terça-feira, 30 de março de 2010

Breves opiniões sobre os 10 Filmes indicados ao Oscar 2010

O Oscar já passou há quase um mês e os resultados da festa todo mundo já conhece, mas e o prêmio principal, foi justo? Obviamente não existe resposta definitiva porque cada um tem/tinha seu preferido naquela lista de 10 filmes. Dito isso, a pergunta é: será que todos realmente mereciam estar ali naquela disputa? Tentando responder, na sequência desse texto dou minhas brevíssimas opiniões sobre cada um deles.

Da heterogênea relação de produções indicadas ao Oscar de melhor filme, curioso notar que dois tem desfechos parecidos ainda que com abordagens distintas (Educação e Amor sem Escalas) e outros dois falem sobre a jornada de pessoas excluídas e rejeitadas que encontram na compaixão alheia uma chance de mudar de vida (Preciosa e Um Sonho Possível). Dos demais, Avatar e Distrito 9, são sci fi com mensagem política e social, Bastardos Inglórios é Tarantino dos pés à cabeça pro bem e pro mal, Up – Altas Aventuras é um emocionante e divertido conto de amizade e fantasia, enquanto Um Homem Sério e Guerra ao Terror tratam, em graus totalmente distintos, de dois homens tentando encontrar propósito para suas vidas distanciadas de zonas de conforto.

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    Amor sem Escalas (Up in the Air) – 6 indicações

    Não se engane com o título dado ao filme no Brasil, essa produção estrelada por George Clooney não é um romance. Dirigido por Jason Reitman (de Juno), o filme tem na atuação cínica e naturalmente bem humorada do protagonista, seu grande e talvez único trunfo genuíno. Na produção, Clooney faz Ryan Bingham, sujeito que vive viajando pelo país demitindo pessoas de várias empresas, e que encontra nessa (falta de) rotina, a justificativa perfeita para fugir de compromissos com a família ou com as mulheres. Tudo muda no entantro quando conhece uma executiva em viagem (a bela Vera Farmiga), e começa a trabalhar com uma jovem executiva (a novata Anna Kendrick) cheia de ideias, mas com pouca experiência que aparece na empresa que ele trabalha. Relevante em tempos de recessão por conta da abordagem do impacto das demissões retratadas, Up in the Air tem seus bons momentos e é divertido ao garantir na decepção experimentada pelo personagem de Cloney, uma surpresa à parte.

    Preciosa (Precious) – 6 indicações

    Pelo mote, Preciosa poderia ser mais um daqueles filmes de redenção que a Academia tanto gosta. Absolutamente chocante, mas infelizmente falho na tentativa de emocionar, o filme conta a história de Claireece Precious, uma jovem adolescente obesa que convive com o peso da exclusão e do intenso e constante abuso familiar e que encontra em pequenos devaneios e na ajuda de uma professora e de uma assistente social (Mariah Carey, irreconhecível), a fuga para suas dores existenciais e as frustrações de uma vida miserável. Filme apenas razoável que impressiona mais pela interpretação assustadoramente complexa da vencedora na categoria de atriz coadjuvante, Mo’nique, do que por qualquer outra qualidade.

    Um Homem Sério (A Serious Man) – 2 indicações

    Filme dos já premiados irmãos Cohen (Onde os fracos não tem vez) sobre um judeu com pinta de loser em busca de um novo sentido para vida após uma crise no casamento. Assim é Um Homem Sério, escolha menos óbvia da lista e também a mais incomum. Carregado no humor negro e refinado já tão caracterísito das obras dos Cohen, o filme se sustenta nas sutilezas de intepretações equlibradas e sobretudo nos diálogos e situações incomuns que discutem fé, relacionamentos em família e até mesmo choques culturais. Pela temática, não é um filme de fácil compreenssão e talvez justamente por isso tenha sido tão pouco badalado antes da entrega dos prêmios.

