A temporada regular do mundo das séries chegou ao fim para 99% das produções, mas num ciclo que foi bem irregular para a grande maioria dos dramas (da tv aberta, pelo menos), as lembranças mais marcantes acabam girando em torno de algumas comédias e numa breve reflexão sobre duas boas novidades que, injustiçadas, infelizmente não terão continuidade.
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Considerando o pouco tempo livre que tenho, vejo muito mais séries do que deveria. E se por um lado a quantidade fica longe de representar qualidade, o volume acaba dando uma base de comparação melhor na hora de formar uma opinião minimamente equilibrada sobre o que foi realmente bom e o que foi ruim. Nesse contexto, dentre séries veteranas e novatas, a verdade é que dos dramas, poucos (como Breaking Bad, Mad Men, Sons of Anarchy e The Walking Dead, por exemplo) se salvaram nessa temporada 2010/2011.
Não falarei de todas que me decepcionaram, mas dá para destacar algumas. O 5º ano de Dexter, por exemplo, que ainda é uma das minhas séries favoritas, é praticamente de se jogar fora. Ainda que tenha começado com um belíssimo pano de fundo, se afundou num arco que empolgava pouco e que acabou de forma covarde sem trazer nada novo para seu singular protagonista. E o que dizer de House então, que mesmo tendo alguns bons episódios em seu 7º ano, resolveu jogar todo o lento e progressivo processo de mudança do médico genial e genioso no lixo? Sim, porque foi isso que David Shore e cia fizeram ao descontruir a imagem de misantropo que gerava alguma simpatia para criar, com o fim da temporada, o esboço de um cara que mais parece um maníaco depressivo irrecuperável e odiável.
E como falei de série médica, impossível não citar Grey’s Anatomy. Ao que parece, os elogios ao sexto ano da série e a audiência ainda sólida ao longo da 7ª temporada fez com que a tia Shonda Rhimes se acomodasse para cuidar de seus novos projetos. Assim, salvo raros episódios dignos de lembrança (entre eles o 15º, Golden Hour e o 18º, Song Beneath the Song), a temporada foi arrastada e com muitas histórias chatas (o arco do trauma da Cristina Yang, por exemplo, foi longo demais) que não emocionavam como outrora. Fora isso, o desfecho da temporada que colocou quase todos os personagens em encruzilhadas profissionais e morais empolgou bem muito menos do que poderia ou deveria.
Já no campo da dramédia, o novelão guilty pleasure Desperate Housewives até que mostrou certo gás ao longo de seu 7º ano com histórias movimentadas e cheias de pequenas reviravoltas. Pena que o principal gancho do encerramento tenha seguido uma linha tão preguiçosa do estilo, ‘Oh, esqueçamos nossas diferenças, temos um segredo em comum e precisamos ficar unidos como vizinhos’. Já Chuck, que milagrosamente acabou renovada para uma 5ª e provavelmente última temporada, teve até um início promissor com a trama envolvendo Mary Bartowski, a mãe do espião nerd, e as ações envolvendo a organização criminosa Volkoff (liderada pelo ex- 007 Timothy Dalton em participação especial na temporada). A lamentar aqui, o fato dos roteiristas terem ficado claramente perdidos depois da metade inicial da temporada sem saber o que fazer com uma história que parecia ter entrado num beco sem saída, mas que aos 44 do 2º tempo encontrou uma saída forçada, mas não menos curiosa e divertida para justificar a continuidade da série.
Do lado das comédias, se por um lado a piada de The Big Bang Theory tem gosto de repetição e previsibilidade (algo que, em menor escala, também já ocorre na ainda divertidíssima Modern Family), por outro a série ainda encontra espaço para, no fim da temporada, criar dinâmicas novas (Raj e Penny, por exemplo) que podem render situações novas e engraçadas na próxima. Agora, coisa fina, mas fina mesmo foram as temporadas de Community, The Office e Parks and Recreation. A primeira, que considero a melhor da atualidade, teve um 2º ano tão ou mais sólido, inteligente e divertido quanto o de estreia. Já The Office, que passou todo 7º ano vivendo sob a sombra da anunciada saída de Steve Carell, conseguiu sair do marasmo criativo que vinha dominando temporadas anteriores e, presenteando-nos com vários episódios memoráveis (como não lembrar do 16º, Threat Level Midnight, por exemplo?), ainda trouxe e um final cheio de participações especiais com ganchos promissores. Parks and Recreation por sua vez, já havia encontrado seu tom no segundo ano, mas foi mesmo nesse 3º que a série protagonizada por Amy Poehler realmente se estabeleceu como uma das melhores da com tramas bem mais divertidas e personagens que revelaram-se irrestivelmente mais carismáticos.
No terreno das injustiças (leia-se boas séries novas que não foram renovadas), destaques para duas que encerraram suas jornadas após 13 episódios. Uma delas, Lights Out, trouxe um drama absolutamente envolvente sobre os conflitos e bastidores do mundo do boxe através da saga de um ex-campeão dos pesos pesados que decide voltar aos ringues após 5 anos de aposentadoria. A outra, The Chicago Code, foi simplesmente a melhor surpresa no mundo das séries policiais. Ágil e com roteiros instigantes, a série de Shawn Ryan (The Shield) fez um mix imperdível sobre a política de Chicago e toda a corrupção moral e ética que envolve as estreitas relações de poder de um influente vereador ao passo em que mostra a luta de uma obstinada superintendente do departamento de polícia e seu homem de confiança para tentar livrar a cidade de mafiosos e afins.
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E vocês, como avaliam a temporada 2010/2011 de um modo geral?