O Oscar já passou há quase um mês e os
resultados da festa todo mundo já conhece, mas e o prêmio principal, foi justo? Obviamente não existe resposta definitiva porque cada um tem/tinha seu preferido naquela lista de 10 filmes. Dito isso, a pergunta é: será que todos realmente mereciam estar ali naquela disputa? Tentando responder, na sequência desse texto dou minhas brevíssimas opiniões sobre cada um deles.
Da heterogênea relação de produções indicadas ao Oscar de melhor filme, curioso notar que dois tem desfechos parecidos ainda que com abordagens distintas (Educação e Amor sem Escalas) e outros dois falem sobre a jornada de pessoas excluídas e rejeitadas que encontram na compaixão alheia uma chance de mudar de vida (Preciosa e Um Sonho Possível). Dos demais, Avatar e Distrito 9, são sci fi com mensagem política e social, Bastardos Inglórios é Tarantino dos pés à cabeça pro bem e pro mal, Up – Altas Aventuras é um emocionante e divertido conto de amizade e fantasia, enquanto Um Homem Sério e Guerra ao Terror tratam, em graus totalmente distintos, de dois homens tentando encontrar propósito para suas vidas distanciadas de zonas de conforto.
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Amor sem Escalas (Up in the Air) – 6 indicações
Não se engane com o título dado ao filme no Brasil, essa produção estrelada por George Clooney não é um romance. Dirigido por Jason Reitman (de Juno), o filme tem na atuação cínica e naturalmente bem humorada do protagonista, seu grande e talvez único trunfo genuíno. Na produção, Clooney faz Ryan Bingham, sujeito que vive viajando pelo país demitindo pessoas de várias empresas, e que encontra nessa (falta de) rotina, a justificativa perfeita para fugir de compromissos com a família ou com as mulheres. Tudo muda no entantro quando conhece uma executiva em viagem (a bela Vera Farmiga), e começa a trabalhar com uma jovem executiva (a novata Anna Kendrick) cheia de ideias, mas com pouca experiência que aparece na empresa que ele trabalha. Relevante em tempos de recessão por conta da abordagem do impacto das demissões retratadas, Up in the Air tem seus bons momentos e é divertido ao garantir na decepção experimentada pelo personagem de Cloney, uma surpresa à parte.
Preciosa (Precious) – 6 indicações
Pelo mote, Preciosa poderia ser mais um daqueles filmes de redenção que a Academia tanto gosta. Absolutamente chocante, mas infelizmente falho na tentativa de emocionar, o filme conta a história de Claireece Precious, uma jovem adolescente obesa que convive com o peso da exclusão e do intenso e constante abuso familiar e que encontra em pequenos devaneios e na ajuda de uma professora e de uma assistente social (Mariah Carey, irreconhecível), a fuga para suas dores existenciais e as frustrações de uma vida miserável. Filme apenas razoável que impressiona mais pela interpretação assustadoramente complexa da vencedora na categoria de atriz coadjuvante, Mo’nique, do que por qualquer outra qualidade.
Um Homem Sério (A Serious Man) – 2 indicações
Filme dos já premiados irmãos Cohen (Onde os fracos não tem vez) sobre um judeu com pinta de loser em busca de um novo sentido para vida após uma crise no casamento. Assim é Um Homem Sério, escolha menos óbvia da lista e também a mais incomum. Carregado no humor negro e refinado já tão caracterísito das obras dos Cohen, o filme se sustenta nas sutilezas de intepretações equlibradas e sobretudo nos diálogos e situações incomuns que discutem fé, relacionamentos em família e até mesmo choques culturais. Pela temática, não é um filme de fácil compreenssão e talvez justamente por isso tenha sido tão pouco badalado antes da entrega dos prêmios.
Educação (An Education) – 3 indicações
Convencendo como a adolescente inglesa dos anos 60 que enxerga numa aventura romântica com um homem mais velho a chance de se libertar das amarras do tradicionalismo de sua família e de sua edução formal, a novata Carey Mullingan dá conta do recado fazendo um misto equilibrado e bem dosado de ninfeta e mulher. Inteligente, sua personagem Jenny cativa pela ousadia e pelo espiríto de curiosidade com tudo que lhe é diferente. Assim, alimentad pela lábia de David, o homem mais velho com quem se envolve e que ganha inclusive a confiança de seu rígido pai (feito por Alfred Molina), Jenny encontra e conhece tudo com que sonhava só pra perceber num desfecho equivocado e preguiçoso, que para certas coisas não há como fugir da tradição.
Distrito 9 (District 9) – 4 indicações
Como responder a uma situação extrema que coloca a ignorância da exclusão e a luta por sobreviência em lados opostos? Depende da perspectiva, que é exatamente o que Distrito 9 explora num sci fi surpreendente e complexo, mas não menos carregado nas tintas de um bom filme B em vários momentos. Nascido a partir de um curta chamado ‘Alive in Joberg’ que retrata a chegada de alienígenas e seu isolamento numa área da capital da África do Sul, Distrito 9 foi dirigido pelo até então desconhecido Neil Blumkamp (também responsável pelo material de origem) e ganhou na produção executiva de Peter Jackson (trilogia Senhor dos Anéis) o empurrão perfeito para fazer barulho no cinema em 2009 vendendo-se como um sopro de originalidade (mas nem tanto, como exageram alguns) no gênero, o que certamente foi uma das grandes justificativas para sua coerente indicação ao Oscar.