    Educação (An Education) – 3 indicações

    Convencendo como a adolescente inglesa dos anos 60 que enxerga numa aventura romântica com um homem mais velho a chance de se libertar das amarras do tradicionalismo de sua família e de sua edução formal, a novata Carey Mullingan dá conta do recado fazendo um misto equilibrado e bem dosado de ninfeta e mulher. Inteligente, sua personagem Jenny cativa pela ousadia e pelo espiríto de curiosidade com tudo que lhe é diferente. Assim, alimentad pela lábia de David, o homem mais velho com quem se envolve e que ganha inclusive a confiança de seu rígido pai (feito por Alfred Molina), Jenny encontra e conhece tudo com que sonhava só pra perceber num desfecho equivocado e preguiçoso, que para certas coisas não há como fugir da tradição.

    Distrito 9 (District 9) – 4 indicações

    Como responder a uma situação extrema que coloca a ignorância da exclusão e a luta por sobreviência em lados opostos? Depende da perspectiva, que é exatamente o que Distrito 9 explora num sci fi surpreendente e complexo, mas não menos carregado nas tintas de um bom filme B em vários momentos. Nascido a partir de um curta chamado ‘Alive in Joberg’ que retrata a chegada de alienígenas e seu isolamento numa área da capital da África do Sul, Distrito 9 foi dirigido pelo até então desconhecido Neil Blumkamp (também responsável pelo material de origem) e ganhou na produção executiva de Peter Jackson (trilogia Senhor dos Anéis) o empurrão perfeito para fazer barulho no cinema em 2009 vendendo-se como um sopro de originalidade (mas nem tanto, como exageram alguns) no gênero, o que certamente foi uma das grandes justificativas para sua coerente indicação ao Oscar.

    Um Sonho Possível (The Blind Side) – 2 indicações

    Sustentado basicamente pela forte personagem que rendeu o Oscar a Sandra Bullock, Um Sonho Possível talvez seja o filme que menos merecesse figurar na lista. Um dos 10 melhores de 2009? Não mesmo. Preguiçoso em explorar a história de preconceito e superação que moveu a história real do jovem Michael Oher (um garoto negro abandonado à própria sorte e que depois de ser adotado por uma família branca encontra o caminho que o alçaria a posição de jogador de futebol americano de destaque), o filme falha clamorosamente ao apresentar personagens superficiais e sem conflitos. Qual a motivação da família Tuohy em ajudar Big Mike? São bons samaritanos? Tem algum sentimento de culpa de branco? Sem jamais mergulhar nessas questões, o filme opta por saídas fáceis e que infelizmente nunca comovem, o que de certa forma é um ponto decisivo para que se esqueça daquela história tão logo os créditos terminem. Pena.

    Avatar (Idem) – 9 indicações

    Para uns obra prima, para outros um engodo maquiado com efeitos especiais de primeira. Seja lá qual for sua opinião sobre Avatar, fato é que raras vezes uma produção desta magnitude conseguiu gerar comentários e opiniões tão apaixonadas mundo afora. Apoiado numa aventura futurista que no 3D garante uma imersão absurdamente formidável, o filme de James Cameron realmente não conta nada de novo na história do choque de civilizações e culturas que explora, mas que justamente dão espaço para a construção de personagens complexos (com exceção dos vilões, que de fato são bem caricaturais) nas figuras de seus protagonistas, que fogem de caracterizações vazias, com destaque, claro, para o Jake Sully do novo astro de ação do cinema americano, Sam Worthington. Avatar saiu com as mãos praticamente vazias do Oscar é verdade, mas sua importância para o desenvolvimento do cinema espetáculo com conteúdo já está sacramentada, goste dele ou não.

