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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EMMY 2009: Quase nada de novo no front


Uma cerimônia discreta com um tricampeonato, uma chuva de bicampeonatos, duas grandes surpresas, uma grande injustiça reparada e o que pode ter sido o começo do fim de um relativamente curto, porém intenso reinado. Esse foi o Emmy 2009.

Na ressaca da premiação, mais uma vez o tom é de reclamação dos fãs de séries mais populares, que continuam revoltados com o fato de séries pouco vistas levarem a melhor na contagem final. Também não deve estar satisfeita, mas contraditoriamente um pouco aliviada, a CBS, organizadora do evento esse ano, que atraiu segundo dados iniciais 13 milhões de telespectadores nos Estados Unidos. Comparando com os 12 milhões do ano passado e considerando que um jogo de futebol americano fazia concorrência, até que não são números tão ruins. Mas Mad Men e 30 Rock somados não chegam ao mesmo número com suas audiências semanais médias somadas. E pra quem não entende o que de tão bom a Academia vê nessas duas séries, a opção de não ligar a TV em 2010 é até provável. Quanto mais as duas séries fazem por merecer suas vitórias, mais se tornam vilãs aos olhos de quem coloca o Emmy no ar.

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    O show

    Ainda que longe do desastre do ano passado, quando colocaram apresentadores de reality show completamente desentrosados para aparesentar o Emmy, o talentoso Neil Patrick Harris de How I Met Your Mother não teve um grande desempenho como mestre de cerimônias. Simpático e bem humorado, teve alguns bons momentos, mas deu a impressão de que não quis correr grandes riscos. Sua campanha para que as pessoas vejam televisão e não fiquem na Internet, por exemplo, está há alguns anos atrasada. Harris também foi um dos produtores do Emmy desse ano, que deixou a impressão de tentar copiar o bom desempenho que o Oscar conseguiu depois de várias edições frustradas. Cenários mais modernos, edição mais enxuta, até número musical teve. Com o porém de que Harris não é Hugh Jackman. A sensação que fica é que o ator deixou a porta aberta para ser convidado para o mesmo tipo de trabalho no futuro. Mas que se ninguém o convidar, não será um grande absurdo.

    A novidade no formato do Emmy foi dividir o show em segmentos. Primeiro foram entregues os prêmios de comédia, seguidos pelos de reality show, minisséries e filmes feitos para TV, shows de variedades, chegando enfim nos esperados prêmios de drama. Mesmo com a importância da categoria melhor série de comédia, não fez muito sentido deixá-la para a reta final, enxertado no meio dos dramas. Até porque todo mundo já sabia quem seria o vencedor, não havia necessidade de fazer suspense. De resto, parabéns aos produtores pela melhor organização da pauta. Mas que eles tenham em mente que correram sérios riscos de perder ainda mais audiência. Se a vitória de séries pouco vistas já desagrada a parte do público, imagine o risco que é colocar os telespectadores diante de vários prêmios seguidos para minisséries e filmes para TV, atrações quase sempre escondidas em canais fechados como a HBO ou educativos como a PBS.

    Também não deve ter ajudado o fato de que as premiações para reality show e show de variedades terem sido uma reprise de tudo que já vimos nos últimos anos. Desde que o prêmio de melhor reality show foi instituído, só deu Amazing Race. Como ontem. No ano passado surgiu a categoria de apresentador de reality show, tendo como vencedor Jeff Probst, de Survivor. Que ontem voltou a vencê-la. E se tem gente que esperneou ao saber que 30 Rock foi tri e Mad Men bicampeã, imagine o quão reconfortante deve ser para elas saber que The Daily Show with Jon Stewart chegou ao hepta em 2009. O mais assustador pra quem teme que o mesmo fenômeno possa ocorrer com as séries é que todas as hegemonias citadas podem ser consideradas justas.

    Comédia

    O primeiro prêmio da noite foi o de atriz coadjuvante em série de comédia, que acabou nas mãos da pequenina Kristin Chenoweth, a Olive Snook da cancelada Pushing Daisies. Se a série perdeu um pouco de fôlego na sua derradeira temporada, o mesmo não pode ser dito de Chenoweth, que sempre foi a parte mais encantadora do programa. É uma pena que ela não terá chance de concorrer outras vezes pela mesma personagem. Mas como disse no discurso de agradecimento (o único feito em meio a lágrimas em toda a noite), ela está disposta a respirar novos ares, tendo citado Mad Men, The Office e 24 Horas como shows dos quais ela gostaria de participar. Além de tudo é esperta a moça.

    Entre os atores coadjuvantes, a vitória inesperada de Jon Cryer, o completo loser Alan Harper de Two and a Half Men. Inesperada principalmente porque o favoritismo era de Neil Patrick Harris (sim, ao mesmo tempo apresentador e concorrente ao Emmy) e Rainn Wilson, talvez os dois únicos indicados que tenham no currículo papéis diferentes dos que representam atualmente na TV. Mas com a surpreendente não-indicação do tricampeão Jeremy Piven (Entourage), a única afirmação possível era de que tudo poderia acontecer, já que nenhum dos indicados tinha um histórico vitorioso no Emmy. Muita gente está reclamando da vitória de Cryer, mas a verdade é que ele é o coadjuvante que roubas cenas cotidianamente naquela que é a comédia mais bem sucedida da TV americana em termos de audiência desde o fim de Seinfeld, Friends e Will & Grace. Não é pouca coisa.

    Ainda sobre Cryer, vale destacar que ele chegou a ganhar o apelido de Pilot Killer, pelo tanto de episódios-piloto de novas séries do qual participou e que acabaram não ganhando seu lugar ao sol. Muitos anos depois, ele acaba recebendo um Emmy. Quer algo mais "sonho americano" que isso? Quer algo que encante mais uma premiação de indústria americana do que isso?

    Esperemos no entanto que ele não chegue ao bicampeonato, que seria um exagero. Já basta ter de ver o canastrão Alec Baldwin atigindo tal feito como ator principal de comédia. Aliás, se algo encanta mais as premiações do que um bom e velho "sonho americano" é um ator representar mais de um papel ao mesmo tempo. E foi com um episódio onde ele interpreta um, veja só, canastrão de novela mexicana, que Baldwin chegou ao bicampeonato. Aqui cabe o registro: cada ator inscreve um episódio para ser levado em consideração pelos votantes. A escolha de um bom episódio tem sido algo importantíssimo no resultado final do Emmy. Por exemplo, no ano passado Baldwin tinha uma cena genial onde, veja só, interpretava vários personagens em uma sessão de terapia imaginária.

