É uma pena ter que dizer isso, mas a verdade é que M. Night Shyamalan, o cara que já foi considerado gênio em Hollywood, parece ter esquecido a fórmula de talento e criatividade tão presente em seus primeiros filmes substituindo-a por uma mistura de pouca inspiração e que hoje incomoda pela falta de significados. Quem vê
Fim dos Tempos esperando uma boa dose de mistério, suspense e reviravoltas, acaba como ocorreu comigo, se decepcionando pela inércia de um roteiro arrastado que tenta se sustentar apenas com uma situação bizarra e algumas cenas chocantes, mas que não escondem a superficialidade de uma história preguiçosa.
Leia mais...
A ameaça que o filme explora - um evento misterioso que inicia uma onda de mortes/suicídios em Nova York - poderia até provocar um suspense interessante se fosse conduzida no sentido de nos confundir sobre a origem daquilo tudo. Porém, ao fazer claras referências à uma suposta resposta da natureza frente o descaso do homem com o planeta logo no início do filme, Shyamalan, que mais uma vez dirigiu e escreveu o roteiro, parece já reconhecer e antecipar a fragilidade da história avisando o público de que tudo que viria pela frente não traria nenhuma surpresa uma vez que a resposta estava sendo dada desde o início.
Qual o propósito do filme então? Responder a pergunta é quase uma missão impossível quando os créditos finais surgem, mas as hipóteses que aparecem são as de que o diretor estaria tentando fazer um alerta contundente sobre a atual situação do planeta ou mesmo criando umpanorama que explora as reações do homem frente o desconhecido (tema recorrente em produções anteriores) ou ainda que o evento ocorre em função da falta de conexão do homem com a natureza e sua busca quase incessante pela tecnologia guiada pelo consumo. A verdade, no entanto, é que não deve haver uma resposta certa para essa pergunta, e usando uma frase dita pelo personagem de Mark Wahlberg à certa altura do filme, tudo o que se conclua sobre Fim dos Tempos será apenas uma teoria e nunca a explicação final para o mistério do porque ele foi cometido.
E se o desenvolvimento da trama é ruim, algo muito diferente não pode ser dito sobre o elenco principal. Julgar o trabalho de Mark Whalberg e Zooey DesChanel aqui é fácil já que os personagens Elliot e Alma passam o filme sem desenvolver qualquer linha lógica ou emocional que lhes garanta interesse do público, o que por si só indica o que eles atingiram. O mesmo aliás pode ser dito do personagem de John LeGuizamo, cuja participação torna-se tão inócua quanto à da garotinha Jess que entra muda e sai calada servindo apenas como um lembrete ao público de que Elliot e Alma deveriam chegar vivos ao final do filme já que apesar das mortes horrendas mostradas, o roteiro não teria coragem suficiente de terminar a história deixando uma criança orfã em meio ao caos.
Ao terminar, Fim dos Tempos nos deixa com uma única certeza, a de que Shyamalan precisa com urgência filtrar as críticas justas que vem recebendo depois de Dama na Água e recuperar os conceitos que um dia fizeram dele uma unanimidade e que hoje parecem se converter em um lamentável equívoco.
Cotação: