Dennis Lehane, o mesmo de Sobre Meninos e Lobos) é uma fascinante viagem que expõe os subterfúgios que a mente humana pode criar como válvula de escape de uma realidade que se quer esquecer.

    Falar mais é entregar o grande segredo do filme, que a exemplo do citado Sexto Sentido, dá dicas* sutis desde o início para que se mate a charada da história, o que por tabela tende a transformar a produção numa experiência ainda mais interessante de se rever. Mestre na arte que explora, Scorsese faz da Ilha do Medo um filme imperdível de múltiplos gêneros num só.

    Cotação:

    *Como citei, ao longo do filme pequenas dicas ajudam a revelar sua grande virada. Abaixo enumero algumas delas e obviamente se você ainda não assistiu, deixe para lê-las depois a fim de não estragar a surpresa reservada.

    - No início do filme, Teddy (DiCaprio) pergunta sobre o escritório de Seattle onde Chuck trabalhava. Este no entanto, diz ser de Portland. Quando em outro momento do filme (na cena do penhasco próximo ao farol), Teddy pergunta como Chuck achava que estaria o tempo em Portland, este o corrige dizendo ser de Seattle.

    - Assim que chegam à Ilha, o chefe de segurança pede que Teddy e Chuck entreguem suas armas. Nessa cena, fica clara a falta de habilidade de Chuck no manejo do coldre, o que obviamente já indicava que Chuck não era quem dizia ser.

    - O “Fuja” do curto recado escrito pela paciente Bridget (a que matou o marido) na cena das entrevistas na cafeteria, podia não significar nada, mas ao ter sido feito num momento em que Chuck se afastara da mesa, deixava no ar mais uma suspeita de que aquele cara escondia algo, como o fim mostra ao revelá-lo como o psiquiatra de Teddy/Andrew Laeddis.

    - Na cena em que Teddy e Chuck são obrigados a usar aquelas roupas brancas, dá para ouvir um dos pacientes ao fundo dizendo, “Não sei o que tenho que falar”, o que claro, era mais um sinal de que quase tudo daquilo se tratava de um teatro ensaiado.

    - Embora tenha dito que sua esposa Dolores (Michelle Willians) morrera num incêndio, nas várias sequências em que ela aparece está sempre molhada, o que casa com crime que cometeu: o chocante afogamento dos filhos. Fora isso, numa determinada cena, ela aparece com um ferimento no abdomen, que foi justamente o que causou sua morte após ser baleada por Teddy/Andrew.

    - Toda situação envolvendo o suposto desaparecimento de Rachel Solondo e seu posterior reaparecimento, soava implausível demais para ser real. Assim, só dava mesmo para interpretá-la como uma grande armação, que claro, mais tarde fica evidente como tendo sido mais um dos artifícios usados pelos doutores Cawley e Sheehan (Chuck) na tentativa de obrigar Teddy/Andrew a encarar a realidade.

    Agora para encerrar, vale destacar a dúvida que o fim do filme planta: pouco depois de reconhecer a realidade que poderia lhe trazer a sanidade de volta, Andrew retomar a personalidade de Teddy obrigando os médicos a abandonarem os métodos até então utilizados para recorrer à lobotomia. Mas será que Andrew regrediu mesmo ou apenas fingiu tentando encontrar a fuga definitiva para a realidade que não queria aceitar?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Avatar, a experiência do ano nos cinemas

Revolucionar é mudar, transformar uma coisa já existente em algo novo ou pelo menos diferente. O cinema em seus mais de 100 anos de história já viveu algumas boas revoluções desde a criação do cinematógrafo pelos Irmãos Lumière, e agora no finzinho de 2009 com a estreia de Avatar, dá o primeiro passo rumo a uma nova era. A afirmação pode soar exagerada é verdade, mas basta entrar numa sala de projeção 3-D para assistir o filme e constatar o óbvio: a mais nova produção de James Cameron é mesmo O filme do ano e provocará reflexos positivamente irreversíveis na indústria ao longo dos próximos.

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    Escrito e dirigido por Cameron (que andava de ‘férias’ depois dos 11 Oscars de Titanic), não é nenhum absurdo dizer que Avatar seja uma produção diretamente influenciada por trabalhos de ficção científica escritos por gente como Arthur C. Clarke (2001 – Uma Odisséia no Espaço). Futurista, fantasioso, mas absolutamente ligado a temas comuns à nossa história e realidade, o filme fala sobre relações entre povos e culturas distintas e sobretudo sobre a relação destes de respeito ou a falta dele com o meio em que habitam.

    Pelos olhos, e principalmente pela mente do ex-fuzileiro paralítico Jake Sully (Sam Worthington de O Exterminador do Futuro 4), Avatar nos leva à descoberta de um mundo totalmente novo na distante Pandora onde os nativos chamados Na’vi entendem, e literalmente se conectam com a natureza que os cerca ao mesmo tempo em que tentam resistir à opressão de humanos exploradores em busca de uma rica e abundante fonte de energia que poderia representar a salvação de uma Terra então devastada. Ou seja, qualquer semelhança com o período de colonização da América Latina por exemplo não é mera coinscidência.