    Não vou negar que Baldwin provoca algumas boas risadas em 30 Rock, mas é fato que, se ele não fosse famoso pelo seu trabalho no cinema, talvez nem tivesse ganho um Emmy ainda. E ainda mais dificilmente chegaria a um segunda vitória consecutiva. Ele funciona muito bem no papel de canastrão, mas seu domínio nessa categoria é no mínimo discutível. Enquanto isso, Steve Carell de The Office, que há anos aposta no desenvolvimento dos sentimentos de um personagem que poderia muito bem ser apenas caricato, segue sem um Emmy na estante de casa. E a julgar pela recepção que teve em sua primeira noite de glória, o bom Jim Parsons de The Big Bang Theory, parece ter assumido o posto de principal rival de Baldwin no Emmy. Pobre Carell.

    A múltipla personalidade em cena (aqui parte fundamental da trama) também ajudou para que Toni Collette desbancasse Tina Fey no prêmio de melhor atriz em série cômica. Fazendo o papel-título de United States of Tara, Collette tem em mãos 4 personagens dentro de uma só, e aproveitou-se bastante disso. Como atuação, o trabalho dela pode ser considerado bem superior ao de suas concorrentes. A pergunta válida aqui é se é justo premiar uma boa atriz por um bom papel em uma série que não conseguiu dizer a que veio.

    Tina Fey, imbatível nas últimas premiações, pode estar vendo ruir o seu reinado, por uma série de motivos. O primeiro é que para o ano que em ela deve ter também a forte concorrência de Edie Falco, embora Nurse Jackie pareça pouco engraçada para concorrer como comédia. O segundo é que vencer tanto em tão pouco tempo cansa a imagem de qualquer um. E o terceiro e mais importante é que parece difícil para ela levar a sua Liz Lemon a um patamar diferente do que atingiu até aqui. Afinal, se melhorou bastante como atriz, Fey é acima de tudo uma roteirista.

    Se serve de consolo para Fey, o já esperado tricampeonato de 30 Rock mostra que esse reinado ainda parece longe de acabar. Um prêmio justo, até porque a série viveu sua temporada mais regular. Falhou em conquistar um melhor índice de audiência, mesmo tendo recebido como convidados pessoas muito populares. O destaque ficou por conta dos arcos que separaram um pouco Fey e Baldwin, colocando-os para contracenar com Jon Hamm e Salma Hayek, respectivamente. Serviu para oxigenar a série e rendeu boas subtramas. Sobre 30 Rock, uma nota pessoal: acho que ele vive um fenômeno parecido com o CQC, por mais que sejam programas completamente diferentes. Incensado por fãs fiéis e tidos como representantes do "humor inteligente", embora apenas reciclem velhas fórmulas, acabam criando uma antipatia em quem facilmente acharia os programa engraçados, mesmo sem endeusá-los.

    30 Rock levou também o prêmio de melhor roteiro, categoria na qual tinha 4 das 5 indicações. O prêmio de melhor direção em comédia ficou para o excelente "Stress Relief " de The Office, fazendo justiça à série, que desde o estrelato de Tina Fey e seus asseclas virou coadjuvante total nas premiações, embora seja sempre apontada como a principal concorrente de 30 Rock. Vitória silenciosa entre as comédias para Family Guy, que ontem teve seu dia de gala, ao marcar presença como a primeira animação indicada ao Emmy de comédia desde Os Flintstones.

    Drama

    A premiação de Drama começou com a reparação de uma grande injustiça. Michael Emerson finalmente ganhou o seu Emmy pelo impagável Benjamin Linus de Lost. No discurso de agradecimento, lembrou que anos atrás foi para o Havaí para fazer uma participação na série e que nunca poderia imaginar o que o destino lhe reservaria. É muito difícil encontrar casos de atores ou atrizes que "pegaram o bonde andando" e acabaram nos passando a impressão de que sempre estiveram ali, e esse é o caso de Emerson.

    Porém, nem tudo são flores. Ele acabou ganhando por uma temporada onde nem teve suas melhores intervenções, algo bastante comum no Emmy. Há alguns anos, quando Emerson estava tinindo em Lost, Terry O'Quinn recebeu o reconhecimento tardio pelo seu John Locke. O mesmo acontece agora, já que o ano parecia ser de Aaron Paul (ótimo em Breaking Bad), mas seu dia de glória ficará para depois, porque dessa vez repararam outra injustiça. Quem sabe no ano que vem dá Paul no lugar de outro que merecesse mais e o círculo vicioso continue por toda a eternidade.

    A maior surpresa da noite veio com Cherry Jones sendo eleita a melhor atriz coadjuvante por 24 Horas. A categoria era disputadíssima, mas o favoritismo recaía sobre a vencedora do ano passado Dianne Wiest e sobre Rose Byrne, que na verdade é co-protagonista em Damages. Ainda assim, alguns apostavam em mais um prêmio para a ótima Chandra Wilson de Grey's Anatomy ou mesmo para Hope Davis, que fez um belo trabalho em In Treatment. Corriam por fora Sandra Oh, que não teve a melhor de suas temporadas em Grey's, e justamente Cherry Jones, por sua presidente Alison Taylor.

    Era difícil acreditar na vitória dela, já que 24 Horas parece ter perdido muito de seu respeito após uma sexta temporada que beirou o ridículo, mesmo que a sétima tenha mantido um bom nível. Jones deu vida a uma personagem que irritou a muitos telespectadores da série, por sua postura teimosa em excesso. Por isso mesmo acho justa a sua vitória. Se a presidente Taylor irritou tanta gente foi porque sua intérprete viveu apaixonadamente as contradições de sua personagem. Vale lembrar que Cherry Jones é uma aclamada atriz de teatro e que seu sucesso nessa área pode ter influenciado na hora da votação.

    A partir daqui, só bicampeonatos. Glenn Close, cuja vitória era uma certeza, fez um simpático discurso de agradecimento, no qual fez questão de citar a importância de sua companheira de cena Rose Byrne e revelou que considera Patty Hewes o grande personagem de sua carreira. Declarou isso com uma pontinha de ameaça, no entanto, ao soltar um "dependendo do que os roteiristas fizerem nessa próxima temporada...". Não há muito o que falar sobre Close, uma atriz de primeira linha, que recebe agora no Emmy o reconhecimento que outra Academia, a de cinema, não soube lhe dar.

    O bicampeonato de Bryan Cranston como melhor ator deixou muita gente revoltada, mas ele (bem como quem nele votou) não tem a menor culpa se a série é pouco vista. O trabalho dele é tão bom quanto o de seus principais concorrentes, apenas não tem a mesma visibilidade entre o público em geral. Aqui também a escolha do episódio de inscrição parece ter sido essencial, já que seu Walter White pôde ser visto em cenas fortes com emoções bastante contrastantes.