Um Sonho Possível (The Blind Side) – 2 indicações
Sustentado basicamente pela forte personagem que rendeu o Oscar a Sandra Bullock, Um Sonho Possível talvez seja o filme que menos merecesse figurar na lista. Um dos 10 melhores de 2009? Não mesmo. Preguiçoso em explorar a história de preconceito e superação que moveu a história real do jovem Michael Oher (um garoto negro abandonado à própria sorte e que depois de ser adotado por uma família branca encontra o caminho que o alçaria a posição de jogador de futebol americano de destaque), o filme falha clamorosamente ao apresentar personagens superficiais e sem conflitos. Qual a motivação da família Tuohy em ajudar Big Mike? São bons samaritanos? Tem algum sentimento de culpa de branco? Sem jamais mergulhar nessas questões, o filme opta por saídas fáceis e que infelizmente nunca comovem, o que de certa forma é um ponto decisivo para que se esqueça daquela história tão logo os créditos terminem. Pena.
Avatar (Idem) – 9 indicações
Para uns obra prima, para outros um engodo maquiado com efeitos especiais de primeira. Seja lá qual for sua opinião sobre Avatar, fato é que raras vezes uma produção desta magnitude conseguiu gerar comentários e opiniões tão apaixonadas mundo afora. Apoiado numa aventura futurista que no 3D garante uma imersão absurdamente formidável, o filme de James Cameron realmente não conta nada de novo na história do choque de civilizações e culturas que explora, mas que justamente dão espaço para a construção de personagens complexos (com exceção dos vilões, que de fato são bem caricaturais) nas figuras de seus protagonistas, que fogem de caracterizações vazias, com destaque, claro, para o Jake Sully do novo astro de ação do cinema americano, Sam Worthington. Avatar saiu com as mãos praticamente vazias do Oscar é verdade, mas sua importância para o desenvolvimento do cinema espetáculo com conteúdo já está sacramentada, goste dele ou não.
Guerra ao Terror (The Hurt Locker) – 9 indicações
Descoberto tardiamente por cinéfilos depois de passar boa parte de 2009 pegando poeira nas prateleiras das locadoras do Brasil (onde foi lançado direto em vídeo), o grande vencedor do Oscar 2010, Guerra ao Terror, virou queridinho da crítica ao dar um enfoque mais psicológico à intervenção militar americana no Iraque através de um esquadrão anti bombas. Dirigido pela também vencedora do Oscar, Kathryn Bigelow (a 1ª mulher a ganhar nessa categoria), o filme apoia-se sobretudo no impacto que a tensão contínua do trabalho exerce sobre William James (Jeremy Renner em boa atuação), um sargento que especializado em desarmar bombas, vai pouco a pouco se envolvendo pelo vício da adrenalina que o faz se isolar completamente da rotina do mundo exterior (que incluia sua família), que para ele se tornara seu verdadeiro terror. Inegavelmente um bom filme em muitos aspectos (principalmente os técnicos), mas melhor do ano? Não para mim.
Up – Altas Aventuras (Up) – 5 indicações
Divertido e ágil, Up dá continuidade à excelência da Pixar, e seguindo a tradição do estúdio, de novo consegue agradar em cheio crianças e adultos com seus carismáticos personagens, que em maior ou menor escala, representam as diversas mensagens que a história transmite. Contando com uma das aberturas mais impactantes em termos emocionais que a Pixar já produziu, Up foi premiado na categoria de animação, mas não seria exagero (pelo menos para mim) se tivesse tido melhor sorte também na principal. Investindo numa fantasia que coloca um velhinho ranzinza e solitário tentando cumprir o maior desejo de sua falecida esposa, o filme constrói na amizade incomum daquele senhor com um jovem escoteiro, a tabelinha perfeita que sustenta o espírito de aventura despretensiosa, mas que ao mesmo tempo defende (sem ser piegas) a importância de se lutar pela concretização de sonhos.
Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) – 8 indicações
Emulando praticamente todos os elementos da biografia que fez seu diretor famoso, Bastardos Inglórios funciona não apenas como uma homenagem ao gênero de guerra, mas também como salada de referências a tudo que Quentin Tarantino explorou em seus trabalhos anteriores. Estão lá os diálogos tensos repletos de frases de efeito, a personagem femina forte (representada por Shoshanna), os anti-heróis (que aqui são os próprios bastardos capitaneados por Brad Pitt em mais uma divertida atuação), o humor negro exagerado e um vilão marcante (o coronel nazista Hans Landa, que rendeu Oscar de coadjuvante para o austríaco Christoph Waltz), que caminhando pela tênue linha que separa a autenticidade da caricatura, rouba grande parte das cenas do filme. Dividido em arcos que se chocam no fim, o filme é de fato um trabalho que prova o talento de Tarantino em subverter gêneros, mas que se dessa vez não chega a provocar o mesmo impacto de um Pulp Fiction ou mesmo dos dois Kill Bill, torna-se interessante por uma razão bem específica: o prazer que proporciona (ainda que só na ficção) de ver o desprezível Hitler e seus asseclas nazistas sendo devidamente humilhados e literalmente explodidos.