segunda-feira, 13 de abril de 2009

A volta de In Treatment - 1ª semana da 2ª temporada

Texto com comentários de episódios ainda inéditos no Brasil



Começou no dia 5 de abril, nos EUA, a 2ª temporada de In Treatment (Em Terapia, no Brasil), simplesmente uma das melhores e mais instigantes séries da atualidade. Nela não há ação, cenários elaborados, música ou qualquer outro elemento tradicionalmente visto em outras produções. In Treatment se sustenta basicamente sobre dois pilares: interpretações inspiradas e diálogos muito bem construídos.

Sendo assim, como fãs das sessões de terapia do Dr. Paul Weston (Gabriel Byrne), a Juliana e eu cobriremos essa 2ª temporada integralmente, seguindo o calendário de exibição americano, condensando num post semanal nossos comentários e opiniões sobre a evolução do tratamento de cada um dos quatro novos pacientes, além, é claro, das visitas do ainda mais complexo Paul à Gina (a ótima Diane Wiest).

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    Investindo numa abordagem ainda mais intimista em relação à temporada de estréia e contando com personagens que ouso dizer, são mais interessantes que os antigos, o 2º ano já começa com uma bomba para Paul Weston: o pai de Alex – o piloto que morreu num acidente aéreo -, aparece na casa do psicólogo (que se mudou para o Brooklin depois de se divorciar de Kate), para avisar que o estava processando por negligência acusando-o de ser responsável pelo suicídio de seu filho. Não vou entrar no mérito se o cara tem ou não o direito de processar Weston (e até acredito que tenha). Mas, é curioso ver que Paul, mesmo indignado com a acusação, ainda tenha tentado argumentar com o pai de Alex civilizadamente. Na pele dele, eu teria dito algumas boas verdades para aquele senhor, tais como a de que ele sim tinha muita culpa na tragédia do filho em função de uma criação reprimida, que lançou Alex numa espiral fantasiosa de que se podia controlar tudo, o que inegavelmente ajudou a construir nele a culpa pelas consequências de seu trabalho e que, numa última instância, pode tê-lo feito se matar.

    Mia – segunda-feira

    Seja lá como for, fato é que foi em função desse processo que Paul entrou em contato com Mia, advogada bem sucedida, na faixa dos 40 e poucos anos, interessada em defendê-lo da acusação, mas que guarda um histórico pessoal com ele: ela fora sua paciente 20 anos antes. E embora o primeiro encontro entre Paul e Mia não tenha sido uma sessão propriamente dita, é curioso que, embora ela diga veementemente que o processo contra ele muito provavelmente seria arquivado, ela tenha usando o encontro para tirar antigos esqueletos do armário, provocando uma avalanche de sentimentos mal resolvidos que inevitavelmente se misturam ao detalhamento do processo. Paul foi negligente no tratamento de Mia no passado? Ela o culpa por ter direcionado integralmente seu foco na carreira privando-se de não ter constituído família? São essas as perguntas que muito provavelmente serão exploradas ao longo das próximas sessões entre os dois.

    April - terça-feira

    À princípio, a jovem estudante de arquitetura poderia ser vista como a equivalente da Sophie da temporada anterior, já que decidida a isolar-se de amigos e parentes em função de um grave problema de saúde – a garota tem câncer -, April também está de certa forma tentando se destruir, ainda que inconscientemente. Apesar de independente, como o Paul a vê, April é uma jovem irritada que na recusa de aceitar o que lhe aconteceu, assume uma postura defensiva e isolacionista na vã esperança de que vai se vingar da doença simplesmente negando-se a tratar dela. Dos quatro novos pacientes de Paul, ela talvez seja a mais complexa e a que vai oferecer a maior carga dramática durante as sessões, o que diga-se de passagem, é um convite e tanto para que nos envolvamos no problema dela.