    Se o Emmy finalmente pagou o que devia a Michael Emerson, continuará devendo um Emmy ao brilhante Hugh Laurie, da série mais assistida no mundo, House. Vitórias justas, repetidas e intercaladas de James Gandolfini (The Sopranos), James Spader (Boston Legal/Justiça Sem Limites) e agora para Cranston vêm impedindo que o inevitável aconteça. Mais cedo ou mais tarde ele vai acabar ganhando. Mesma sorte não devem ter os também ótimos e merecedores Gabriel Byrne (In Treatment) e Michael C.Hall (Dexter). O primeiro porque sua série pode não mais retornar. O segundo porque ganhar um prêmio por um personagem que é um serial killer é algo bastante complicado. Anthony Hopkins por Silêncio dos Inocentes no Oscar é uma grata exceção à regra.

    Como também era previsto, Mad Men conquistou o bicampeonato entre as séries dramáticas. Uma vitória com a marca da AMC, que vai roubando da HBO o posto de canal fechado caprichoso e quase infalível na produção de séries. A verdade é que em termos de produção, direção e roteiro, Mad Men e Breaking Bad estão um patamar acima de praticamente todas as outras, como esteve The Sopranos por muito tempo. Aos olhos dos telespectadores, talvez isso não seja assim tão fundamental, mas convém lembrar que quem vota no Emmy é gente que trabalha na indústria de televisão, cujo olhar é, ou deveria ser, mais treinado para captar certos detalhes.

    Mad Men, que assim como 30 Rock dominou a categoria de roteiro em drama, viu um de seus 4 scripts indicados triunfar. A surpresa ficou com E.R. voltando a ganhar um Emmy, dessa vez de direção. A despeito da qualidade do episódio, um prêmio claramente sentimental, para uma antiga favorita da Academia que se despediu depois de quase 2 décadas no ar.

    O erro de quem critica a nova vitória de Mad Men é acreditar que estão esnobando as séries mais populares só de birra. A verdade é que para o Emmy seria interessantíssimo ver House ou Lost saírem como vencedores. Mas para fazer frente a Mad Men e outros programas de canais fechados, essas séries terão de voltar ao patamar de suas primeiras temporadas, quando eram tão brilhantes quanto. Para 2010 a perspectiva de que uma série popular vença é maior. Além de sempre haver a possibilidade de uma série estreante ser arrebatadora (lembremos que Lost ganhou o Emmy logo em seu ano de estreia), House ensaia um renascimento após uma temporada bastante irregular e Lost prepara o seu aguardado Grand Finale. Nada impede que no final da cerimônia do ano que vem os fãs de séries pouco vistas é que estejam reclamando que o hype de uma série muito assistida prevaleceu no final...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

MAD MEN 3x1: "Out of Town"

Comentário de episódio exibido no dia 16 de agosto nos EUA


A segunda temporada de Mad Men terminou com duas cenas ao mesmo tempo fortes e delicadas. Em uma delas, Peggy Olson revelou a Pete Campbell que havia engravidado dele e que tinha passado o bebê adiante. Se nós telespectadores já fomos pegos de surpresa com a gravidez bizarramente bem escondida (não sei vocês, mas o mais perto que cheguei de adivinhar algo foi ter a impressão de que a atriz tinha engordado um pouco), imagine só o que sentiu o pai da criança, que momentos antes tinha deixado claro a quedinha que tem pela moça. O alívio de Peggy em quebrar o segredo contrastava com a angústia de Peter em lidar com a novidade. E uma mudança na dinâmica entre eles parecia de antemão escalada como um carro-chefe da terceira temporada.

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    Na outra cena, Don Draper descobre que Betty está à espera de mais um herdeiro. O que em outras séries ganharia ares de redenção, com lágrimas e sorrisos incontidos e possíveis palpites sobre o sexo da criança, em Mad Men ganhou a abordagem mais natural possível. Afinal, um casamento estremecido não é o melhor cenário para se trazer uma nova vida ao mundo. Com a cena, não ficava claro se Draper estava perdoado pelas suas puladas de cerca, e mais do que isso, pela indiferença com que tratava as inquietações silenciosas da esposa. Mas que Betty teria de aceitá-lo de volta à sua vida para aguentar essa barra, não havia dúvidas. Lembremos também que naquela época seria um escândalo que um homem engravidasse a eposa com quem já tinha dois filhos e se separasse dela em plena gestação do terceiro. Mais do que um gancho para a temporada seguinte, tínhamos aí um desfecho para a trama principal do segundo ano de Mad Men.

    Na volta aos trabalhos, vemos Don sonhando acordado, como se estivesse presenciando de sua cozinha o ato inaugural de sua vida. A mãe adotiva de Don (ou melhor, de Dick Whitman, sua verdadeira identidade) dá a luz a um bebê natimorto. Já sua mãe biológica, uma prostituta, arcou com uma gravidez indesejada, ao aceitar transar sem preservativo por uns trocados a mais do que o "preço de tabela". Nove meses depois estaria parindo, tremendo de dor e ameaçando para quem quisesse ouvir que ia arrancar as partes íntimas daquele cliente e fritá-las no óleo quente. Desnecessário dizer que criar o bebê estava fora de cogitação para ela. A parteira então bate à porta dos Whitman, dando novo lar à criança abandonada. A mãe de criação de Don reage quase hipnoticamente ao argumento "eu lhe disse que Deus lhe daria outra criança", e segue com o bebê para dentro de casa. O resto é história.

    Oras, ele foi um bebê passado adiante. Como poderia abandonar o seu? E ao sair do transe com o leite derramando no fogão, Don volta para o quarto, onde Betty sofre os efeitos da gravidez, já com um barrigão à mostra. Não se sabe ao certo quanto tempo passou (a não ser que você saiba ler uma barriga de grávida, o que, peço desculpas, não é minha especialidade), mas fica claro que o afeto entre o casal foi recuperado. A dedicação do "pai do ano" seria colocada à prova no dia seguinte, quando Don viajaria acompanhado de Salvatore para uma reunião de trabalho em Baltimore. No avião (onde todos fumavam e bebiam loucamente, claro), a aeromoça quase se jogou no colo dele e praticamente intimou Draper e seu colega a jantarem com ela, uma outra aeromoça e o piloto da aeronave. Se durante a refeição Sal não deu muito bola para a coleguinha (embora também não tenha dado bola para o piloto), Draper não fez muito esforço para se livrar de Shelly, a assanhada.

    Quando ela diz que é noiva, mas que está tentada porque essa pode ser sua "última oportunidade", o incorrigível Don arremata com "Eu sou casado. Sempre haverá oportunidades". O resto é aquilo que você já estava esperando. Com uma pequena reviravolta: soa o alarme de incêndio do hotel. Mas o que pra eles foi um pequeno contratempo, para certa pessoa gerou uma bela de uma saia justa. Enquanto Don se dava bem em outro andar, Salvatore chama alguém para consertar o ar-condicionado do seu quarto e, numa prova de que o tal de gaydar precede a TV a cores, é agarrado pelo funcionário do hotel. O coito homossexual tão sonhado por ele é interrompido pelo outro tipo de fogo. E então aparece Don, pela escada de incêndio, chamando Salvatore e se deparando com seu amigo e um outro rapaz "se recompondo" a fim de abandonar o hotel. Don nada comenta. Por enquanto.