    Em Avatar, os humanos são os grandes vilões de uma trama que se amplifica no romance nascido do encontro de uma guerreira nativa com um improvável (anti?) herói que se volta contra os seus. Só por isso, claro, não dá para dizer que o filme represente aquela revolução à qual me referi lá no início do texto. Contudo, é justamente a partir dessa premissa simples e longe de ser original que o filme ganha força, significado e beleza, graças à evolução da computação gráfica e da tecnologia de captura de movimento, que aliada ao 3-D, proporciona uma experiência inigualável, inesquecível e emocionante dentro da sala de cinema.

    Alardeado como o grande trunfo de Avatar, o salto técnico tão comentado ao longo dos anos que antecederam a chegada do filme aos cinemas, de fato cumpre a promessa e sinaliza o óbvio: efeitos visuais de última geração não podem mais ser elementos acessórios ou de mera distração em grandes blockbusters, mas devem sim atuar como facilitadores para que nossa conexão com a história contada na tela soe mais envolvente e crível.

    O mundo de Pandora e sua gama de magníficos personagens criados por James Cameron e sua equipe traz uma riqueza de detalhes absurda que aliada ao efeito 3-D, nos tira da posição de espectadores para nos colocar na de testemunhas das ações que evoluem na tela. Assim, quando vemos Jake Sully redescobrindo o prazer de poder correr com as ‘próprias’ pernas e mais tarde acompanhamos sua curiosidade com a fauna e flora da floresta local, a sensação é de estar lá, quase como um avatar invisível, mas totalmente integrado àquele belíssimo ambiente.

    O que Avatar fez agora pelo Cinema talvez ainda leve mais alguns anos para ser totalmente entendido por executivos de estúdios, estudiosos e fãs em geral, mas uma coisa já me parece certa: a revolução começou e o modo como iremos assistir filmes daqui para frente mudou para sempre e para muito melhor. Duvida?

    Outras observações:

    - Não comentei especificamente sobre os personagens, mas vale destacar pelo menos dois excelentes trabalhos no filme. Um deles é o da veterana Sigourney Weaver (a eterna Ellen Ripley de Alien), que transforma sua Dra. Grace numa figura complexa, cheia de contradições e por isso mesmo humana, e o da jovem Zoe Saldana (a Uhura do mais recente Star Trek), que na pele da guerreira Na’vi, Neytiri, multiplica por dez o impacto visual e emocional causado pelo Gollum de O Senhor dos Anéis, o primeiro personagem feito 100% em CGI a partir da captura de movimentos.
    - Não que premiações devam ser consideradas como validação da importância de uma produção, mas bem que eu adoraria ver Avatar disputando alguns Oscars como os de melhor filme, diretor, montagem, trilha sonora e, claro, efeitos visuais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

'Battlestar Galactica – The Plan', a cereja no topo do bolo

AVISO IMPORTANTE: Se você ainda não assistiu, mas pretende ver as quatro temporadas de Battlestar Galactica, não leia este texto e muito menos assista o filme agora, já que ambos tratam de eventos importantes da trama explorada na série encerrada em março de 2009.



“Os Cylons foram criados pelo Homem. Eles se rebelaram, evoluíram e se parecem humanos. Alguns foram programados para pensar que são humanos. Há muitas cópias. E eles tem um Plano.”

Essencialmente, The Plan, deveria ser apenas um filme bônus para os fãs de BSG que teriam a oportunidade de ver e entender o evento que provocou o extermínio de quase todos os humanos sob uma nova perspectiva. Deveria, porque na verdade The Plan é antes de qualquer coisa um filme sobre contradições e conflitos de uma máquina – o cylon John Cavil (brilhantemente interpretado pelo veterano Dean Stockwell) –, frente à imprevisibilidade que torna humanos figuras mais complexas do que a razão de um plano frio sugere.

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    Dirigido por Edward James Olmos (o comandante Adama da série) a partir do roteiro de Jane Espenson, The Plan é um espetáculo visual que amplifica a experiência oferecida pela série. No filme tudo é muito maior. Da abundante riqueza de detalhes nas sequências mostrando as naves cylons, passando pelo violentíssimo ataque às doze colônias mostrado com muito mais ênfase, The Plan é a cereja que faltava no bolo da série.

    Inteiramente centrado nos cylons, o filme relega (sem prejuízo) os outrora protagonistas de BSG a coadjuvantes de luxo (a presidente Roslin sequer aparece enquanto Baltar, Apollo, Starbuck e Helo surgem em raras cenas muitas vezes reaproveitadas da própria série) numa trama que revisita vários momentos chave da história no período que compreende as duas semanas anteriores ao ataque até 281 dias após através dos olhos de cada um daqueles agentes mecanizados e suas várias ações de sabotagem e conspiração para acabar com os humanos de uma vez por todas tanto no que restou da resistência em Caprica quanto na frota liderada pela Galactica.


    Cavil e os 5 cylons originais numa cena repleta de sutilezas

    Mostrando os cinco cylons originais desde o início, The Plan também permite que saibamos não só onde estavam, mas sobretudo quem eram aquelas importantes figuras no momento dos ataques e como suas histórias se cruzaram com os cylons conspiradores liderados por Cavil. Assim, quando vemos a lasciva Ellen Tigh por exemplo falando que não acreditava na mudança do homem para uma das duas cópias de Cavil do filme (a outra aparece em Caprica), temos uma boa noção do extenso caminho que a levou até o desfecho que vimos no fim da série.