    Oliver - quarta-feira

    Curiosidade: em Be’Tipul, série israelense que inspirou In Treatment, esse personagem na verdade é o filho do casal que se divorciou depois de fazer terapia com Paul na 1ª temporada (Jake e Amy na versão americana). Se a manutenção desse aspecto traria algum elemento mais interessante às sessões eu não sei, mas o que já dá para dizer é que Paul inevitavelmente enxerga nos dilemas do garoto problemas idênticos ao que seu filho deve encarar em função do distanciamento do pai, em virtude do divórcio. Além disso, as sessões com o garoto prometem ser interessantes, sobretudo por mostrar como adultos podem ser tão imaturos quanto os filhos que deveriam criar para serem o melhor que puderem. Luke e Bess são, cada uma a sua maneira, dois perfeitos exemplos do modelo que pais NÃO deveriam seguir. Ele liberal demais, ela super protetora. E no meio disso um garoto frustrado sem saber que direção seguir.

    Walter - quinta-feira

    É óbvio que nenhum profissional na posição de Paul poderia dar tão rápido o diagnóstico que Walter (o veteraníssimo John Mahoney, o Martin Crane de Frasier) tanto exigiu para seu problema com insônia, mas bastou uma sessão para perceber o óbvio: muito mais do que a preocupação com sua filha, que vive os perigos de se trabalhar num país instável, o grande problema do experiente executivo é de ter passado do ponto em que deveria se desligar da rotina estafante que um trabalho como o seu exige (preocupação com milhares de funcionários, reuniões, tomadas de decisão...) e curtir a vida com qualidade. Óbvio que para alguém que disse ter concentrado o dobro de esforços para atingir a posição que adquiriu, tomar tal decisão não pode ser tão simples. Além disso, provavelmente há outras causas para a estafa mental dele, algo que deve ser explorado nas próximas semanas. Por enquanto o novo personagem que mais gostei.

    Gina - sexta-feira

    Capaz de confrontar Paul e extrair dele as reações mais autênticas, Gina continua sendo a válvula de escape para as frustrações do outrora pupilo. Conhecendo-o a fundo e entendendo o histórico do que provocou as radicais mudanças na vida dele (mudança de endereço, consultório novo, solteirice), é ela que desperta o lado mais frágil de Paul que com ela se transforma – esquecendo por instantes todas as convenções que a experiência profissional lhe deram - num paciente comum, que só se difere dos demais quando resolve analisar a leitura que ela faz dele. A química dos dois em cena continua perfeita e se continuar nesse rítmo, não será surpresa se faturarem prêmios no Emmy.

    Observações finais da 1ª semana

    Diferente dos pacientes da 1ª temporada cujos problemas basicamente tinham origem neles mesmos, os desse 2º ano da série encontram (à exceção de April, talvez) reflexo e origem em terceiros. Mia enxerga a razão de sua infelicidade atual num tratamento conturbado e mal resolvido com seu terapeuta no passado; Oliver é uma criança abalada no meio de um divórcio e que perdeu as referências do que deveriam ser seus pais; Walter começa a creditar às suas responsabilidades como executivo e pai como possíveis causas de sua estafa, enquanto Gina continua sendo a única que vê as fraquezas de Paul sem censuras e consegue extrair dele as reações mais autênticas e genuínas de alguém que está sentindo o fardo de tantas mudanças. E sobre Paul, o que dá para dizer é que agora ele é um homem destroçado pelas experiências negativas recentes e que ao adotar uma postura mais envolvida com os problemas de seus pacientes, enxerga neles seus maiores medos, dúvidas e frustrações. E ao perder a noção da linha que separa o analista do analisado, esconde-se numa casca de auto-confiança que pouco a pouco vai se quebrando e revelando quão frágil emocionalmente ele está, o que o transforma num personagem ainda mais complexo e interessante.

    Se a 1ª semana de In Treatment for parâmetro para o que vem pela frente, parece que teremos uma temporada não menos que brilhante pela frente. Já começou suas sessões?

2 comentários:

  1. ótimo comentário Davi! Essa temporada realmente promete! adoro In Treatment... ansiedade mil pelos próximos episódios! Abraço!

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  2. Tô quase chegando lá.

    Mas vou sem pressa, ainda tô empolgadão com o final da primeira temporada. Hoje eu começo a Week Eight =)

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