    Abro parênteses aqui para comentar algo que sempre me empolga na série: o gênio criativo de Draper. A reunião em Baltimore é com a London Fog, uma empresa tradicional, que vende capas de chuva. Primeiro Don mostra seu já conhecido poder de persuasão. O filho do dono da empresa quer convencer o pai a diversificar, vendendo chapéus, guarda-chuvas e bolsas. Don é rápido e conciso: a London Fog é um nome que vem à cabeça do consumidor quando ele pensa em capas de chuva. O negócio pode ter anos bons e anos ruins, mas vai se manter. Afinal: vai chover. Isso sem contar a brilhante ideia que Don tem para a nova campanha da marca, a qual é apresentada na volta para NY, dentro do avião. Ideia essa apresentada em um momento onde Sal (e muitos telespectadores, aposto) suaram frio, achando que Don o abordava para perguntar sobre o que vira na noite anterior. Não foi dessa vez. Ao menos por enquanto.

    Contrariando minhas expectativas, Pete e Peggy não dividiram cenas nesse episódio de estreia. O processo de amadurecimento dele, que parecia iminente, ou foi adiado, ou desviado por algo que tenha acontecido nesses meses que a série não mostrou. Algo que pode vir à tona para nós reles telespectadores num futuro próximo. Pelo contrário, o episódio mostrou mais uma vez o quanto a ambição de Campbell o torna imaturo. Convidado a assumir o cargo de diretor de contas da Sterling Cooper e aconselhado a manter discrição, ele se encheu de garbo, cantou vitória para a esposa e nos presenteou com uma patética (e deliciosa) cena na qual divide um elevador com Ken Cosgrove. Com ar superior, Pete elogia o trabalho do colega e diz que faz questão de recomendá-lo sempre, já dando a entender que a sua opinião teria um peso maior dali para frente.

    Mal sabia Campbell que Cosgrove também havia sido promovido para o mesmo posto e que eles dividiram ao meio os clientes da agência. Feliz e satisfeito, Ken acabaria confrontado por Pete, que usa então o argumento mais feio, bobo e cara de melão possível: "Você não deveria querer essa promoção, porque você não é bom". Se há um porém nesse episódio, talvez seja o fato do Campbell que nele aparece não tenha demonstrado nenhuma mudança com relação ao Campbell que tomou uma verdadeira porrada no encerramento do episódio anterior. Mas como nada é entregue de mão beijada à audiência de Mad Men, convém esperar o desenrolar da temporada antes de carimbar isso como um deslize.

    Também algumas subtramas ganharam espaço, todas envolvendo conflitos profissionais dentro da agência, recém-adquirida pelos britânicos da Putnam, Powell and Lowe. Os funcionários da Sterling Cooper continuam temendo demissões, como a do antigo gerente de contas, que deu um "showzinho" na hora de se despedir. Com direito a ameaças proféticas e vasos derrubados das mesas das secretárias da firma. Roger Sterling e Bert Cooper ainda parecem estar tentando se acostumar à invasão britânica na agência. Menos por revolta e mais por lá figurarem sem muitos poderes. Como se diz por aí, eles agora mandam tanto quanto, ironia à parte, a rainha da Inglaterra. Sterling jocosamente dá de ombros por não ter suas opiniões levadas em consideração: "eles não entendem o nosso sotaque".

    E unindo as categorias "secretárias" e "invasão britânica", aparece um novo personagem, John Hooker, que parece que vai dar muita dor de cabeça. Ele se diz "representante" da agência-mãe e se recusa a ser tratado como um secretário, pedindo até para funcionárias encantadas com seu sotaque fazerem seu trabalho de datilografia. Ao ser chamado informalmente de John por Joan, ele exige ser tratado como Mr.Hooker. Ela, meio que pra se livrar desse chato, lhe arranja o escritório do diretor de contas demitido. Para desgosto de John (chamei pelo nome de propósito), seu superior decide que a ideia de uma sala para receber os conterrâneos é boa, mas que ele deve mesmo é ficar do lado de fora, na porta... como um secretário. Ao reclamar dele para Joan, Peggy traz à tona o brilhante apelido que o rapaz ganhou nos bastidores da firma: Moneypenny, que pra quem não ligou o nome à pessoa, é a secretária de M., chefe de James Bond.

    Tomando por base o primeiro episódio da temporada, ainda não dá pra saber qual será o principal enredo da trama. Mas levando em consideração que nas outras temporadas também não sabíamos onde Matthew Weiner (o criador e manda-chuva do programa) queria chegar, e que no final ele sempre nos levou a tramas muito bem resolvidas, é melhor nem se preocupar e apenas curtir mais um trecho dessa viagem pelos charmosos anos 60. A audiência da série é modesta e dificilmente subirá a essa altura dos acontecimentos, mas fica a impressão de que tanto a crítica, quanto sua fiel base de fãs continuarão satisfeitos. E se você não gosta da série e não consegue entender porque a chuva de elogios a ela continua caindo, é bom se conformar. Não há o mínimo sinal de estiagem no ar. Como profetizou Don Draper: vai chover.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Emmy 2009: Tina Fey contra o resto

Dando continuidade aos textos sobre o Emmy 2009, Ricardo Henriques agora analisa as possibilidades e chances de atores e atrizes para uma indicação nas categorias de comédia, no Emmy 2009. Confira!
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Por Ricardo Henriques
Para o Dude News

Se a luta por uma vaga entre os indicados por séries dramáticas se mostra truncada, não se pode dizer o mesmo sobre os atores e atrizes que concorrem por comédias. Primeiro que o "esqueleto" das listas já parece pré-estabelecido. Segundo que para completá-las, as opções não são tantas assim. Seria exagero dizer que as séries cômicas vivem um período de baixa na TV americana, até pelo número de bons produtos no ar. Mas o fato é que as comédias têm dado menos audiência e lucro que os dramas. Não à toa várias séries do gênero passam o ano inteiro brigando contra um cancelamento. Quem sobrevive, automaticamente passa a ter chances de passear no tapete vermelho do Emmy. Onde fatalmente encontram (e até o momento levam uma surra de) Tina Fey e 30 Rock.