    E como a palavra chave do filme é a contradição dos cylons, The Plan dá ainda uma nuance nova ao comportamento de Sharon “Boomer” Valerii, cuja dúvida existencial antes e depois da tentativa de assassinato de Adama, a consome de forma muito mais evidente. O mesmo vale para Leoben e sua obsessão por Starbuck; a Seis (da bela Tricia Helfer) e seu papel nos rumos da trégua ocorrida em dado momento, e até Simon, que tal qual as duas cópias de Cavil, age de forma distinta após um extenso contato com humanos na frota (onde tem família) e em Caprica onde segue o grupo liderado por Sam.

    Fundamental para quem é fã da série, The Plan é Battlestar Galactica como nunca vimos antes. Maior, mais cru e ainda com algo a dizer, o filme planta no grito frustrado e desesperado de uma máquina que se recusa a enxergar na falibilidade humana a beleza de não ter a certeza sobre tudo, a semente que nos faça ter o desejo de (re)ver as quatro temporadas de novo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Up – Altas Aventuras (Up)

Up – Altas Aventuras pode até não ser o melhor filme da Pixar (posto ainda ocupado por Wall-E), mas é facilmente um dos mais divertidos e encantadores já feitos pelo estúdio. Contando a história de um velhinho viúvo que decide realizar o sonho de sua falecida esposa, Up é simples como seu título sugere, mas profundo e emocionante na mensagem que explora.

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    Dirigido e roteirizado pela dupla Pete Docter (Toy Story 1 e 2, Monstros SA e Wall-E) e Bob Peterson (Procurando Nemo e Ratattouille), Up é repleto de sutilezas e daqueles momentos em que é impossível conter as lágrimas. Belíssimos, seus dez minutos iniciais fazem uma homenagem indireta ao cinema mudo ao contar a história da vida de Carl Fredricksen, um apaixonado pelas aventuras fantásticas de desbravadores que encontra em Ellie, sua parceira de vida e sonhos perfeita até o dia em que ela se vai.

    Víuvo e amargurado pela solidão, Carl decide enfim tornar realidade o desejo da falecida esposa: levar sua casa para o alto de uma mítica montanha isolada da América do Sul onde enfim acreditava poder encontrar a paz perdida. E é assim, com Carl viajando com a casa pelos céus graças a vários balões de hélio, que Up explora na inusitada relação que ele estabelece com o divertido (e também solitário) garoto Russel, a motivação para deixar o passado para trás e ter seu coração quebrantado.

    Essencialmente feito para agradar crianças com seus bichinhos bonitinhos e engraçados (atenção no ótimo cão Dug), Up captura com precisão o interesse de adultos ao brincar de examinar o âmago do homem moderno que vive de planejamentos, mas que quase nunca busca a realização de seus sonhos de fato. E é assim, com uma trama simples e longe de ser piegas, que essa nova obra de arte da Pixar consegue (de novo) duas proezas: ser tão divertida quanto tocante.

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Se Beber Não Case (The Hangover)

Fruto de uma união equilibrada entre bom roteiro, elenco e direção, na essência ‘Se Beber Não Case’ (The Hangover no original) é uma produção despretensiosa, mas que ao ousar na fórmula, aparece fácil fácil como a melhor comédia do ano.

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    Simples, esperto e por que não dizer inteligente, Se Beber... diverte do início ao fim (o que já é uma raridade), e é notadamente um esforço corajoso de gente que não tem medo de arriscar subvertendo um gênero que há tempos parecia mergulhado no ostracismo criativo.

    Dirigido por Todd Philips (Caindo na Estrada e Dias Incríveis) e com roteiro da dupla Jon Lucas e Scott Moore, Se Beber... conta a história de um grupo de amigos que se descobrem metidos numa imensa confusão em Las Vegas depois de uma noite de bebedeira motivada pela despedida de solteiro de um deles.

    À primeira vista encarado apenas como mais um besteirol, não demora muito para que o filme se difira da maioria ao transformar um pequeno mistério (o sumiço do noivo) e as várias situações absurdas que surgem dali (tem um tigre e um bebê aparecendo no quarto do hotel; um dos personagens acordando sem dente, e até Mike Tyson dando as caras) em fonte inesgotável de muita risada.

    Contando com um roteiro eficiente e que nos envolve na história à medida em que vamos descobrindo junto dos personagens, o que de fato aconteceu no período de tempo entre a chegada deles a Las Vegas e o despertar no detonado quarto de hotel no dia seguinte, Se Beber... tem como grande trunfo a química afiada do trio Phil (Bradley Cooper), Stu (Eddie Helms) e Alan (Zach Galifianakis), que mesmo bem diferentes entre si, não deixam a bola cair em momento algum quer seja por ações ou diálogos.

    Surpreendente na narrativa e no esmerado trabalho de direção de Todd, já experiente em comédias, Se Beber Não Case é excelente primeiro porque faz rir (e muito) com suas várias piadas politicamente incorretas, mas sobretudo por dar a seus espectadores, a chance de se identificar com uma trama que poderia acontecer (ou já aconteceu) com qualquer um. Imperdível.

    Cotação:

    Se Beber Não Case estreia na sexta-feira, dia 21/08 e sua continuação já está programada para 2011.

domingo, 16 de agosto de 2009

Brüno

Aparentemente mais interessado em chocar, do que em expor preconceitos de um jeito engraçado como fez com Borat em 2006, Sacha Baron Cohen retorna aos cinemas com Brüno, comédia centrada no personagem gay austríaco que decepcionado com os rumos de sua carreira, decide buscar a fama nos EUA a todo custo, mesmo que isso signifique usar artifícios apelativos.