    Guerra ao Terror (The Hurt Locker) – 9 indicações

    Descoberto tardiamente por cinéfilos depois de passar boa parte de 2009 pegando poeira nas prateleiras das locadoras do Brasil (onde foi lançado direto em vídeo), o grande vencedor do Oscar 2010, Guerra ao Terror, virou queridinho da crítica ao dar um enfoque mais psicológico à intervenção militar americana no Iraque através de um esquadrão anti bombas. Dirigido pela também vencedora do Oscar, Kathryn Bigelow (a 1ª mulher a ganhar nessa categoria), o filme apoia-se sobretudo no impacto que a tensão contínua do trabalho exerce sobre William James (Jeremy Renner em boa atuação), um sargento que especializado em desarmar bombas, vai pouco a pouco se envolvendo pelo vício da adrenalina que o faz se isolar completamente da rotina do mundo exterior (que incluia sua família), que para ele se tornara seu verdadeiro terror. Inegavelmente um bom filme em muitos aspectos (principalmente os técnicos), mas melhor do ano? Não para mim.

    Up – Altas Aventuras (Up) – 5 indicações

    Divertido e ágil, Up dá continuidade à excelência da Pixar, e seguindo a tradição do estúdio, de novo consegue agradar em cheio crianças e adultos com seus carismáticos personagens, que em maior ou menor escala, representam as diversas mensagens que a história transmite. Contando com uma das aberturas mais impactantes em termos emocionais que a Pixar já produziu, Up foi premiado na categoria de animação, mas não seria exagero (pelo menos para mim) se tivesse tido melhor sorte também na principal. Investindo numa fantasia que coloca um velhinho ranzinza e solitário tentando cumprir o maior desejo de sua falecida esposa, o filme constrói na amizade incomum daquele senhor com um jovem escoteiro, a tabelinha perfeita que sustenta o espírito de aventura despretensiosa, mas que ao mesmo tempo defende (sem ser piegas) a importância de se lutar pela concretização de sonhos.

    Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) – 8 indicações

    Emulando praticamente todos os elementos da biografia que fez seu diretor famoso, Bastardos Inglórios funciona não apenas como uma homenagem ao gênero de guerra, mas também como salada de referências a tudo que Quentin Tarantino explorou em seus trabalhos anteriores. Estão lá os diálogos tensos repletos de frases de efeito, a personagem femina forte (representada por Shoshanna), os anti-heróis (que aqui são os próprios bastardos capitaneados por Brad Pitt em mais uma divertida atuação), o humor negro exagerado e um vilão marcante (o coronel nazista Hans Landa, que rendeu Oscar de coadjuvante para o austríaco Christoph Waltz), que caminhando pela tênue linha que separa a autenticidade da caricatura, rouba grande parte das cenas do filme. Dividido em arcos que se chocam no fim, o filme é de fato um trabalho que prova o talento de Tarantino em subverter gêneros, mas que se dessa vez não chega a provocar o mesmo impacto de um Pulp Fiction ou mesmo dos dois Kill Bill, torna-se interessante por uma razão bem específica: o prazer que proporciona (ainda que só na ficção) de ver o desprezível Hitler e seus asseclas nazistas sendo devidamente humilhados e literalmente explodidos.

11 comentários:

  1. O que mais gostei de Up in the Air foi a contradição da situação da crise americana, que muito simboliza o fim do sonho americano, com a ambição do protagonista em conseguir um "cartão prateado" da American Airlines, um pequeno símbolo plastificado carregado de sonho americano: viagens ilimitadas, só fizeram sete, o comandante vem falar com você, etc. Um sonho inconcebível - como o filme mostra brilhantemente - em época de crise. E isso se reflete na mudança do personagem ao longo das 2 horas, que começa o filme dando palestras que associam a vida pessoal ao conteúdo de uma mochila. O que descobrimos perto do fim, é que justamente as coisas que ele tirava da mochila eram as que faziam as pessoas seguirem adiante. Bonito.

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  2. Só senti falta aqui do comentário a respeito do brilhante "O Segredo dos seus Olhos", argentino vencedor de Oscar de melhor filme estrangeiro, muito merecidamente e, na minha opinião, um dos mlehores filmes de toda a lista do Oscar.

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  3. Pois é Juliana, ainda não vi o filme. Tão logo o faça certamente publicarei algum comentário por aqui. Todo mundo falando bem e vi um plano sequência do filme no youtube que me deixou maravilhado.