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    Alec Baldwin (Jack Donaghy, 30 Rock), Steve Carell (Michael Scott, The Office), Charlie Sheen (Charlie Harper, Two and a Half Men) e Tony Shalhoub (Adrian Monk, Monk). Difícil imaginar que esses quatro não estejam amanhã na lista de indicados a melhor ator. Mesmo que seja quase tão difícil quanto encontrar alguém que goste dos quatro ao mesmo tempo. Seriam cinco nomes certos se Curb Your Enthusiasm tivesse tido uma temporada no ano passado, mas Larry David só voltará à lista na próxima edição do Emmy. No ano passado, quando ainda eram apenas cinco os indicados, Lee Pace (Ned, Pushing Daisies) substituiu David. Com a série já cancelada, só um espírito de protesto de fãs fiéis pode fazer com que Pace, cuja atuação não tem nada de extraordinário, repita a indicação.

    Abrem-se então duas vagas. Uma delas deve ser de David Duchovny (Hank Moody, Californication), que foi esnobado no ano passado. Se ele não for indicado dessa vez, é porque o Emmy realmente não gosta da série. O favorito à sexta vaga é Jim Parsons (Sheldon Cooper, The Big Bang Theory). A série se firmou na grade da CBS (reitero: uma grande honra para qualquer comédia atualmente) e a campanha em torno do nome dele é forte. Seria um bem-vindo sopro de novidade. E digo isso mesmo sem ser fã da série.

    Quem parece ter mais chances de derrubar Parsons é Kevin Connolly (Eric Murphy, Entourage). Ele chegou a figurar entre os indicados ao Golden Globe e esse ano teve visibilidade no cinema, atuando em um elenco com grandes estrelas na comédia romântica Ele não está tão a fim de você. Saindo daí, qualquer outra indicação pode ser considerada uma surpresa. Zach Braff (Dr. John Dorian) pode ser lembrado por sua despedida de Scrubs. Zachary Levi (Chuck Bartowski, Chuck) poderia ser impulsionado pela campanha "Save Chuck"? Kyle Bornheimer (Sam Briggs) poderia aparecer mesmo com o cancelamento de Worst Week? Algum dos astros de The Flight of the Conchords pode aparecer na lista? Improvável. Nessa categoria, o óbvio deve reinar.

    Entre as mulheres, Tina Fey (Liz Lemon, 30 Rock) também não deve mudar muito de companhias. No máximo, terá concorrência mais qualificada. E isso se deve muito pela chegada de Toni Collette (Tara, United States of Tara) e suas várias personagens em uma só. A série pode não ter explodido, mas o trabalho de Collette é impressionante. Em termos de atuação, muito superior ao de Fey, mas todos sabem que não é exatamente a técnica que conta na hora das premiações. Mary-Louise Parker (Nancy Botwin, Weeds), que durante algum tempo se limitou a morder canudinhos e fazer cara de assustada, voltou a ter um bom material e a mostrar serviço. Pode até sonhar com um Emmy para colocar ao lado de seu Golden Globe.

    Ugly Betty já saiu da moda, mas America Ferrera (Betty Suarez) não, devendo manter sua vaga entre as indicadas. Julia Louis-Dreyfus (Christine Campbell, The New Adventures of Old Christine) também. Algo justo para alguém que, se não venceu, ao menos não foi noucateada pela "Maldição de Seinfeld". Até pouco tempo atrás, Christina Applegate (Samantha, Samantha Who?) parecia também um nome consolidado, mas a série não emplacou, o que pode deixá-la de fora. Nesse caso surge forte o nome de Amy Poehler (Leslie Knope, Parks and Recreation), muito mais pelo destaque recebido em Saturday Night Live (que ela deixou durante essa temporada) do que pelos fracos seis episódios exibidos de seu novo programa.

    Parece quase impossível, mas seria interessante ver o humor cáustico de Sarah Silverman (Sarah Silverman, The... er... Sarah Silverman Program) reconhecido. Anna Friel (Charlotte "Chuck" Charles) pode ser lembrada se Pushing Daisies tiver deixado muita gente com fortes crises de saudades. Mais provável seria ver uma dasDesperate Housewives completar a lista. Felicity Huffman (Lynette Scavo) sempre tem mais chances, por ser, de longe, a atriz mais talentosa do grupo. A única das quatro que não foi indicada ao Emmy ainda é Eva Longoria (Gabrielle Solis), justamente a atriz mais popular e que mais evoluiu entre as quatro jovem senhoras.

    Entre os atores coadjuvantes, também há uma constante. Ainda defendendo o cinturão, o tricampeão Jeremy Piven (Ari Gold, Entourage) deve voltar a ter pela frente Rainn Wilson (Dwight Schrute, The Office), Jon Cryer (Alan Harper, Two and a Half Men) e Neil Patrick Harris (Barney Stinson, How I Met Your Mother). Lembrando que o último citado estará envolvido no Emmy de qualquer forma, pois será o apresentador da cerimônia. Entourage pode voltar a ter duas indicações nessa categoria, se Kevin Dillon (Johnny "Drama" Chase) for novamente lembrado. E se John Krasinski (Jim Halpert, The Office) não aparecer finalmente entre os indicados, mesmo depois do talento mostrado na última cena da temporada, é porque o Emmy adora pegar alguns coitados para Cristo e não indicá-los nem sobre tortura.

    Quem merece e pode voltar a ser indicado é Justin Kirk (Andy "El Andy" Botwin, Weeds), que fez sua melhor temporada na série. As categorias de coadjuvante servem para testar se 30 Rock pode aumentar ainda mais seu domínio nas premiações, levando Tracy Morgan (Tracy Jordan) ou Jack McBrayer (Kenneth Parcell) a uma indicação. Aparecem correndo por fora John Corbett (Max, United States of Tara) e Chi McBride (Emerson Cod, Pushing Daisies).

    Jenna Fischer (Pam Beesley, The Office) parece não só nome certo, mas também a principal favorita ao prêmio de melhor atriz coadjuvante em série cômica. Outras com boas chances são as sempre lembradas veteranas Holland Taylor (Evelyn Harper, Two and a Half Men) e Vanessa Williams (Wihelmina Slater, Ugly Betty). Mas ser favorita nessa categoria não quer dizer muita coisa, já que nos últimos dois anos Jaime Pressly (Joy Turner, My Name is Earl) e Jean Smart (Regina Newly, Samantha Who?) correram por fora e levaram. Pressly não foi lembrada no ano seguinte e dificilmente voltará ao páreo agora que sua série foi cancelada. O desafio de Smart é também superar um cancelamento para se manter na lista em 2009.

    Se alguém de Pushing Daisies merece uma indicação é a encantadora Kristin Chenoweth (Olive Snook), o que não parece assim tão longe de se realizar. E se 30 Rockmerece estender seu domínio, o nome certo para tal é Jane Krakowski (Jenna Maroney) que, usando mesmo termo que dediquei a Chandra Wilson no texto sobre as indicações em série dramática, virou uma ladra de cenas compulsiva nessa temporada. Rosemarie Dewitt (Charmaine, United States of Tara), que para muitos foi injustamente esnobada pelo Oscar, onde poderia ter concorrido como coadjuvante por O Casamento de Rachel, pode ganhar aqui no Emmy a sua compensação.

