segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Comentários de 007 Quantum of Solace

O sucesso financeiro (e porque não dizer de crítica) da nova fase do James Bond interpretado por Daniel Craig é inquestionável, mas para quem cresceu acompanhando as aventuras de 007 com os clássicos de Sean Connery, Roger Moore e cia, ou os mais recentes com Pierce Brosnan, fica sempre um sentimento de estranheza no ar. O Bond de hoje é mais humano, denso e coerente com a realidade que vivemos (Quantum of Solace faz até uma sutil referência à crise econômica). Além disso, ele reflete com maestria o estilo dos filmes de ação que vem conquistando o público desde a chegada de Jason Bourne às telas em 2002. Somando esses fatores, é mais do que justo dizer que essa revitalização/reinvenção iniciada dois anos atrás no ótimo Cassino Royale fez bem à franquia, mas não deixa de ser curioso que justamente no momento em que o personagem criado por Ian Fleming em 1953 mais ganha atenção de uma forma positiva, seja também aquele em que ele mais se distancia da raíz que o tornou tão famoso.

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    Quantum of Solace, o 22º filme da franquia oficial - há outros dois feitos fora dela -, é o mais curto de toda série e também de forma inédita, a primeira sequência. A trama começa literalmente poucos minutos depois daquela cena que encerrou CR, quando Bond localiza o Sr. White, o elo que poderia explicar os motivos da traição de Vesper Lynd. Enquanto CR dedicara boa parte de sua trama para apresentar e desenvolver o personagem que ganhou uma dimensão e uma complexidade que nenhum outro intérprete jamais teve chance de explorar, QoS parte direto para a ação desenfreada com diversas cenas de tirar o fôlego. Tem de tudo: perseguição de carros, a pé, de moto, avião... e tem sobretudo um James Bond sedento por vingança e quase sem controle, que elimina todos que se coloquem no seu caminho sem piedade ou sutileza. Nessa segunda aventura de Daniel Craig - ainda mais à vontade no papel -, 007 sequer tem tempo para dizer sua famosa frase de apresentação "Meu nome é Bond, James Bond" e embora muito do charme do personagem tenha sido colocado num segundo plano, dá para perceber que o caminho para equilibrar aspectos clássicos com os de hoje foi construído de forma convicente e eficaz.

    Dirigido por Marc Foster (Em Busca da Terra do Nunca, O Caçador de Pipas), Quantum of Solace é uma aventura redondinha com história simples e personagens que de uma maneira geral são bem rasos (as exceções ficam por conta de Bond, M e Felix Leiter). E se a trama não chega a ser uma grande novidade, apresenta pelo menos um fator que pode ter grande importância para os próximos filmes: o surgimento da QUANTUM, uma grande organização criminosa com braços espalhados pelo mundo com influência nos mais diversos setores e governos e que lembra muito a SPECTRE que marcou presença nos filmes de Sean Connery, George Lazemby e Roger Moore e que sempre conferia uma graça a mais às aventuras. Porém, diferente da Spectre, a Quantum não parece ser tomada apenas por motivações megalomaníacas, já que a julgar pelas dicas dadas no filme, ela seria 'simplesmente' uma organização interessada em criar cenários de conflito que lhe gerem lucro, o que não deixa de ser um aspecto interessante.

    Em Quantum of Solace ainda não há espaço para os famosos gadgets de Q, uma aparição da apaixonada secretária Moneypenny ou mesmo para que Bond peça um martini batido e não mexido. Apesar disso, não falta uma ótima vinheta de abertura conduzida pela música tema 'Another Way to Die', de Jack White e Alicia Keys, e ótimas cenas entre M (a sempre competente Judi Dench) e Bond. Em cada diálogo dos dois há sempre um clima que transcende a relação hierárquica e que confere um tom quase maternal na dinâmica dos dois (Bond até brinca com isso em dado momento). Além disso, com a gun barrel sendo deslocada para o fim do filme, reforçando a idéia de que o ciclo para o estabelecimento do Bond terminou, foi muito bacana ver o filme homenageando produções anteriores em pelo menos três cenas: (1) a que a bondgirl feita por Gemma Arterton aparece morta na cama totalmente coberta por petróleo, repetindo quase com exatidão aquela em que Jill Masterson aparece morta com o corpo coberto com tinta de ouro em Goldfinger, de 1964. (2) aquela em que Bond derruba um homem com quem lutara num terraço de um prédio, da mesma forma que ocorrera em uma sequência do início de O Espião que me Amava de 1977 e, (3) a que Bond e Camille (a belíssima Olga Kurylenko) caminham pelo deserto usando trajes de gala, lembrando a cena em que Roger Moore e Barbara Bach caminhavam pelo deserto do Egito também em O Espião que me Amava.

    Quantum of Solace pode não ser - pelo menos para mim - o filme que marca a volta do velho e bom 007 como aprendi a gostar, mas é sem qualquer dúvida uma produção caprichada, divertida e que arma o cenário perfeito para muitas novas aventuras do agente mais famoso do MI6, o que claro, é motivo mais que suficiente para uma ida ao cinema.

    Cotação:

2 comentários:

  1. Jack White, do duo White Stripes, e Alicia Keys são os intérpretes da música tema de QoS =)

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  2. Valeu Thiago. Eu e minha péssima mania de pensar uma coisa e escrever outra :D Texto corrigido.

    Abraço!

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