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    Repetindo o fórmula de seu antecessor cazaque, mas com menos inspiração, Brüno é um grande emaranhado de esquetes que ao contrário daquela produção, não dão o senso de continuidade narrativa que se espera de um bom filme por mais despretensioso que possa ser (ou parecer ser). Assim, há determinados segmentos que surgem na metade da produção que poderiam estar no início sem qualquer prejuízo maior à história que supostamente se conta.

    Provocativas, mas não necessariamente inteligentes, as críticas feitas à homofóbica sociedade americana (e do resto do mundo de uma forma geral, claro) tem sua força diminuída no filme, na medida em que o personagem austríaco de Cohen se perde na tênue linha que separa os artifícios de denúncia daqueles que reforçam esteriótipos representados numa afetação por vezes exagerada.

    Equívocos à parte, Brüno é engraçado principalmente nas sequências em que o personagem ridiculariza segmentos religiosos, militares e celebridades, e faz piadas politicamente incorretas (as envolvendo o bebê O. J. são ótimas). É inegável, porém, que determinadas esquetes não funcionam nem pela piada nem pela crítica, como aquela em que Brüno vai à Palestina para buscar a paz entre árabes e judeus e para entrevistar um suposto terrorista.

    Com mais escorregões do que acertos, infelizmente Brüno deixa a sensação evidente de ser um filme que se sustenta mais pela escatologia (o que foi a cena do vidente?) e parcialidade do que pela sátira ao comportamento humano frente às diferenças. Que a produção vai render milhões à Cohen não tenho dúvida, mas me parece igualmente certo dizer que dessa vez o comediante perdeu a mão com uma piada que faz rir pelos motivos errados, o que é sempre uma pena.

    Cotação:

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Exterminador do Futuro: A Salvação

Objetivamente, O Exterminador do Futuro: A Salvação (ou simplesmente T4) é um bom filme. Sua narrativa é enxuta, desenvolve bem as personagens de Kyle Reese e do novato Marcus Wright (ainda que ‘esqueça’ de fazer o mesmo com John Connor e desperdice os demais). Na essência, diverte com ótimas sequências de ação beneficiadas por efeitos visuais impecáveis. Além disso, ao abraçar um tom mais sério – que foge das piadinhas infames de T3 -, a produção nos dá, em 2018 (ano em que se situa a trama), um vislumbre nu e cru do futuro pós-apocalíptico tão mencionado nas duas primeiras partes da franquia iniciada em 1984, o que sem dúvida é um dos grandes mérito do filme.

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    Dirigido por McG (As Panteras 1 e 2, Somos Marshall) e com roteiro de Jonatham Nolan (Batman - O cavaleiro das Trevas), mas oficialmente creditado à dupla John Brancatto e Michael Ferris (de T3 e do terrível Mulher Gato), T4 apaga a má impressão deixada pelo filme anterior e ainda que não supere os dois primeiros, dá novo gás à franquia graças, sobretudo à subeversão da fórmula construída pela série. A ameaça agora não vem do futuro, mas sim do passado.

    Ao introduzir e dar espaço ao desenvolvimento de Marcus Wrigth – um condenado à morte em 2003 que cede seu corpo para o avanço da ciência via Cyberdyne Systens, uma das precurssoras da Skynet -, o filme abre espaço para que criemos uma empatia genuína por um personagem que surge misterioso e que ao longo da trama desempenha papel fundamental tanto como ameaça quanto como a salvação do título. A isso, claro, deve-se a bela composição de Sam Worthington em seu primeiro grande papel no cinema (em breve ele aparecerá no aguardado Avatar, de James Cameron, e na refilmagem de Fúria de Titãs) que constrói no personagem mais interessante do filme, arcos de tragédia e redenção bastante consistentes e interessantes.

    E se Marcus surge como o ponto forte de conexão do filme, Kyle Reese também não fica para trás, na interpretação acertada de Anton Yelchin (o Chekov do novo Star Trek). O homem que, sob ordens de John Connor, um dia volta ao ano de 1984 para proteger Sarah e que acaba engravidando-a do próprio John (pois é, o paradoxo nunca será desfeito), surge como uma figura importante da trama e que, ainda jovem, já traz os mesmos traços psicológicos do personagem que Michael Biehn fez no primeiro filme. Lamentável, no entanto, que o roteiro de T4 abra mão de dedicar um maior desenvolvimento também para John Connor (Chistian Bale), que aparece como um dos líderes da resistência dos humanos contra as máquinas da Skynet, ainda que não exista nenhuma camada mais complexa que justifique sua posição, além daquela de ser sempre citado como uma espécie de messias ou prometido, o que de certa forma diminui a importância do personagem, que acaba aparecendo como mero coadjuvante de luxo em um filme que deveria ser seu.

    Elegante em suas homenagens e referências, sobretudo aos dois primeiros filmes – vide a aparição da fitas gravadas por Sarah Connor às quais John recorre em busca de orientação, a cena da moto ao som de "You Could Be Mine" do Guns N’Roses que remete à uma bem parecida de T2, além da rápida aparição do próprio T-800 imortalizado por Schwarzenegger -, T4 acerta no tom e na abordagem de um futuro sombrio que graças à fotografia empregada soa ainda mais assustador. É pena no entanto que o filme patine em pontos importantes da trama, como naquele em que a resistência obedece John Connor em seu pedido para não atacar a Skynet mesmo quando este não dá um motivo para tal e insira de forma forçada os jargões famosos da franquia só para (tentar) impressionar. Além disso, é inegável que seu desfecho demasiadamente apressado, artificial e conservador colabora para diminuir o impacto que as palavras de Connor poderiam ter como possível gancho para um quinto filme.