    Elizabeth Perkins (Celia Hodes, Weeds), mesmo tendo feito uma temporada lamentável, sempre tem chances. Assim como Conchata Ferrell (Berta, Two and a Half Men), que já conseguiu duas indicações quando pouca gente esperava. Fora isso, não será surpresa se alguma atriz do elenco de Saturday Night Live aparecer na lista. A favorita nesse caso seria Amy Poehler, por ter sido a principal estrela do programa até se despedir dele. E vale lembrar que se Tina Fey fez sucesso estrondoso como a então candidata a vice-presidente americana Sarah Palin, Poehler não ficou muito atrás no papel de Hillary Clinton, a atual vice-presidente americana.

    As indicações serão anunciadas amanhã, às 9h30 no horário de Brasília, com transmissão do canal a cabo E!, e a cerimônia de entrega acontece em 20 de setembro

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Emmy e a Pedra Filosofal

Nosso amigo e colaborador Ricardo Henriques está de volta com uma análise das possibilidades e chances de atores e atrizes para uma indicação nas categorias de drama, no Emmy 2009. Lembramos que os indicados serão revelados na próxima quinta-feira, dia 16. E você confere a lista completa aqui, logo após sua divulgação.
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Por Ricado Henriques
Para o Dude News

Decifrar a cabeça dos votantes do Emmy sem ter acesso aos bastidores da indústria é tarefa para maluco. O fato de muitos deles serem bastante previsíveis em suas escolhas facilita na busca dos favoritos, mas dificulta muito na hora de prever as zebras. Quando os figurões de cada categoria reúnem a maioria dos votos, podem acabar dividindo a "bolada" e abrindo espaço para que apareça alguém que está voando fora do radar. Se bem que nas categorias de atuação em série dramática, em 2009 a tarefa de correr por fora é muito, muito ingrata.

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    Entre os protagonistas masculinos, os ótimos Jon Hamm (Donald Draper, Mad Men), Gabriel Byrne (Dr. Paul Weston, In Treatment), Hugh Laurie (Dr. Gregory House,House) e Michael C. Hall (Dexter Morgan, Dexter) parecem nomes certos. Todos com críticas favoráveis e já indicados no ano passado. James Spader (Alan Shore,Boston Legal/Justiça Sem Limites), por incrível que pareça, não é considerado nome certo. Muito porque Boston Legal acabou em dezembro passado e ninguém sabe se isso afetará a memória de quem sempre votou nele. Mas para mim é difícil imaginar que alguém que ganhou 3 Emmys pelo mesmo personagem não seja lembrado justamente em seu último ano na briga.

    Completando a lista de indicados de 2008, tivemos o atual campeão Bryan Cranston (Walter White, Breaking Bad). Sua vitória foi uma surpresa, embora seu trabalho fosse digno de tal honraria. A dúvida para 2009 é se Breaking Bad se firma como uma queridinha do Emmy. Mas mesmo que a série ainda não voe mais alto esse ano, pode ser reconhecida através da valorização de seu protagonista. Foi assim com House e Dexter antes de ganharem indicações a melhor série. Aí você pensa... tudo bem então, repetem-se os indicados do ano passado, já que o Emmy é meio chegado numa monotonia... mas Kiefer Sutherland (Jack Bauer, 24 Horas) está de volta, após um ano de recesso forçado. E Sutherland foi indicado por todas as temporadas da série, até mesmo pelo desastroso sexto ano. Além de ser um cara querido pela indústria, teve cenas de alto teor dramático, com Jack Bauer pagando seus pecados a rodo. Mas se ele entrar, quem sai?

    Diante de tal encruzilhada, fica difícil a vida pra quem tenta um efeito-surpresa. O nome mais cogitado para tal façanha seria o de Simon Baker (Patrick Jane, The Mentalist), por ser o personagem-título do maior hit entre as novidades da temporada. Mais interessante seria ter Michael Chicklis (Vic Mackey, The Shield) celebrando o final de sua série com uma indicação. Outras possibilidades seriam Bill Paxton (Bill Henrickson, Big Love), Kyle Chandler (Eric Taylor, Friday Night Lights) e Jonathan Rhys Meyers (Henry VIII, The Tudors). Mas foi numa situação parecida que há alguns anos Denis Leary (Tommy Gavin, Rescue Me) deixou Hugh Laurie e James Spader de fora para ganhar uma indicação ao Emmy que até hoje ele deve esfregar os olhos para acreditar.

    Entre as atrizes dramáticas, são duas as certezas: Glenn Close (Patty Hewes, Damages) e Sally Field (Nora Walker, Brothers & Sisters). Kyra Sedwick (Brenda Johnson, The Closer) também costuma figurar na lista e não deve ficar de fora. Anna Paquin (Sookie Stackhouse, True Blood) chega para a briga com a moral de quem já tem um Oscar na estante, fora ter vencido o Golden Globe com a mesma personagem. Há de se ressaltar que Sookie poderia ser apenas uma loirinha caipira suspirando pelos cantos entre um ataque bizarro e outro, mas Paquin acertou no tom, fugindo com força dessa armadilha.

    Quem também anda provando que não é apenas um rostinho bonito é January Jones (Betty Draper, Mad Men). Seu personagem cresceu na segunda temporada, ela deu conta do recado e o hype da série deve levá-la à sua primeira indicação. Jones roubou as atenções de Elisabeth Moss (Peggy Olson), que a princípio tinha a personagem feminina principal no programa, mas que ainda pode ser lembrada pelos acadêmicos. Outra boa opção para a sexta vaga entre as indicadas é Jeanne Tripplehorne (Barb Henrickson, Big Love). Além de seu bom desempenho, não tem mais a concorrência de suas "sister-wives", que esse ano concorrem como coadjuvantes. Se havia divisão nos votos entre as três, Tripplehorne pode ter tirado a sorte grande.

    Fica sempre a esperança de que Mary McDonnell (Presidente Laura Hoslin, Battlestar Gallactica) tenha seu talento reconhecido. E também fica sempre o medo de que os votantes optem pela falta de imaginação indicando a boa, mas mal aproveitada Holly Hunter (Grace Hanadarko, Saving Grace) ou a eficiente, mas não muito além disso Mariska Hargitay (Olivia Benson, Law & Order: Special Victims Unit). Parece que dessa vez a concorrência aumentou e não teremos indicações baseadas apenas e tão somente no hype de uma série. Ou seja, por mais que tenham evoluído, Evangeline Lilly (Kate Austen, Lost) e Ellen Pompeo (Dra. Meredith Grey, Grey's Anatomy) correm muito por fora.

