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Rica em diálogos marcantes e interpretações idem (com especial destaque para as excelentes personagens femininas, diga-se), a série se foca na força do poder de união que a musicalidade de um povo e as singulares manifestações culturais históricas da cidade exercem na capacidade de superação que move e sustenta a continuidade de vidas e hábitos que à princípio poderiam ser vistas como encerradas.
Assim, na heterogeneidade de seus personagens, a série retrata com muita maestria as mais diversas situações e cenários de um grande grupo de pessoas que simplesmente se nega a aceitar a derrota imposta pela fúria da natureza e por negligências governamentais ou a abandonar o estilo bon vivant de ser (vide os ótimos Antoine Batiste e Davis McAlary, este feito por um inspirado Steve Zahn) que a cidade parece nutrir a cada novo desfile ou show de jazz/blues num dos apertados bares da cidade.
Musical como nenhuma outra série o é, Treme no entanto nunca usa o artifício de forma gratuita para construir sua narrativa. Aqui, o som de trambones, saxofones e trompetes aliados a violinos, piano e voz são usados muito mais como elementos que ajudam a apresentar e a contextualizar personagens, do que como distração disfarçada de apelo pop.
Além disso, sem nunca abrir mão de ser inteligente nas críticas urgentes que apresenta sobretudo através da figura do professor Creighton Bernette (John Goodman, excelente), Treme também não se esquiva de evidenciar sem qualquer pudor as mazelas que um evento daquela magnitude deixam à tona numa sociedade que defende com tanto vigor o discurso da justiça e igualdade para todos.
Longe de ser uma série fácil, Treme é uma produção que se sustenta pela sutileza e pela simplicidade, elementos que em equilíbrio transforma-na numa pequena obra prima da tv que a HBO corajosamente apoiou. A 2ª temporada só chega em 2011, por isso, se ainda não conhece a série, aproveite o tempo de espera. O prazer é garantido, pode apostar.
A abertura de Treme dá o tom da série.