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terça-feira, 2 de junho de 2009

Sessão 3 em 1 – Wolverine, Anjos & Demônios e Star Trek



A partir de hoje e esporadicamente, você encontrará por aqui o Sessão 3 em 1 que nada mais é do que um post concentrando breves comentários de 3 filmes. Na estreia, 3 produções recentes que muitos de vocês certamente já viram ou planejam ver em breve.

X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine)

Tudo que sei sobre Wolverine aprendi durante a adolescência com aqueles desenhos que passavam na Globo e com (as poucas) leituras dos quadrinhos onde o personagem efetivamente nasceu. Ainda assim, não precisava ser nenhum gênio para saber que as tais origens de Wolverine no cinema certamente não seguiriam à risca aquela criada por Lein Wein na década de 70. Considerando esse panorama, a verdade é que as origens propriamente ditas de um dos personagens mais famosos da Marvel funciona bem na telona, ainda que a metade final do filme descambe para a porradaria inócua.

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    Dirigido por Gavin Hood (de Tsotsi, filme vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2006) e roteirizado pela dupla David Benioff (Tróia) e Skip Woods (Hitman), X-Men Origens: Wolverine sempre foi, desde sua pré-produção, um filme de estúdio com a clara intenção de dar continuidade à franquia dos mutantes e sobretudo de dar exposição máxima ao seu protagonista, Hugh Jackman, que também foi produtor do filme. Jackman, aliás, não decepciona no papel que o lançou ao estrelato em 2000 e continua conferindo complexidade ao personagem, que nesse filme divide a ação com um Dentes de Sabre (o ótimo Liev Schireber) muito mais interessante que aquele visto no primeiro filme dos X-Men.

    O grande (e decisivo) problema do filme no entanto é que ele deixa uma forte impressão de ruptura entre a 1ª parte e a 2ª e última. É como se vissemos dois filmes num só. A primeira investe no desenvolvimento de personagens e cria um universo crível (a relação íntima, mas conflituosa entre Logan e Victor é o carro chefe disso), ainda que fantástico, enquanto a segunda ignora a complexidade do personagem preferindo dar foco à viradas desinteressantes e à ação descerebrada (ainda que cheia de efeitos visuais bacanas) que só serve para fazer referências aos X-Men que se formariam no futuro, vide a aparição de Ciclope e mais tarde do professor Xavier.

    Em suma, X-Men Origens: Wolverine envolve graças à seu início e no geral diverte, mas se tivesse sido feito antes da trilogia encerrada em 2006, arrisco dizer que teria sido também o último da franquia. Como não é o caso, é certo que teremos um Wolverine 2 que torço, seja bem melhor que esse.

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    Anjos & Demônios (Angels & Demons)

    Objetivamente, ler um livro de Dan Brown (e agora ver o filmes inpirados em suas obras mais famosas) é como ir ao McDonald’s comer um Big Mac. Certamente vai te dar uns instantes de prazer, mas no fim a experiência não terá sido nada nutritiva. E é exatamente isso que acontece ao se assistir a adaptação de Anjos & Demônios, filme que no fim das contas é um entretenimento meramente fast food e nada mais.

    Roteirizado por David Koep e Akiva Goldsman, e dirigido por Ron Howard (também diretor de O Código Da Vinci), o filme funciona como uma espécie de sequência indireta para o primeiro filme ainda que no livro a trama deste ocorra antes do Código. A decisão em si é até interessante já que ao colocar Robert Langdon (Tom Hanks sem o terrível mullet) como única alternativa de ajuda para a Igreja Católica frente à crise que se instala no Vaticano em pleno conclave, ela explora, ainda que superficialmente, o paradoxo da fé que recorre à ciência para resolver um problema.

    Embora transmita adrenalina em boa dose e desenvolva bem sua ação central, Anjos & Demônios falha ao insistir em viradas e surpresas que não seguem uma linha lógica. Assim, sendo apresentadas na urgência de cenas rápidas, não dá nem tempo de (tentar) racionalizar qualquer entendimento. Porém, tão logo o filme termina, a sensação de ter sido enganado é tão grande que você nem se espanta com a ‘grande’ virada final quando o vilão por trás da conspiração que usa os Iluminatti como inimigo da Igreja Católica é revelado.

    Além disso, fica claro que Anjos & Demônios investe na construção de uma trama que soa mais complexa do que de fato é. E nisso, o roteiro de Koep e Goldsman se dedica de forma até exagerada, diria eu, em criar falsas expectativas na tentativa de conferir mais importância às revelações que vão sendo feitas (vide o arco do Cardeal Strauss e a do próprio Camerlengo). A verdade porém, é que não demora muito para que o espectador mais atento perceba que o thriller exige, com o perdão do trocadilho que a trama permite, muita fé para que se compre tudo o que vemos na tela. E sem isso, não há filme que resista.

