sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Dentre todos os grandes momentos de Tropa de Elite 2 (e há vários deles), aquele que se torna chave ocorre quando o agora coronel Nascimento (Wagner Moura, excepcional) toma um tirambaço. Mas, não o de uma bala saída de um fuzil, e sim o da realidade que desaba sobre ele fazendo-o, após mais de 20 anos dedicados à polícia, finalmente enxergar e entender com clareza a podridão da estrutura em que estava inserido e à qual respondia. Esse é o ponto de virada do filme, aquele em que o personagem – de novo narrador da história - vê muitas das certezas (senão todas) que carregava até então sendo derrubadas. É também o ponto em que o filme consolida o retrato crítico e contundente do estado das coisas no Brasil e de como a percepção que temos do que move e alimenta a violência do dia a dia das grandes cidades (sobretudo do Rio de Janeiro) é turva e parcial. Corajoso, inteligente e absolutamente relevante para discurtirmos o país que queremos ser, Tropa de Elite 2 estabelece-se como um filmaço muito maior e melhor que uma mera continuação do original de 2007.

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    Novamente dirigido e escrito por José Padilha em parceria com Bráulio Montovani, Tropa 2 é um thriller empolgante que, contando com uma narrativa ágil e instigante (que deve muito à montagem brilhante de Daniel Rezende, diga-se), abre mão de se focar nas sequências de ação (que ainda existem aos montes, fique tranquilo), dando espaço para um desenvolvimento muito mais elaborado de seus personagens. Os conflitos e dilemas que movem Nascimento agora, atingem escalas muito maiores que a do 1º filme ao mesmo tempo em que personagens diametralmente opostos a ele no método (como o deputado Fraga, por exemplo), ganham espaço num quadro que aponta o dedo para a ferida colocando ideologias aparentemente contraditórias em cheque e lado a lado ao mesmo tempo.

    Ainda que seja uma obra de ficção – algo que a produção faz questão de apontar logo no início - Tropa 2 mira num único alvo, a corrupção como principal responsável pela tragédia da violência urbana, e acaba acertando em vários à medida em que revela as várias facetas de toda estrutura do poder político amoral que se beneficia de um estado de caos constante disfarçado de lei. O vilão do filme não é mais o traficante de drogas que troca tiros com o Batalhão de Operações Especiais , mas sim o poder paralelo representado pela milícia que se estabelece como força de sustentação de uma engrenagem cuja mecânica envolve desde policiais corruptos, passando por deputados, secretário de segurança e governador.

    Mas Tropa 2 não é bom só por diagnosticar com coragem e inteligência a causa de um dos nossos maiores problemas numa linguagem cinematográfica eloquente. Seu grande mérito, além de provocar uma reflexão importante e fundamental, é a de alimentar catarse no espectador, que identificado com as mazelas retratadas no filme, vibra com o momento em que Nascimento espanca um de seus algozes (o hipócrita secretário de segurança) ou com aquele em que o deputado Fraga impõe sua posição ética com muita força numa reunião parlamentar do Congresso. A partir daí, uma certeza se estabelece de forma inquestionável: Tropa 2 é O filme definitivo do cinema nacional.

    Cotação:

4 comentários:

  1. Sensacional! Vi o filme nesta tarde e foi tenso ver o agora Sub Secretário de Inteligência Roberto Nascimento descobrir como a corrupção está espalhada entre os níveis de governo. A máquina que é o Sistema parece um organismo vivo, onde quando um corrupto é pego, outro surge de forma natural. E o Sistema se adapta.

    Formidável também é a paixão, a vontade do Nascimento em querer quebrar tudo que é corrupto. Ele poderia deixar tudo (e com motivos para isso) e cuidar de sua família.

    Assistam, no cinema!

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  2. o filme é muito bom, dava pra fazer dudecast dele rs...

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  3. Fantástico filme. Não deve nada a qualquer produção hollywoodiana. A Atuação de Wagner Moura é digna de premiações internacionais. A direção e o roteiro, alem da montagem são espetaculares.

    Definitivamente um dos melhores FILME brasileiro tanto em termos de apelo público e tecnicamente. Conseguiu superar o primeiro e se igualar ou até superar o que eu até então considerava o melhor filme nacional que era Cidade de Deus.

    Vale a pena ver mais de uma vez! Que filme!

    O filme é tão bem pensado que até a última cena que em princípio não seria a mais impactante para terminar (a tomada imediatamente anterior teria mais efeito), serve como uma bela metáfora que indica que está na hora de abrirmos os olhos e encararmos a realidade, pois ha tempo de mudá-la!

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