Eternizado por Clint Eastwood na excelente trilogia dos dólares de Sergio Leone, a figura do protagonista que não tem nome e que com poucas palavras se revela um anti-herói de moral dúbia, ressurge com uma roupagem contemporânea em Drive, belo filme estrelado por Ryan Gosling (Diário de uma Paixão) sob o comando do dinamarquês Nicolas Winding Refn (Bronson), vencedor do prêmio de direção no festival de Cannes deste ano. Inspirado no livro homônimo do americano James Sallis, o filme narra a história de um homem que trabalha como dublê em Hollywood e que nas horas vagas, graças a seu exímio talento ao volante, faz bico como motorista para criminosos em fuga. Esse fiapo de argumento, contudo, ganha novas e interessantes camadas a partir do momento em que o motorista (Gosling) se envolve com a vizinha Irene (Carey Mulligan de Educação) e ao tentar ajudar o marido desta recém saído da prisão, descobre-se, depois de um roubo mal sucedido, sob a mira de mafiosos locais.
Num elenco cheio de nomes famosos do cinema (Albert Brookes de Taxi Driver) e, principalmente, da tv (Bryan Cranston de Breaking Bad fazendo o 'mentor/empresário' do motorista, Ron Perlman de Sons of Anarchy e Christina Hendricks de Mad Men), é mesmo Ryan Gosling que literalmente rouba a cena no filme. Em atuação minimalista e marcante em diferentes situações - repare, por exemplo, na forma como o motorista flerta de forma tímida com Irene (Mulligan) ou depois quando reage de forma selvagem em duas cenas, no quarto de um hotel e no elevador, dignas do protagonista de Dexter -, o ator confere personalidade e uma certa aura de mistério ao homem que, econômico nas palavras e extremamente frio, jamais deixa dúvidas sobre seu talento singular (o de dirigir, claro) ou sobre a natureza de suas intenções e motivações.
Em muitos aspectos, Drive é um filme reminiscente das décadas de 80 e 90, aquelas em que os thrillers, de forma geral, pareciam mais crus, críveis e envolventes ao se focarem muito mais nos personagens do que nos efeitos. Assim, quer seja pela estética quase sempre mais sombria e fria (amparada pela fotografia de Newton Thomas Sigel de Os Suspeitos) ou pela ótima trilha sonora (em tom retrô) que ajuda a pontuar o desenvolvimento da trama e as nuances de seu protagonista, Drive nos mostra, através dos olhos e das reações do motorista, uma história que surpreende ao equilibrar romance (um aspecto importantíssimo no filme) com boas sequências de ação, doses de violência chocante e personagens com quem nos importamos ao longo do filme e que, mesmo não fugindo totalmente da caricatura, revelam-se bem carismáticos.
Surgindo como a grande surpresa do ano no Cinema até aqui (pelo menos para mim), Drive, que estreou nos EUA no dia 16/9, ainda não tem data de estreia oficial definida para o Brasil, mas poderá ser visto, como uma das grandes atrações do Festival do Rio que ocorre entre os dias 6 e 18 de outubro. Interessou? Então dá uma olhada no trailer do filme.
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