    Cotação:

    Star Trek (Star Trek)

    Para os fãs da série clássica e dos filmes que dela vieram, o novo Star Trek dirigido por J.J Abrams (Alias, Lost, Missão Impossível 3) e roteirizado pela dupla Roberto Orci e Alex Kurtzman (colaboradores de Abrams na série Fringe) certamente remete à nostalgia e à clara sensação de reboot. Para os iniciados, como eu, que pouco conheciam do universo criado por Gene Roddenberry, a sensação é outra: a de se testemunhar o nascimento de uma franquia novinha cheirando a tinta e que sabe mesclar elementos certos para criar uma trama envolvente e que garante muita diversão.

    Como grande mérito do filme aliás, vale destacar que, de uma forma geral, Star Trek tem tudo para agradar tanto os fãs veteranos quanto os iniciados. Ao decidir contar a história da formação da tripulação da Enterprise, meclando à narrativa a viagem no tempo como parte da trama, o roteiro de Orci e Kurtzman espertamente consegue tanto apresentar e desenvolver aqueles personagens clássicos de forma natural, para quem nunca os tinha visto, bem como corroboram aspectos inerentes a Kirk, Spock e cia. E ainda fazem uma homenagem direta aos intérpretes originais usando Leonard Nimoy como um dos pontos chave da trama.

    Somando-se a isso, a direção equilibrada de Abrams confere ritmo à trama sem nunca permitir que os belos efeitos visuais se sobreponham à história. Contando ainda com atuações equilibradas e bastante satisfatórias de boa parte do elenco (com destaque para Zachary Quinto como a versão jovem de Spock), Star Trek literalmente abre um novo capítulo na história da saga estelar de forma surpreendentemente renovadora. Não é à toa aliás, que o filme tem recebido boa resposta tanto de público quanto de crítica, um casamento cada vez mais raro e incomum quando o assunto é blockbuster. Se ainda não viu o filme, corra para o cinema mais próximo e surpreenda-se você também.

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terça-feira, 10 de março de 2009

Watchmen: os fins justificam os meios?

Ao contrário de muita gente que só está conhecendo Watchmen agora, me lembro muito bem do impacto que a obra exerceu sobre mim quando a li pela primeira vez há mais de 10 anos. Diferente de quase tudo o que universo dos quadrinhos já ousou explorar, a obra criada por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons falava de um mundo dominado pelo medo da guerra fria e pela decadência moral de uma sociedade que tinha perdido todas as referências e estava perto do colapso. A guerra fria pode ter acabado, mas a sociedade de hoje não é assim tão diferente da retratada por Moore no anos 80. Sendo assim, será que Watchmen - O Filme poderia ser uma produção relevante?

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    Contando com uma linguagem adulta numa narrativa dominada pelo noir, uma história intrincada e repleta de subtextos contada por personagens não menos complexos e distantes do modelo ‘convencional’ de super herói, Watchmen se consagrou exatamente por inovar e fugir do lugar comum. Com tudo isso em mente, a grande pergunta que ficara no ar depois do anúncio de que a graphic novel ganharia uma adaptação, era se o filme de Zack Snyder (300) conseguiria passar para a tela toda a força que aquela história e aqueles personagens tinham. A resposta pura e simples? Sim. Não que Watchmen – O Filme seja perfeito (pois não o é), mas é inegável que funciona maravilhosamente bem ao reproduzir numa telona, grande parte da magia e do impacto emocional que a história tem.

    Dá para fazer o bem através do mal? Os fins, afinal, justificam os meios? Esses são na minha opinião, os grandes questionamentos da obra de Moore e que Snyder replica no filme de forma consistente. Os principais acertos do filme? (1) A construção de todo o arco que expõe os motivos do assassinato do Comediante é envolvente e exprime todas as boas qualidades de filmes de suspense cujas camadas vão pouco a pouco sendo reveladas. (2) A apresentação dos personagens e de suas histórias se dá de forma fluida e orgânica na história sem atropelos ou exageros. (3) Várias das passagens mais famosas da HQ foram reproduzidas quase que à perfeição. (4) A fotografia traduz com muita competência a ambientação de um mundo que vive sobre a sombra de uma devastação iminente. (5) O bom uso da trilha sonora em grande parte do filme (a abertura ao som de Bob Dylan ficou perfeita). (6) O acerto na maioria das escolhas do equilibrado elenco (Jeffrey Dean Morgan e Jackie Earle Harley estão ótimos como o Comediante e Rorschack respectivamente) e (7) A ‘pequena’ alteração do final do filme em relação à HQ, trouxe um tom ainda mais impactante e porque não dizer, plausível à tudo.

    Mas, se Watchmen – O Filme tem tantos acertos, porque não é perfeito? Simples: a insistência de Snyder em usar o recurso do stop motion (já tão empregado em seu filme anterior, 300) em váriasssss tomadas cansa e é absolutamente desnecessária na maioria delas já que em vez de envolver, acaba funcionando mais como distração boba; a interpretação canastrona de Matthew Goode como Adrian Veidt/Ozymandias diminuindo a importância do personagem no último arco da história, e, finalmente a sutil, mas desnecessária inserção de um ground zero fazendo uma referência óbvia demais ao 11 de Setembro no finzinho do filme. De resto, temos tudo nos devidos lugares. O Comediante manteve o tom amoral e fascista da HQ; o retrato de Rorschach (o melhor personagem da HQ e também do filme) revela-o tão psicopata quanto os criminosos que prendeu/matou; a impressão de que o Dr. Manhattan perdeu a humanidade quando deixou o corpo de Jon Osterman e passou a viver como um semideus usado como arma de guerra e persuasão continua forte e a Spectral, que é tão linda e sexy quanto a HQ sugeria.