    Obrigado por seus comentários :)

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  4. Dude,
    Achei esse oscar o pior de todos os que assisti (estava torcendo,lostianamente,para Avatar.)
    O que achei estranho,foi que um filme do naipe de Distrito 9 não ter recebido ao menos "Melhor Roteiro adaptado".Algo que acho blasfêmico também, foi em algumas décadas passadas "Nascido para Matar" de mestre Kubrick,e "Apocalipse Now" de Coppola,que são ao meu ver,os melhores filmes de guerra de todos os tempos,que mostram o quão sem sentido é a guerra não ter ganhado nenhum oscar de melhor filme,Já esse guerra ao terror que é mais ufânico,unilateral,sem crítica nenhuma....
    Mais,fazer o que né...;(

    P.s : Pra quem acompanhou o oscar na globo,foi quase uma tortura,José Wilker (que como crítico,é ótimo ator)falar que Avatar é superficial...(Ou eu vi muita filosofia no filme,ou as pessoas da globo são mais alienadas do que quem as assiste?).

    P.s 2: Impressão minha ou você também tava torcendo pra Avatar,Davi ?! xD

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  5. Rapaz, para falar a verdade eu não estava empolgadíssimo com nenhum, mas posso dizer que torcia por Avatar e Up.

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  6. Discordando de você Davi, acho que Up altas aventuras e avatar são filmes muito fracos e que estes sim mereceriam não figurar na lista de melhor filme. Afinal são histórias sem originalidade e recorrentes que só inovaram devido a tecnologia do 3D( que indiscutivelmente em avatar foi uma experiência muito legal, vendo- o no imax aqui em ctba) e que up colocou o drama em um desenho infantil. Avatar é um filme bem para quando vc está cansado e não quer pensar, assim como muitos realmente bons de super-heróis e up é entediante.
    Destes filmes achei The blind side um dos melhores do ano passado e merecidamente na lista assim como o merecido oscar de sandra bullock.
    Opiniões a parte é bom saber que nenhuma opinião é definitiva, e gosto pode sim se discutir, mas sempre que temos que respeitar o do próximo.

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  7. Claro que podemos discordar, Lucas. É isso que dá graça às discussões, não?

    Abraço!

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  8. A academia tende a dar preferencia a filme mais digamos realistas, mas eu como cinefilo que sou não consegui assistir guerra ao terror ate o fim porque pra mim não faria sentido, a produção tem ate algo a se comentar mas nada que outros filme de guerra não tenham feito. e a interpretação de todos os personagens é falha o pseu-principal é um antiherói com conflitos estranhos, e o unico ator que poderia ter dado algo mais ao filme é morto nos primeiro 5 minutos. nem um pouco memoravel ao meu ver.

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  9. Engraçado que o que eu gosto em the blind Side é justamente a falta dos conflitos. Fiquei com medo o tempo de que a trama fosse partir para o dramalhão mexicano, ou pior ainda, para a discussão se os Tuohy eram apenas uma família politicamente correta ou se tinham motivos emocionais (e também dignos de dramalhão mexicano) maiores para adotar Big Mike. Acho que o filme me desceu justamente porque apesar de ser moralista e clichê, ele evita certas armadilhas.

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  10. Mas Thais, me parece justo dizer que evitar conflitos é exatamente a maior das armadilhas que uma obra deveria evitar. Toda história que fica numa zona de conforto constante não me conquista, não me comove e não me convence. Dito isso, é óbvio que esse é só o meu gosto pessoal ;)

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  11. Dos dez indicados eu assisti Up, Bastardos Inglórios, Avatar, Guerra ao Terror e Distrito 9, gostei de todos e achei que mereceram a indicação.

    Me espantei quando Guerra ao Terror levou o prêmio máximo, acho um bom filme e só, concordo com a indicação mas não com o prêmio, sinceramente.

    Apesar de ter ficado fascinado com Avatar, queria mesmo que Bastardos Inglórios levasse por Melhor Filme.xD

    No Oscar desse ano, acho que o único prêmio que vibrei mesmo foi o que Michael Giacchino ganhou por Up em "Melhor trilha sonora original", que realmente é espetacular.

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