Para celebrar a chegada dessa caixa especial, a Entertainment Weekly, publicou uma entrevista com David Chase, criador e produtor da série onde ele revela várias curiosidades dos bastidores. Você sabia por exemplo, que ele gostaria de ter usado a trilha de O Poderoso Chefão em uma cena da série?
Leia a entrevista
Dezessete meses já se passaram desde que David Chase fechou a porta para a família mafiosa favorita da tv com um controverso final. Essa semana, a HBO relança os 86 episódios da série em um box de DVD de 4,5 Kg. (Chase brinca dizendo que ela é tão pesada, que você poderia amarrá-la em alguém antes de jogá-lo dentro de um rio). Então que satisfação tardia e arrependimentos Chase tem sobre sua aclamada série?
EW: É um alívio não ter mais preocupação com vazamentos de detalhes da trama?
DC: Sim, é. É terrível, ter esse medo. E ele era constante.
EW: Coleções de séries são grandes sucessos em venda de DVDs. Você tem alguma explicação para isso?
DC: É como pizza ou pipoca. Você está em casa, está tudo ali. Você pode continuar comendo e o faz. Eu nunca vi tv assim. Na verdade, eu só queria ver Sopranos nas noites de domingo na HBO. Foi assim que fui criado.
EW: Era agradável, sintonizar a tv para ver algo que era seu?
DC: Poderia ser um desastre. Eu poderia pensar, 'Meu Deus, isso está acontecendo lento demais, ou: isso está rápido demais. E essas foram as últimas vezes que vi esses episódio. Eu não voltei a vê-los depois.
EW: Você tem se mantido calado sobre o significado do final da série. Mas nos extras do DVD você admite que estava parcialmente se inspirando no final de 2001: Uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick, onde Keir Dullea observa a si mesmo envelhecendo. Aquela cena com os anéis de cebola realmente aconteceram ou era apenas Tony apenas meditando?
DC: [Longa pausa] Há mais de uma maneira de interpretar aquele final. Isso é tudo o que digo. [Risos]
EW: Há muito na caixa de DVD sobre a música na série, o que na maioria já eram canções bem populares. Por que não fazer uma trilha original?
DC: Quando começamos a convesar sobre orçamento, eu disse que queria US$50 mil por episódio para pagar pelos direitos de usar algumas músicas. As pessoas perguntaram, por que? O que essas músicas tem a ver com a máfia? Eu disse, Uhh, eu não posso responder isso. Elas apenas tem que estar lá... Mas você não pode apenas colocar uma música pop sem sentido. Se eu ouvir 'My Girl' mais uma vez numa cena com dois amantes saindo para jantar, vou enlouquecer.
EW: Teve alguma música que você não conseguiu adquirir os direitos de uso de jeito nenhum?
DC: Sim, o tema de O Poderoso Chefão. Era para uma cena em que o time de Tony estava sentado assistindo um DVD contrabandeado. Queríamos que o público ouvisse a música de Nino Rota. Francis Ford Coppola autorizou, mas o cara que era o chefão da Paramount na época, Jonathan Dolgen, recusou.
EW: O que para você, continua sendo a coisa mais inovadora de The Sopranos?
DC: Hoje temos redes de televisão, essa fantástica mídia comercial. Em toda a história, sobre o que nós nunca falamos de verdade? Dinheiro e a obsessão americana pelo desejo e pelo consumo. A primeira série a fazer isso foi The Sopranos. Era uma série sobre as coisas que tomaram o lugar dos temores existenciais.
EW: Você disse que não há nenhuma chance de fazer um filme de The Sopranos. Então o que vem pela frente?
DC: Tenho um acordo para escrever e dirigir um filme para a Paramount. Na verdade tenho duas áreas sobre as quais estou interessado, e estou indeciso sobre qual escolher. Tenho postergado essa decisão há meses.
EW: Como a durona Livia Soprano diria, "Oh, poor you." (Ah, tadinho)
DC: [Risos] Eu posso dizer o seguinte: Não escreverei sobre gangsters.
Alguns destaques dos extras
PARODIANDO THE SOPRANOS
EW: Nos extras, há três breves paródias de The Sopranos bem engraçadas dos Simpsons, Mad Tv e do Saturday Night Live. Mas vocês tinham sua própria idéia de paródia, não é?
DC: Sim, é verdade. Eu costumava falar sobre ela todo ano durante três ou quatro anos. A idéia era que faríamos uma versão para a tv aberta e escalaríamos o elenco de acordo com o gosto da emissora. A única pessoa do nosso elenco que continuaria seria Lorraine Braco, mas ela iria fazer a Carmela. Eles a escolheriam porque ela já fez uma esposa de mafioso antes no filme Os Bons Companheiros. Havia uma idéia também de ter um título com a música tema feita pela emissora. Muitas cores e vários caras correndo com armas.
SEMENTES DA MUDANÇA
David Chase: As pessoas costumam me perguntar o tempo todo como me sinto por The Sopranos ter mudado o jeito como as redes de tv fazem as séries, e eu digo que ela não mudou nada. Mas, agora penso que exista um sinal de influência em Mad Men. E não é porque Matt Weiner (criador de Mad Men) trabalhou para mim, ou porque somos amigos. É o conteúdo da série.
EW: E como é isso?
DC: [Longa pausa] Porque ela não é sobre punir criminosos ou tratar de questões políticas, ou fingir ter um debate sobre a sociedade americana, ou mesmo apresentar um olhar através do microscópio que permita encontrar pistas no carpete ou apontem um novo estilo cirúrgico. É sobre o dia a dia do trabalho e sobre ser um adulto na América.
O PAINEL DE DISCUSSÃO SOBRE OS MORTOS DA SÉRIE
EW: O DVD inclui uma entrevista que você fez com Bryant Gumbel, o roteirista e produtor executivo Terence Winter, e cinco outros membros do elenco, na qual você diz que se arrepende de ter mantido o assassinato de Adriana (Drea de Matteo) fora da cena.
DC: Isso foi realmente um erro. Na maior parte do tempo, nós vimos pessoas sofrendo os danos físicos. Mas Adriana era tão inocente que você não iria querer ver alguém tão doce como ela partir desse jeito. Eu acho que você poderia dizer que isso é meio machista. Você vê todo mundo tomando tiros. Por que não naquela vez? Por outro lado, a cena foi chocante. Algumas pessoas argumentam dizendo que foi ainda mais brutal porque não vimos como aconteceu.