    Entre os coadjuvantes, o leque de opções também é vasto. Na categoria masculina, William Shatner (Denny Crane, Boston Legal) deve ter o seu canto do cisne garantido. Outro veterano, John Mahoney (Walter, In Treatment) teve grande atuação e chega com boas chances até de levar o Emmy para casa, coisa que não conseguiu quando também era coadjuvante, mas em uma série cômica, Frasier. Com o peso de seu nome e algumas boas cenas, William Hurt (Daniel Purcell, Damages) deve ser indicado, mesmo que seu personagem tenha feito menos barulho do que se esperava dele.

    Na crista da onda, Mad Men tem dois nomes interessantes, ao menos um deles deve ser selecionado: John Slattery (Roger Sterling) está cada vez mais à vontade e Vincent Kartheiser (Pete Cambell) vê suas chances aumentarem à medida que seu personagem vai sendo forçado a amadurecer, processo o qual deve seguir ainda mais forte na próxima temporada da série. Também com mais de um ator na briga aparece Lost. Suas figurinhas carimbadas sempre brigam por indicação: Michael Emerson (Benjamin Linus) e Terry O'Quinn (John Locke), com mais chances para o primeiro que, inexplicavelmente, ainda não ganhou o prêmio. Pelo destaque que teve na temporada, Jeremy Davies (Daniel Faraday) corre por fora, mesmo que Josh Holloway (James "Sawyer" Ford) e Henry Ian Cusick (Desmond Hume) tenham tido desempenhos mais consistentes.

    Se Mad Men e Lost falharem na conquista de uma dupla indicação na categoria, as portas se abrem para nomes que até bem pouco tempo atrás nem sonhavam com uma indicação. Aaron Paul (Jesse Pinkman), bem sucedido na tarefa de dividir cenas com o ótimo Bryan Cranston, pode selar de vez a aprovação dos acadêmicos a Breaking Bad. E Justin Chambers (Dr. Alex Kharev, Grey's Anatomy) pode aproveitar o destaque dado a seu personagem, a reboque da trama principal que girou em torno de seu par romântico.

    Quem pela primeira vez concorre como coadjuvante é Patrick Dempsey (Dr. Derek Shepherd, Grey's Anatomy). Não merece estar na lista final, mas como já ficou na lista de ator principal mesmo sem ter feito por onde, é bom ficar de olho nele. John Noble (Walter Bishop, Fringe) e Nelsan Ellis (Lafayette Reynolds, True Blood) seriam boas surpresas. Outra indicação improvável, mas possível pelo conjunto da obra, seria a de Max Von Sydow (Cardeal Von Waldburg, The Tudors), mesmo que ele tenha pouquíssimas cenas na série.

    A categoria mais disputada esse ano será a de atriz coadjuvante em série dramática. Temos no ar duas verdadeiras fábricas de candidatas a uma indicação: In Treatmente Grey's Anatomy. A primeira citada trouxe nessa temporada grandes atuações da atual vencedora do Emmy Dianne Wiest (Dra. Gina), de Hope Davis (Mia) e da revelação Alison Pill (April). As três têm boas chances de serem indicadas, embora só a veterana Wiest pareça nome certo. A tendência é de que Davis e Pill acabem "se matando" por uma vaga, e aí a primeira leva vantagem, por ser uma atriz relativamente conhecida.

    Grey's Anatomy pode não viver seus melhores dias, mas nessa categoria ainda é série de ponta. A maior dúvida é se os acadêmicos consideraram a atitude de Katherine Heigl (Dra. Isobel "Izzie" Stevens) no ano passado arrogante ou sincera. Ela considerou não ter tido um papel digno de Emmy naquela temporada e decidiu nem se inscrever. O que ganha ainda mais peso, se lembrarmos que no ano anterior ela tinha se sagrado vencedora na mesma premiação. Fato é que a trama principal girou quase sempre sobre sua personagem e, se depender de merecimento, ela vai sim ser lembrada. Se ela devia concorrer não como coadjuvante mas sim como principal, aí já é outra polêmica... A ótima Chandra Wilson (Dra. Miranda Bailey), uma ladra de cenas compulsiva, e Sandra Oh (Dra. Cristina Yang) podem voltar a marcar presença. Sendo que a segunda não fez por merecer esse ano.

    Damages tem uma protagonista concorrendo como coadjuvante, Rose Byrne (Ellen Parsons), e tem também uma atriz consagrada em um papel pequeno, Marcia Gay Harden (Claire Maddox). Big Love também traz duas candidatas de respeito, embora uma indicação simples já seria uma grande vitória para a série. Chloe Sevigny (Nicolette Grant) e Ginnifer Goodwin (Margene Heffman) pela primeira vez concorrem como coadjuvantes. Quem também estreia na categoria, após injustificáveis esnobadas quando concorria como principal, é Connie Britton (Tami Taylor, Friday Night Lights).

    Das que não têm concorrência interna, Rachel Griffiths (Sarah Whedon, Brothers & Sisters) parece ser o nome mais provável na lista. Ela que sempre está cotada para vencer, o que ainda não aconteceu. Candice Bergen (Shirley Schmidt, Boston Legal) também é sempre nome forte, embora menos do que seus colegas de elenco Shatner e Spader. Dependendo de como a sétima temporada de 24 Horas for recebida, aumentam as chances da respeitada Cherry Jones (Presidente AllisonTaylor) conseguir uma indicação.

    Achou pouco? Pois saiba que Christina Hendricks (Joan Holloway, Mad Men) bateu na trave no ano passado e esse ano pode chegar lá. Elizabeth Mitchell (Juliet Burke,Lost) é sempre uma ameaça. E se Breaking Bad cair nas graças do Emmy, Anna Gunn (Skyler White) faz um trabalho quase tão bom quanto de seu marido na série. E depois de citar tantas atrizes maravilhosas concorrendo como coadjuvantes, eu deixo uma pergunta: será que não chegou a hora de termos mais séries de drama protagonizadas por mulheres?

sábado, 27 de junho de 2009

EMMY 2009: Éramos cinco

A divulgação da lista com os indicados ao Emmy 2009 deve ocorrer no dia 16 de julho e a cerimônia de entrega deverá acontecer no dia 20 de setembro. Enquanto aguardamos, estamos preparando um podcast e uma série de posts especiais sobre o assunto. Por isso, convidamos o nosso amigo e colaborador Ricardo Henriques para escrever algumas linhas e comentar sobre quais as possibilidades e chances de indicação de algumas das séries nas categorias drama e comédia. Confira e também deixe seu palpite nos comentários!
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Por Ricardo Henriques
Para o Dude News

Se os votantes optarem pela mesmice na hora de apontar os indicados ao Emmy 2009, ainda assim teremos uma novidade: a Academia de Artes e Ciências Televisivas resolveu estender mais uma faixa de areia ao sol para as estrelas da TV americana. Agora são seis os nomes nas listas finais das principais categorias da premiação, o que já havia acontecido em algumas delas nas últimas temporadas, em decorrência de empates nas votações. Com o nível da programação bastante alto, a mudança sutil parece uma boa ideia. Bem ao contrário da loucura anunciada nos últimos dias pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que escancarou seu desespero por uma melhor audiência do Oscar (bem como sua ganância por mais dinheiro para os grandes estúdios de Hollywood) ao aumentar para dez os indicados a melhor filme.