    Agora, o grande mérito do filme, fica mesmo por conta de sua capacidade de deixar o convite para que reflitamos sobre a subversão de valores tradicionais. O que era errado antes, pode ser certo hoje e vice-versa? O vigilantismo seria um mal necessário para uma sociedade cada vez mais avessa à regras e que ignora qualquer base moral? Dá para aceitar que em prol de um bem maior, as vidas de alguns milhões sejam sacrificadas para salvar bilhões? Watchmen é um estudo sobre a natureza humana que poucas obras tem coragem de fazer, e como peça de entretenimento, funciona tanto para divertir quanto para fazer pensar. Considerando tudo isso, goste ou não do tema, dá para negar a importância da criação de Moore/Gibbons agora traduzida para a telona por Snyder? Tenho certeza que não, e você?

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domingo, 28 de dezembro de 2008

Comentários do filme 'Marley & Eu'

Quando li Marley & Eu, livro escrito pelo jornalista John Grogan sobre suas memórias com o 'pior cão do mundo' (definição dele) dois anos atrás, lembro de ter chorado como se aquela históia me trouxesse a lembrança do cão que nunca tive. Sim, eu sei que isso parece exagero, mas a sensação transmitida pela história do cão labrador, que marcou a vida de uma família então em formação, tinha essa força e sei que esse sentimento é compartilhado por muita gente. Assim, quando soube que o livro ganharia uma adaptação no cinema protagonizada por Owen Wilson (Penetras Bons de Bico) e Jennifer Aniston (a eterna Rachel de Friends), confesso que temi um filme engraçadinho que pouco fosse fiel ao material original. Por isso, fiquei surpreso ao ver uma história diferente daquela, mas cujo resultado final respeita a essência do livro, revelando um filme que dosa o humor e o drama na medida certa. Marley & Eu faz rir e chorar de forma natural e mesmo para quem não leu o livro é uma experiência excepcional, embora um pouco menos impactante.

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    Para quem leu o livro, é impossível deixar de fazer comparações. Dentre as diferenças mais significativas que o filme traz estão a de que Marley entra para a família bem antes da tentativa de gravidez de Jenny Grogan (Aniston) e a de que existem outros personagens periféricos ao núcleo do casal como o jornalista Sebastian (Eric Dane, o McSteamy de Grey's Anatomy) e o editor chefe Arnie (o ótimo Alan Arkin). À princípio, essas mudanças poderiam soar forçadas, mas não demora muito para que percebamos que elas se tornam orgânicas à história, já que servem como contra-ponto para os dilemas - pessoais e profissionais - que movem John Grogan (autor do livro e colaborador do roteiro do filme). Tirando essas diferenças, tudo mais que Grogan nos contara sobre Marley no livro está no filme, incluindo a obsessão do cão em destruir (quase) tudo, passando pelo trecho em que ele é expulso da aula de adestramento, seu medo de trovões e até o momento em que ele 'batiza' as águas da praia onde as pessoas podiam levar seus cães.

    Outro destaque da adaptação, é que ela foge da armadilha comum em filmes com animais, de tentar mostrar o mundo da família Grogan pelos olhos de Marley. Aqui ele é 'apenas' aquele cão endiabrado do livro, capaz de levar seus donos próximos da loucura, mas que é igualmente fiel e companheiro como nenhum ser vivo consegue sê-lo nos momentos mais felizes e tristes de alguém (a cena em que Jen descobre ter perdido o bebê e é 'consolada' por Marley é a tradução perfeita disso). Outro ponto positivo é a forma com a qual o filme destaca a passagem de tempo da história. No filme dirigido por David Frankel (de O Diabo Veste Prada), não há sensação de atropelos ou mesmo a de que eventos importantes foram ignorados. Assim, quando chegamos ao final que narra a despedida de Marley, dá para sentir o forte impacto e a marca que o animal deixou na família Grogan (àquela altura já com 3 filhos) e principalmente em John (numa interpretação equilibrada de Owen Wilson), conferindo à história um peso emocional bastante significativo e contundente.

    Marley & Eu não é uma adaptação perfeita, mas na missão de divertir e fazer chorar o filme passa com louvor. Se ainda não viu, junte a família e corra para a sala de cinema mais próxima. Só não esqueça de levar o lenço.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

24 Horas: Comentários do telefilme '24: Redemption'

Exibido nos EUA no dia 23 de Novembro de 2008

Funcionando muito bem como um aperitivo de luxo para a 7ª temporada de 24 Horas, que estréia no dia 11 de janeiro de 2009 nos EUA, 24: Redemption (Redenção) foi exibido na noite deste último domingo na Fox americana, marcando o retorno de Jack Bauer (Kiefer Sutherland) à tela depois de 18 longos meses de férias forçadas provocadas, em parte, pela greve dos roteiristas, ocorrida entre o final de 2007 e o início de 2008. Mantendo o conceito do 'tempo-real' da série, o telefilme é inegavelmente uma produção caprichada que traz boas doses de ação fazendo jus à força que a marca carrega, mas será que só isso basta?

