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É óbvio que a direção por vezes canhestra aliada aos cortes de cena exagerados e atuações amadoras demais em algumas situações, atrapalharam uma maior evolução e até conexão com a história, mas ao conseguir refletir um pouco de tudo aquilo que a nossa sociedade tenta ignorar ou esconder, a minissérie emulou bons aspectos de produções sob as quais se inspirou como 24 Horas (nas cenas de ação, que claro não são tão elaboradas como as da série de Jack Bauer) e The Shield (na linguagem crua da polícia) e que foram inclusive referenciadas em algumas situações.
Horácio, 3P, Eduardo, Luisa e Tavares
No quarto e último episódio exibido este ano (outros 9 estão prometidos para 2009) 9 MM explorou todos os aspectos da tão propagandeada realidade da polícia. Vimos o delegado Eduardo procurando facilitações com o ex-sogro deputado e uma curta mas curiosa discussão sobre a meritocracia, novas evidências de que Horácio (talvez o personagem mais contundente da série) busca meios de fugir às regras para limpar a sujeira necessária aos olhos dele para fazer 'justiça', enquanto Luisa, presa às regras, acredita que tudo pode ser resolvido pela burocracia representada nesses episódios pela corregedoria da polícia que no fim parece só existir para dificultar o trabalho que efetivamente devia ser feito. Por outro lado, o detetive Tavares representa aquele sujeito saído da periferia e que ao se dividir entre as origens e o dever, acaba pagando o preço da indecisão, palavra que o novato 3P desconhece ao abusar da intempestividade que a seus olhos seria o único caminho de se resolver as coisas.
No fim das contas 9MM não é uma série essencial, mas ao explorar a falibilidade do sistema e evidenciar as camadas do engendrado mecanismo que controla todos os meios de poder, a produção consegue de forma criativa e inovadora para os padrões brasileiros, mostrar que o trabalho sério nesse cenário se torna uma missão quase impossível quando a intenção é cumprir a lei usando a lei.
"Que porra que somos nós? Nóis é polícia"