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    Na categoria de melhor série dramática, a briga por uma indicação continuará muito intensa, mesmo com uma vaga a mais em jogo. Mad Men, vencedora do ano passado, continua por cima e fatalmente estará mais uma vez entre as finalistas. Como também é bastante provável que, em suas boas e aclamadas segundas temporadas, Damages e In Treatment sejam escolhidas. A julgar pelo histórico recente da premiação, quem também não deve ficar de fora é Boston Legal (Justiça Sem Limites), que traz consigo o bônus de ter tido sua última temporada, já que o Emmy adora uma despedida calorosa. O que não firma série de Alan Shore e Denny Crane entre as seis é que a trama se encerrou no final do ano passado e pela primeira vez não se apresentará fresquinha na memória dos votantes. Para tentar surpreender as quatro citadas, ou pelo menos arrancar um dos dois postos restantes, está armada a tradicional briga de foice no escuro.

    Embora Dexter pareça consolidada entre as prediletas dos prêmios de TV, sua temática politicamente incorreta (ao cubo) e o grande número de séries de canais fechados na disputa podem acabar retalhando (com trocadilho) suas chances. O que seria, a meu ver, uma injustiça. Quem pode voltar às graças da Academia é 24 Horas, que depois de uma sexta temporada horrorosa voltou a mostrar serviço esse ano. O programa sempre foi bem visto e valorizado pelos acadêmicos, mas nem sempre quem pula fora do radar deles consegue retornar. Outra que já foi figurinha carimbada e hoje parece não ter o mesmo prestígio é Grey's Anatomy. Os salientes médicos de Seattle Grace podem ser lembrados pelo final de temporada com fortes emoções. Mas não deveriam, já que em boa parte da temporada a série flertou (antes tivesse apenas flertado, já que foi pra cama, namorou firme, noivou, casou, procriou, abriu conta conjunta e tudo mais) com um arco dramático à Ghost Whisperer.

    Lost teve um ano morno, que serviu muito mais como preparação para o (tenho fé, ainda que me considere um homem da ciência) grand finale de 2010. Quem não acompanha mais a série dificilmente pega o fio da meada e isso é sempre um problema. Mas a escolha de bons episódios (para quem não sabe, séries e artistas inscrevem determinados episódios para que tenham suas candidaturas consideradas), que devem funcionar bem até mesmo fora do contexto, pode ser o trunfo para a indicação. Quem parece ter perdido força é House, que teve uma temporada bastante irregular. Mas sua boa audiência e sua enorme base de fãs pode carregar a série nas costas.

    Friday Night Lights vem sempre batendo na trave (ainda que o futebol deles seja o outro). Nos últimos anos ganhou prêmios da crítica e figurou entre a lista preliminar (quase sempre vazada de forma não-oficial) de dez candidatas ao prêmio principal. Será que chegou a hora dos Dillon Panthers? Parece complicado, pois a série ficou meio escondida com uma temporada reduzida, que passou primeiro na TV a cabo e só depois na TV aberta. Das novatas, a única que parece ter cacife para ser indicada é True Blood. Mas vampiros e cenas quentes a rodo atraem tanto fiéis seguidores quanto torcidas de nariz fervorosas. Série talvez seja exótica demais para o Emmy e tenha melhor sorte no Golden Globe, onde já estreou com uma vitória de melhor atriz para Anna Paquin.

    Big Love (Amor Imenso) sempre está voando abaixo do radar e acaba surpreendendo alguns quando lembrada, o que pode voltar a acontecer em 2009. Alguns programas cruzam os dedos para receber o carinho que ainda não veio dos acadêmicos (e que, sinceramente, não parece estar por vir): Brothers & Sisters, com seu retrato bem humorado dos valores da família americana; The Tudors, com sua requintada produção histórica; e Battlestar Gallactica, com sua segmentada, porém apaixonada, legião de fãs de ficção-científica. Também por fora corre Breaking Bad, que deu Emmy de melhor ator a Bryan Cranston no ano passado, mas que continua tendo pouca relevância no cenário televisivo.

    Entre as comédias, difícil imaginar que o reinado de 30 Rock esteja para acabar. Lá estará a série de Tina Fey novamente perfilada ao lado da também consagrada The Office. A bacana Entourage e a por vezes rasteira, mas sempre hilária Two and a Half Men também parecem nomes fortes. O canal a cabo Showtime tem três boas concorrentes à lista final, mas a força de uma pode acabar anulando a outra. A que mais merece uma indicação é Weeds, que se reencontrou à beira do mar (e, obviamente, se manteve em meio à maresia) na última temporada.

    Californication também teve ótimos momentos, mas agora já não tem mais o verniz de novidade, que costuma fascinar alguns votantes. Quem não merece, mas pode acabar indicada justamente por esse tal verniz é United States of Tara, que não engatou a terceira marcha. Mas ambas podem ter seu reconhecimento canalizado apenas para seus astros David Duchovny e Toni Collette, abrindo espaço para séries mais veteranas como Ugly Betty ou Scrubs, mesmo que ser feia tenha saído de moda e que J.D. e sua turma nunca tenham sido exatamente queridinhos do Emmy.

    Prematuramente cancelada, Pushing Daisies pode ter seu canto do cisne, ou então ser considerada página virada por uma Academia que certamente se decepcionou ao tentar, em vão, salvar a genial Arrested Development no começo da década. Pouco (ou nada) conhecida no Brasil, Flight of the Conchords ficou entre as 10 no ano passado, tendo levado indicações importantes na área técnica, e pode pintar na lista. Se tais opções não forem do agrado da Academia, as Desperate Housewives estão sempre a postos, bonitas e perfumadas para entrar no tapete vermelho. E olha que esse ano não seria sem merecimento, já que o programa reencontrou o equilíbrio entre dramalhão e comédia. Correndo por fora, How I Met Your Mother e The Big Bang Theory geram ainda alguma esperança nos seus fãs. Mas é bom que estes esperem sentados. Mais chances que ambas parece ter Family Guy, embora a única animação indicada até hoje tenha sido Os Flintstones, no distante ano de 1961.