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    Embora traga o mesmo clima da série e explique o que aconteceu com Bauer desde o final da 6ª temporada - ele estava tentando se manter à margem do governo americano que, apesar de todos os seus sacrifícios, o intimira a prestar esclarecimentos sobre suas ações do passado -, a produção de uma maneira geral tem um ritmo irregular que não traz o mesmo senso de urgência constante visto nos episódios da série, além de apresentar certas incongruências (mais sobre isso logo abaixo). Isso porém, não diminui o peso de uma história simples, mas que reflete com singular clareza, uma triste realidade que assola muitos países da África: a da guerra comandada por ditadores inescrupulosos e guiados pela sede de poder e que não se importam em usar crianças inocentes para fazer seu trabalho sujo.

    Quando Redemption começa, Bauer está em Sangala, um país (fictício) da África onde está colaborando com Carl Benton (Robert Carlyle), um antigo amigo das Forças Especiais que montou uma escola no lugar para ajudar crianças em sua maioria orfãs de guerras e massacres a terem uma chance de encontrar um caminho digno. Nesse cenário de tantas mazelas, enxergamos em Jack a fragilidade emocional e a dor que as diversas decisões impossíveis que fora obrigado a tomar durante anos lhe impuseram. E ao dizer isso, vale destacar que Kiefer Sutherland continua convencendo como o homem que fica ano após anos cada vez mais atormentado por causa de seu trabalho, o que não deixa de ser mais um aspecto interessante da série, já que apesar de seus diversos feitos incríveis, não tentam vender Bauer como um sujeito imune às consequências do que faz.

    Com mais armas do que soldados, não demora muito para que a milícia comandada pelo general Juma (Tony Todd) e seus asseclas passe a aliciar e a sequestrar garotos para seu exército usando o discurso de que era necessário tomar o poder do país e combater o imperialismo ianque que tanto lhes oprimia. O detalhe propositalmente omitido no discurso, é que o principal financiador da guerra que eles iriam iniciar era justamente um ianque (Jonas Hodges, personagem do veterano Jon Voight) cujos interesses escusos só conheceremos na 7ª temporada. Sendo assim, com as crianças em perigo, e com o burocrata da embaixada americana (Frank Trammell, papel de Gil Bellows) pouco interessado em ajudar (a não ser que Bauer atendesse à intimação do governo americano), não demora muito para que o atormentado herói deixe de lado o estilo bom samaritano e volte a fazer o que sabe melhor: eliminar vilões aos montes e de um jeito que só ele sabe.

    Nessa parte, a produção ganha em adrenalina e nos lembra porque 24 Horas continua sendo a melhor série de ação da tv. Pena que intercalada a essas sequências, estejam cenas que mostram alguns dos momentos que antecedem a cerimônia de posse de Allisson Taylor (Cherri Jones), a nova presidente americana. E não me entenda mal. Sei que para funcionar como um prólogo para a 7ª temporada, era mais do que necessário que víssemos pelo menos um pouco do que andava acontecendo em Washington. E se foi bacana rever Tom Lennox (Peter MacNicol) mesmo que brevemente, causa certa estranheza que faltando poucas horas para entregar o cargo à nova moradora da Casa Branca, o então presidente Noah Daniels (Powers Boothe) tivesse tempo ou mesmo interesse em chamar a atenção de Allison Taylor para um golpe de Estado que tomava forma em Sangala, um país ao qual ele mesmo se refere depois como sendo dispensável para o governo americano, já que ele não teria nenhum recurso natural que pudesse render interesse econômico dos EUA. Isso de certa forma, pode até funcionar direitinho como uma crítica sutil à verdadeira política recente dos EUA e é bom lembrar que a série já fez isso outras vezes, mas a situação não me pareceu muito plausível para aquele momento especificamente, a não ser, claro, que Daniels já estivesse de certa forma sendo influenciado por Jonas Hodges, ao que duvido.

    Apesar dos pequenos equívocos (o interesse obsessivo do garoto Willie com o lenço fica ainda mais irritante quando vemos o que ele provocou), 24: Redemption é uma boa mostra de que a série tem potencial para explorar histórias isoladas. No fundo não há nada de tão original na produção que insiste em não abrir mão de repetir os mesmos elementos já tão explorados dentro das temporadas, isto é: Bauer sendo torturado, vilões aos montes sendo eliminados por ele, outro grande vilão com ligações, influência e acesso nos mais altos escalões do governo, um presidente com boas intenções e muita, mas muita ação.

    A tal Redenção do título pode até não ter chegado para Jack Bauer ainda, mas para quem tava louco de saudade e curioso para conferir o retorno desse icônico personagem, 24: Redemption rende momentos de ação empolgantes e alguns bons momentos que até emocionam pela sinceridade do gesto, o que certamente não é pouco para uma produção que se vende com tiros e explosões.

    Notas:

    Tony Todd, o General Juma, já participou de 24 Horas antes como um detetive que apareceu em um episódio da 3ª temporada.

    Eric Lively, ator que faz Roger Taylor, o filho da presidente Allison, é irmão da atriz Blake Lively, a Serena de Gossip Girl. Aliás, sobre o personagem de Lively, dadas as indicações da trama do telefilme, aposto desde já que em algum ponto da 7ª temporada iremos vê-lo como refém de uma situação crítica, ou mesmo como alguém que vai entrar de cabeça na ação.

    Qual foi a contagem de 'vítimas' do Jack no telefilme? Alguém se arrisca ou prefere esperar pelo registro do BauerCount.com ?

    E aquele lenço do garoto Willie, onde foi parar? Alguém viu? :p